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Janeiro Branco promove saúde mental no país onde quem adoece mais é o povo negro

26 de janeiro de 2021

Os impactos do racismo precisam ser considerados nas ações de campanhas preventivas, em políticas públicas e nas diversas formas de promover saúde mental no Brasil 

Texto / Flávia Ribeiro | Edição / Lenne Ferreira | Imagem / Oluremi Adebayo / Pexels

O começo do ano representa o momento de traçar as metas para os próximos meses, o que exige mais atenção com a saúde mental. É a patir deste mote que se desenha a campanha Janeiro Branco, criada em 2014 por por psicólogos de Uberlândia, Minas Gerais, para incentivar as pessoas a buscarem bem estar emocional. Mas, como falar em saúde mental quando este direito ainda não é assegurado, por exemplo, a jovens negros do sexo masculino com idades entre 10 e 29 anos, que tem 45% mais chances de praticar suicídio do que jovens brancos na mesma faixa etária?

Para a psicóloga Samilly Valadares, do Pará, é necessário descontruir os estereótipos acerca do tema. “É preciso se apropriar da ideia de saúde mental como um direito para que possamos reivindicar políticas públicas e medidas que promovam a saúde mental de maneira contextualizada. A saúde da população negra importa e isso não deve ser apenas uma hashtag ou slogan de campanha, mas sim um compromisso de todos nós, sujeitos de direito, profissionais e cidadãos. Assim como falam que o “Janeiro Branco” deve ser de janeiro a janeiro não deve ser só uma frase de efeito, mas uma forma de ter a temática de saúde mental em evidencia o ano todo e criando estratégias para que as práticas de promover saúde mental sejam antirracistas e reais”.

A psicóloga ainda defende que uma das formas de combater o equívoco que naturaliza a saúde mental dissociada da população negra é pensar e estruturar as campanhas de saúde, a partir da realidade na maioria da população no país. “Em um país em que 54% da população é negra, os maiores índices de adoecimento mental se encontram também na população negra. Os maiores índices de suicídio estão entre a juventude negra. O debate sobre saúde mental da população negra deve ser prioridade, deve ser base para todas as discussões e articulações. É necessário enegrecer o ‘Janeiro Branco’, o ‘Setembro Amarelo’, todos os debates, discussões e políticas públicas existentes. É necessário enegrecer a saúde mental como um todo para que as nossas mobilizações, enquanto sociedade que sejam de fato concretas, emancipatórias e reais ao contexto brasileiro”, afirma Samilly.

São inúmeros os impactos do racismo na saúde mental e isso não deve ser negligenciado por profissionais de saúde e pela sociedade em geral. “O racismo vai adoecer, violar invadir os nossos corpos e as nossas construções. As formas de ser e estar no mundo, de nos expressar e de viver. Vai impactar a autoimagem, a autoestima, os relacionamentos interpessoais, as construções de identidade e as motivações para sonhar, construir e continuar nos processos. E isso acontece desde a infância, quando as identidades negras estão sendo construídas e quando estamos aprendendo a perceber o mundo e nos perceber nesse mundo. As nossas percepções são violadas, são distorcidas. É preciso falar que para promover saúde mental é reconhecendo cada um desses impactos e combatendo o racismo” pontua a psicóloga.

Dados do Brasil
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o país mais ansioso do mundo. Ao todo, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população. Dentre os fatores que influenciariam nesta situação estariam pobreza e desemprego, dentre outros. “Vivemos em uma sociedade que viola nossos corpos, nossas vidas e nossas subjetividades cotidianamente. Enquanto a saúde mental da pessoa negra for vista como um recorte, isso vai se reproduzir e se perpetuar. O racismo é fundamento, é estruturante, então a saúde da população negra também deve ser trabalhada como fundamento e estruturante na nossa sociedade” destaca a psicóloga, afirmando que a pandemia aprofundou as desigualdades e violações de direitos impostas à população negra diariamente e historicamente. “É necessário falar sobre isso, denunciar as negligências, reivindicar direitos, políticas públicas que sejam concretas e contextualizar os processos. Não há receita mágica e a luta é contínua”.

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