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Bahia registra três pessoas baleadas por dia em julho

Dados se referem ao levantamento do Instituto Fogo Cruzado; o estado passou a ser monitorado como forma de coletar estatísticas sobre a violência armada

Imagem mostra capsulas de munição no chão

Foto: Foto: Divulgação/iStock

9 de agosto de 2022

Só no mês de julho foram registrados 131 tiroteios em Salvador e Região metropolitana (RMS) com ao menos 108 pessoas baleadas, sendo 84 mortas e 24 feridas. Ao analisar o número total, em média, três pessoas foram baleadas por dia em uma das 13 cidades da Bahia monitoradas pelo Instituto Fogo Cruzado.

Os dados fazem parte do primeiro balanço mensal do Instituto Fogo Cruzado no estado, que passou a ser monitorado em julho como forma de coletar estatísticas sobre a violência armada. O mapeamento é feito em parceria com a Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas.

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Em relação ao local onde ocorreram os tiroteios, os números apontam que a maioria foi durante operações ou ações policiais (37), que resultaram na morte de 25 pessoas e seis feridas. Um dos casos monitorados pelo Instituto é o de uma adolescente de 15 anos que ficou ferida após uma ação policial no bairro de Itinga, em Lauro de Freitas, região Metropolitana de Salvador.

O caso aconteceu no dia 20 de julho, quando a garota voltava da escola e estava conversando na rua com amigos. Segundo testemunhas, a polícia chegou no local e teria atirado. A adolescente tentou proteger a sobrinha de três anos quando foi atingida. Na ação, um adolescente de 14 anos também ficou ferido.

À Alma Preta Jornalismo, o cofundador da Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas e coordenador da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, Dudu Ribeiro, aponta que os dados revelam a condição dramática que vive a população baiana com a escalada da violência embasada no modelo de guerra às drogas, que atinge sobretudo a população negra que ocupa os territórios alvo das ações policiais. “A política de segurança pública da Bahia mais uma vez é revelada com sua alta capacidade de produzir mortes e não de proteger a população”, destaca Ribeiro.

Para Ribeiro, é preciso que o poder público reconheça as estatísticas produzidas pela sociedade civil e organizações para construção e adoção de políticas públicas efetivas para a segurança pública no Estado.

“É fundamental que o poder público reconheça a condição que esses dados estão demonstrando sobre a distribuição de tiroteios em Salvador e região metropolitana, reconheça a condição dramática de vida a que está submetida a maioria da população baiana e sobretudo a população negra e, a partir disso, adote políticas públicas de segurança baseado na ciência, produção de dados e na transparência sobre essas produções”, completa.

Mapa da Violência Armada

Conforme o boletim, das áreas mapeadas, Salvador lidera como a cidade mais afetada pela violência armada. Ao todo, foram 105 tiroteios com 67 mortos e 20 feridos. Em seguida aparece Camaçari, cidade da RMS, com 12 tiroteios, sete mortos e um ferido; e Vera Cruz, com três tiroteios e três mortos.

A diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado, Cecília Oliveira, analisa que a Bahia se localiza em um ponto estratégico para o tráfico de drogas e armas, o que gera uma maior disputa por territórios entre as facções.

“A Bahia, infelizmente, é um ponto muito atrativo em quem tem interesse em tráfico de drogas e armas porque fica, geograficamente, bem localizada quando a gente pensa nos mercados internacionais de tráfico de armas e de drogas. Ela está mais próxima dos mercados consumidores que estão na Europa, nos países da América do Norte e isso gera uma disputa entre facções que fica com esse olhar voltado para esse ponto estratégico dos seus negócios”, explica.

Sobre o perfil da violência armada, três agentes de segurança foram baleados nas áreas monitoradas, sendo que um morreu e dois ficaram feridos. Também foram registrados sete casos de ataques armados sob rodas, quando pessoas passam em carros atirando. Ao todo, nove pessoas foram baleadas, sendo que seis morreram e três ficaram feridas.

Em julho, três pessoas foram atingidas por balas perdidas, todas durante ações ou operações policiais. Nenhuma delas morreu. Em contrapartida, uma pessoa morreu em uma ocorrência registrada no transporte público e outras três morreram em ocorrências registradas em bar.

Segundo Cecília Oliveira, um dos motivos para a escolha da Bahia para o monitoramento de dados sobre a violência armada se dá pelo fato do Estado registrar o maior índice de homicídios por arma de fogo há três anos seguidos, conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Para a diretora executiva do Fogo Cruzado, a produção e monitoramento dos dados é essencial para o enfrentamento à complexidade da segurança pública.

“As nossas informações são 100% abertas e estão disponíveis para checagem, para uso, e o nosso intuito é colaborar com qualquer pessoa que tenha o interesse em melhorar a vida da população e isso inclui, por exemplo, a Secretaria de Segurança Pública e afins para que a gente possa colaborar com a produção de políticas públicas e planos de segurança que melhorem a vida da população”, destaca.

Sobre o app Fogo Cruzado

Criado pelo Instituto Fogo Cruzado, o aplicativo “Fogo Cruzado” passou a funcionar em 2016 na região Metropolitana do Rio de Janeiro e opera de forma colaborativa, com a coleta de denúncias anônimas sobre tiroteios e violência por arma de fogo na cidade. O aplicativo também é essencial para evitar que a população se desloque para locais inseguros.

A plataforma traz um mapa da cidade, onde é possível registrar em quais regiões houve ocorrência de disparos e se foram registrados mortos e feridos, por exemplo. Com isso, os usuários do aplicativo serão alertados quando alguma ocorrência for cadastrada, além de ter acesso a estatísticas e indicadores sobre a violência armada.

Para ter acesso ao programa, basta buscar por “Fogo Cruzado” na loja de aplicativo do celular. O download é gratuito e compatível com os sistemas Android e iOS (iPhone).

Leia também: Ausência de dados é uma barreira para a cobertura sobre raça no Brasil

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