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Campinas: grupo invade bar e tenta sequestrar funcionário da Guiné-Bissau

Ataque aconteceu em um bar de Campinas frequentado por estudantes da Unicamp; agressores usavam coletes dos Abutres e apontaram uma arma para o DJ

Bar do Ademir foi alvo de ataque

Foto: Imagem: Reprodução internet

7 de junho de 2022

A Polícia Civil de São Paulo investiga uma tentativa de sequestro realizada por um grupo que aconteceu na cidade de Campinas. O ataque aconteceu em um bar que é frequentado por estudantes da Unicamp, indígenas e jovens negros.

O grupo formado por três pessoas estava armado e chegou a disparar três tiros para o alto. Segundo relatos, eles também fizeram “imitações de macaco” e xingaram as pessoas com ofensas racistas e homofóbicas. O dono do bar tentou intervir, porém, foi agredido no rosto pelo trio. A agressão aconteceu por volta das 22h, logo no início do show do DJ O’Rosa, no Bar do Ademir, no dia 5 de maio, uma sexta-feira. 

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O funcionário que sofreu a tentativa de sequestro nasceu na Guiné-Bissau. Os três agressores estavam usando coletes do moto clube “Abutres” e traziam nas roupas emblemas com a suástica nazista e a bandeira do exército confederado – frente racista que defendia a manutenção da escravidão de pessoas negras durante a Guerra de Secessão americana.

“As testemunhas contam que eles chegaram de carro e começaram a xingar o rapaz guineense, negro e bem retinto, que estava na frente do bar. Eles chamaram ele para dentro do carro. Quando ele disse que não iria entrar no carro, apontaram a arma para ele e xingaram ele”, disse o DJ.

Durante o ataque, os três homens também ameaçaram o DJ O’Rosa, que é um homem negro. “Eu corri quando ele apontou a arma para mim. Eles saíram ameaçando e xingando as pessoas com expressões racistas. Agora eu estou um pouco melhor, mas fiquei algumas semanas abalado”, contou O’Rosa.

Após o ataque, o grupo fugiu. Os suspeitos também participaram, na mesma noite, de um outro episódio em um bar na cidade de Paulínia, onde duas pessoas ficaram feridas após serem atingidas por tiros. A polícia conseguiu prender um dos suspeitos, que no grupo dos Abutres é conhecido como “Bronze”.

O Moto Clube “Abutre’s: Raça em Extinção” existe desde o final dos anos 80 e tem aproximadamente 7,5 mil integrantes em todas as regiões do Brasil e também em outros países. Os membros participam de encontros e viagens longas. Em vídeos que circulam na internet, há imagens de reuniões em que os integrantes se dispõem a serem marcados com ferro em brasa.

A relação entre moto-clubistas brasileiros e grupos de discursos de ódio e racistas não é explícita. Segundo o historiador e comunicador Rodrigo Palhaço, do canal TV Moto Clube, no Youtube, os motoclubes são neutros em questões políticas, religiosas e raciais, mas têm regras próprias de conduta.

“Fiquei surpreso quando vi que, de uns três anos para cá, começaram a aparecer símbolos de extremistas. O colete do motoclube representa o grupo e não é, ou não deveria ser, ligada a coisas como essas”, disse Palhaço, especialista na história dos motoclubes e que também é ex-Abutre’s.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que o caso está sendo investigado pelo 7º DP de Campinas e um dos autores do ataque já foi indiciado. Por conta da natureza do crime, o inquérito segue em sigilo.

A Alma Preta Jornalismo procurou os representantes do Moto Clube Abutre’s: Raça em Extinção para comentar o ataque. Em resposta, o grupo escreveu “Somos totalmente contra qualquer tipo de discriminaçao racial ou religiosa, muito menos a apologia de qualquer crime ou discurso de ódio”.

Leia mais: “Os terreiros estão sendo incendiados como a KKK fazia nos EUA”, diz Kabengele Munanga

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