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Biomédica baiana ganha versão da boneca Barbie

Natural de Salvador, Jaqueline Góes ajudou a sequenciar DNA da covid-19 é e a única brasileira homenageada pela Mattel no projeto "Mulheres Inspiradoras"

Texto: Redação | Imagem: Arquivo pessoal

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5 de agosto de 2021

“Eu, uma mulher negra, brasileira, cientista, hoje sou uma boneca Barbie”, essas foram as palavras da biomédica Jaqueline Góes, única brasileira homenageada pela Mattel no projeto “Mulheres Inspiradoras”, que destaca o reconhecimento de cientistas no combate à pandemia da covid-19. Outras cinco cientistas estrangeiras também foram homenageadas, incluindo a canadense Chika Stacy Oriuwa, psiquiatra negra que levantou pautas sobre o racismo sistêmico na área da saúde durante a pandemia do novo coronavírus. As bonecas fazem parte de uma campanha e não terão produção comercial.

mattel barbiesAo todo, seis cientistas foram homenageadas. Jaqueline é a única brasileira | Foto: Divulgação/Mattel

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Natural de Salvador, a Dra. Jaqueline Góes foi uma das pesquisadoras responsáveis por sequenciar o DNA da covid-19 dos primeiros casos da doença na América Latina. A descoberta foi essencial para descobrir o processo de mutação do vírus e para o aprimoramento no combate da doença. O trabalho da cientista também ganhou destaque pelo tempo recorde no sequenciamento do código genético da covid-19: em apenas 48 horas, tempo bem menor do que a média padrão mundial, de 15 dias.

O rosto de uma mulher negra estampado em uma boneca como a Barbie tem importante significado, visto que a Barbie, branca, loira, de olhos azuis e magra, sempre influenciou um padrão que nunca se encaixou nos estereótipos das meninas negras. As discussões sobre o racismo no mercado de brinquedos também mobilizam as pautas raciais. De acordo com o levantamento “Cadê Nossa Boneca”, da organização Avante – Educação e Mobilização Social, apenas 6% das bonecas fabricadas no Brasil são negras e apenas 9% são comercializadas em lojas online. De 1.093 modelos de bonecas nos 14 sites analisados pela pesquisa, apenas 70 eram pretas. Além disso, seis empresas pesquisadas não indicavam a fabricação do produto.

“Quando crianças são estimuladas a novas percepções de mundo, grandes mudanças começam a acontecer no futuro do que chamamos hoje. Elas imaginam que podem ser o que quiserem, mas ver o que podem se tornar, ouvindo as trajetórias de outras pessoas e reconhecendo-se nelas faz toda a diferença”, escreveu a biomédica em uma rede social.

Para além da homenagem, a cientista Jaqueline Góes também citou a a importância da representatividade e das características das mulheres negras nas bonecas. “Enquanto mulher negra, ser presenteada com uma boneca Barbie, que tem todas as minhas características, é simplesmente um sonho. Algo que, até bem pouco tempo, era uma realidade longínqua, para não dizer inexistente […] Neste momento, só consigo pensar em quantas meninas podem ser inspiradas por ela, quantas meninas negras podem olhar e sonhar em seguir a profissão de cientista, onde mulheres ainda são sub-representadas no mundo todo”, disse a biomédica.

“Realmente espero que as meninas se reconheçam nessa boneca, que tem características iguais as minhas, mas que também tenham características muito similares a muitas outras meninas, principalmente as brasileiras […] Não sei se vocês têm noção da importância disso, mas para mim, pessoalmente, era algo inimaginável, há 10 anos atrás, uma Barbie negra. E hoje, além de ser negra, ela é uma cientista e é a Doutora Jaqueline Góes”, celebrou Jaqueline em um vídeo.

Em entrevista à Alma Preta, no ano passado, a biomédica refletiu sobre a sua trajetória profissional e falou sobre as dificuldades em encontrar referências de cientistas mulheres negras e homens negros. Ela também pontuou que espera que a sua história seja inspiração para que outras mulheres negras cientistas possam ter lugar de destaque. “Até que isso seja lugar comum, não seja só inspiração, mas factível”, afirmou.

Carreira

Jaqueline Góes, de 31 anos, é graduada em Biomedicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e começou a fazer iniciação científica na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 2009. Ela também é mestre em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PgBSMI) pelo Instituto de Pesquisas Gonçalo Moniz – Fundação Oswaldo Cruz (IGM-FIOCRUZ) e Doutora em Patologia Humana pela Universidade Federal da Bahia em associação com o Instituto.

No campo da biomedicina, a Dra. Jaqueline Góes também atuou no sequenciamento do vírus da zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, mesmo transmissor da dengue, febre amarela e chikungunya, doenças que a pesquisadora também se debruçou nos estudos.

Na Inglaterra, onde ficou por seis meses, teve acesso aos estudos com a tecnologia MinION, responsável pelo sequenciamento genético de vírus, incluindo o da covid-19. A cientista já era uma das cinco pessoas que trabalhavam com a tecnologia no Brasil e tornou-se referência na utilização do equipamento.

Atualmente, Jaqueline Góes é pesquisadora bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pós-doutoranda no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo — Universidade de São Paulo (IMT-USP). Ela também desenvolve pesquisas na área de arboviroses emergentes.

“Me tornar um modelo para novas gerações é provar que através das oportunidades, o talento e a inteligência podem alcançar e gerar frutos positivos para uma nação”, pontua.

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