A Bahia é considerada como o estado que tem a polícia mais letal do Nordeste e é líder em mortes por chacinas, segundo dados divulgados nesta quinta (22) no relatório “A vida resiste: além dos dados da violência”, da Rede de Observatórios da Segurança. Na comparação de junho de 2019 a maio deste ano, a Bahia registrou 247 vítimas em chacinas, sendo que 165 foram vítimas fatais.
Na análise de junho de 2019 a maio de 2021, foram 461 vítimas fatais durante operações policiais. No total, analisado nos cinco estados que fizeram parte da pesquisa, a Rede contabilizou 3.792 mortes pela polícia. No quadro geral, o Rio de Janeiro tem a polícia mais letal, com 827 mortos em ações de policiamento.
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Dentro do mesmo período analisado, no quadro total de vitimização em ações da polícia por estado (incluindo número de mortos, mortes de crianças e adolescentes e feridos), a Bahia segue na primeira posição em relação ao Nordeste (510), seguido por Pernambuco (100) e Ceará (99). Já na análise geral, o Rio de Janeiro lidera com 1.583. Em segundo lugar, aparece São Paulo, com 1.500 casos.
Dentre as motivações em ações de policiamento, o Estado também foi destaque, com 35,8%,, nos caso de repressão ao tráfico de drogas. Um dado importante também aparece no relatório: a Bahia foi o único no Nordeste que teve aumento, de 3,8%, de ações policiais em festas e manifestações culturais da periferia. A Polícia Militar é apontada como a principal força policial envolvida nas 2.125 ações monitoradas de junho de 2019 a maio de 2021, presente em 1.485 ações (69,9%).
No ano passado, o relatório “A cor da violência policial” indicou que 97% das mortes que ocorreram durante ações policiais vitimaram corpos negros, como é o caso de Viviane e Maria Célia, que foram mortas na porta de casa durante uma ação policial no bairro do Curuzu, em Salvador, e o caso de Jussileni Santana Juriti, que estava grávida de sete meses do terceiro filho e foi baleada também em uma ação da Polícia Militar no bairro de Paripe, região do Subúrbio da capital baiana. O filho dela, de 2 anos, presenciou a cena. Jussileni levou três tiros, sendo um deles na barriga, e perdeu o bebê. Ela chegou a ficar em estado grave, mas conseguiu se recuperar e já recebeu alta médica.
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Para o coordenador da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia e co-fundador da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, Dudu Ribeiro, os dados apontam que é preciso que a Secretaria da Segurança Pública e o Governo da Bahia repensem sobre a forma de atuação das forças policiais, principalmente nas comunidades periféricas.
“Há uma prevalência da lógica do confronto e da violência que orienta a ação da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Esse modelo é particularmente dramático nas comunidades negras e periféricas, onde a vida não tem sido a prioridade da atuação dos agentes de segurança. Um conjunto de fatores tem relação com o aumento das ações policiais nesses territórios, desde fenômenos relacionados com a própria dinâmica territorial nessa lógica do combate do enfrentamento e da distribuição das forças, como também um incentivo por parte do Executivo de uma lógica bélica de presença da Polícia Militar nesses territórios, de uma lógica sempre criminalizadora dos territórios e a violência como uma única resposta possível”, pontua o coordenador.
Chacinas na Bahia cresceram 37,5% nos primeiros cinco meses de 2021
De janeiro a maio deste ano, as chacinas na Bahia cresceram 37,5%, o único indicador que teve crescimento em comparação com os dados de 2020. Nos primeiros cinco meses do ano, a Rede contabilizou 572 ocorrências violentas na Bahia, que incluem: mortes causadas por policiais, feminicídios, mortes policiais, racismo, violência contra o público LGBTQIA+ e chacinas.
Dentre as ocorrências de violência na Bahia está o Caso Atakarejo, em Salvador, onde tio e sobrinho foram mortos após um suposto furto de carne no dia 26 de abril. Seguranças do supermercado entregaram Bruno e Yan Barros, de 29 e 19 anos, a traficantes para serem executados. Os corpos deles foram encontrados com sinais de tiros e tortura.
Em relação aos eventos monitorados, a maioria apresentou redução de janeiro a maio de 2021 na comparação com o mesmo período do ano passado. O número de vítimas por forças do Estado teve queda de 35,6%, um total de 29 casos nos primeiros cinco meses deste ano, as violências, abusos e excessos por parte de agentes do Estado diminuíram 38,7%, totalizando 19 registros de janeiro a maio. Já os enfrentamentos envolvendo armas de fogo, que totalizaram 81 casos, reduziram 61,6% em comparação com os dados do ano passado.
No entanto, em números totais do quadro geral, as ações de policiamento foram as que tiveram mais registros: 295, seguido por ações envolvendo arma de fogo (81), Feminicídio e violência contra a mulher (61) e violência contra crianças e adolescentes.
Segundo Dudu Ribeiro, a falta de reconhecimento dos dados por parte do Estado dificulta o diálogo para que o Governo estadual esteja apto para dialogar sobre novos modelos de segurança para a Bahia.
“Normalmente, a Secretaria nega os números, contesta a metodologia ao invés de estar preocupada com os dados que as pesquisas revelam. A Rede de Observatórios da Segurança tem a capacidade de dar uma grande contribuição do ponto de vista de repensar a segurança pública, mas é preciso abrir o canal da escuta que até agora não houve por parte da Secretaria ou do Governo”.