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Vai-Vai afasta boato de saída do Bixiga e resiste contra gentrificação

Em 2022, tema do carnaval da escola será a Sankofa, que simboliza a ressignificação do passado; obras do metrô podem 'enobrecer' o bairro e contribuir com o processo de apagamento da cultura negra na região

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Vai-Vai

Vai-Vai resiste contra a gentrificação no Bixiga

13 de agosto de 2021

A escola de samba Vai-Vai é um símbolo de resistência da comunidade negra no bairro do Bixiga, na região central de São Paulo, que tem sua formação vinculada à fuga de homens e mulheres escravizados para um quilombo, que ficava além dos rios, na então periferia da capital paulista.

A Vai-Vai foi fundada em 1930 e tem 15 títulos do Carnaval de São Paulo. No ano que vem, o tema do enredo da escola será o conceito da Sankofa, que segundo o escritor, político e intelectual negro Abdias Nascimento é a simbologia africana que significa “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro”.

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Além de marcar a história cultural do Bixiga, a Vai-Vai também representa a resistência contra o processo de gentrificacão, termo derivado do inglês, que ilustra o processo de “enobrecimento” de determinadas áreas da cidade, com a expulsão da população mais pobre.

“Estou na Vai-Vai há 22 anos e desde que me conheço por gente dizem que a Vai-Vai vai sair dali. Isso é só um boato. Não tem nada de concreto sobre a saída da escola. Estamos atuando como posto de vacinação contra a Covid, toda quinta e sexta; estamos entregando 350 marmitas todas as terças e, aos sábados, tem distribuição de cestas e roupas. Estamos firmes e fortes”, diz Luiz Robles, diretor de marketing da escola.

As atividades presenciais, relacionadas a eventos e ao carnaval, estão suspensas por conta da pandemia do Covid-19. A escolha do samba-enredo, por exemplo, será virtual. As semifinais e a final serão por live, nos dias 22 e 29 de agosto.

A preocupação sobre o futuro da Vai-Vai no Bixiga aumentou com o início das obras da linha laranja do metrô, que vai ligar a Brasilândia, na zona Norte, até a estação São Joaquim, da linha azul na zona Sul. A estação Bela Vista, deve ser construída na rua Major Diogo, perto da sede da escola.

“O processo de gentrificação é uma ação de transformação de territórios que expulsa as populações mais pobres para ‘enobrecer’, numa leitura de classe. Nos EUA, por outro lado, é um conceito que identifica um banimento racial, que tira as comunidades racializadas como negros, asiáticos e latinos para ‘embranquecer’ os bairros. Aqui no Brasil é assim também”, pontua Gisele Brito, mestre em planejamento urbano e pesquisadora do Instituto Peregum de Referência Negra.

O bairro do Bixiga, de acordo com ela, é tradicionalmente uma região de preservação da história negra, por conta da origem do bairro.

“É um território negro que resiste há muito tempo. No começo do século 20, era uma periferia onde a população negra livre se refugiava. Era na beira do rio, numa área insalubre. Ao longo do tempo, conforme o bairro vai se verticalizando com os prédios, a população negra manteve um ambiente de sociabilidade negra, com a Vai-Vai, com hábitos de ocupação das ruas, entre outras atividades”, comenta Gisele.

Em 2015, a prefeitura avaliou um projeto para transferir a Vai-Vai do Bixiga para a região do Anhangabaú, no entanto, não houve continuidade. Ainda não há previsão de conclusão da obra do metrô.

“A chegada do metrô é uma ameaça forte de gentrificação porque provoca uma valorização imobiliária que vem acompanhada de uma troca da população. Uma população de maior renda, com outros hábitos de consumo e sociabilidade. O botequim, a padaria e o comércio mudam também. A noção de centro e periferia, em São Paulo, mudou muito particularmente pela presença ou não da população negra”, explica a pesquisadora.

A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com a assessoria do metrô e da prefeitura sobre o futuro da escola de samba Vai-Vai, porém, ainda não houve resposta. A matéria será atualizada quando vier o posicionamento dos órgãos.

Leia mais: Com o avanço da vacinação, escolas de samba esperam retorno de ensaios em outubro

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