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Câncer de mama: sobrevivência de mulheres negras é até 10% menor

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4 de fevereiro de 2021

Neste 4 de fevereiro é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Câncer; segundo dados do SUS, falta de acesso às ações do plano de controle da doença e o diagnóstico tardio explicam a disparidade racial na sobrevida

 Texto: Roberta Camargo | Edição: Lenne Ferreira e Nataly Simões | Imagem: Pedro Moraes/Governo do Estado da Bahia 

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No Dia Mundial do Câncer, data que visa a realização de ações de conscientização acerca da doença, que é a segunda principal causa de morte ao redor do mundo, o contexto vivido pela população negra, em especial as mulheres, é alarmante. Segundo pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a sobrevida de mulheres negras em casos de câncer de mama é até 10% menor do que entre mulheres brancas. O diagnóstico tardio é a maior causa das mortes.

A situação é reafirmada pelo médico urologista e cirurgião robótico Osei Akuamoa. “A mulher negra, de baixa renda, geralmente periférica e mãe solo, tem maior taxa de mortalidade quando se trata de câncer de mama e de colo de útero, porque essa mulher, naturalmente, têm menos oportunidades de ser assistida em espaços de atenção primária de saúde”, explica.

Segundo o estudo, realizado pela farmacêutica Lívia Lovato, mulheres negras têm  menor acesso às ações do plano de controle do câncer de mama no país e isso ampara os números de vítimas fatais da doença.

No caso da aposentada Sandra Regina Vaz, de 57 anos, a situação foi diferente, tornando-a um caso de sucesso, dentro dos casos de câncer tratados no Sistema Único de Saúde. A cirurgia para o tratamento do câncer de mama, diagnosticado já em processo avançado, aconteceu três meses após a identificação. 

A paciente foi assistida pelo SUS até o último ano, quando o período de assistência a pacientes com câncer foi encerrado. “Eu fiquei quase oito anos tratando esse problema porque tive queimaduras no pulmão causadas pela radioterapia”, conta Sandra. O acompanhamento agora acontece através de consultas na UBS da região, com periodicidade mais longa. “Não passei ainda no médico, mas eles têm um tratamento muito delicado com quem passa por esse tipo de situação”, conclui a sobrevivente.

Falta de assistência básica 

Casos como o de Sandra são exceção dentro do atual cenário da saúde pública no Brasil e no acesso de pessoas negras ao tratamento oncológico. Akuamoa explica que o quadro pode se reverter se as atenções forem voltadas para a saúde básica no país. A atenção básica resolve 90% dos casos graves de saúde. “O agente de saúde precisa ir lá na casa do idoso da periferia e falar: ‘vamos lá fazer exame de toque’, bater na casa da senhora e falar: ‘vamos lá fazer mamografia’.”, detalha.

O incentivo para a realização de exames é um passo importante, mas que pode não ter resultados concretos, de acordo com a região do país em que aquele cidadão vive. “Existe uma distribuição anárquica da distribuição dos equipamentos, a maioria está concentrada no sul e sudeste”, revela o urologista.

Segundo dados do Estudo do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, cerca de 40% dos mamógrafos disponíveis para a rede pública de saúde estão no Sudeste e Sul do país. Norte é a região com menos aparelhos para a realização de exames preventivos, como a mamografia. 

“A defesa do SUS é uma defesa contra esse racismo estrutural”, considera o médico. Para ele, entre as principais soluções para a redução do grande números de pessoas negras que perdem a vida por problemas oncológicos é “um incentivo grande na política nacional de atenção à saúde da população negra” e “que os profissionais da saúde reconheçam a raça como viés importante da assistência.”

Desde 1996, o Ministério da Saúde tem a portaria n°992, nomeada de Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN). Trata-se de um compromisso firmado pelo Ministério no combate às desigualdades no Sistema Único de Saúde (SUS) e na promoção da saúde da população negra de forma integral, considerando as desigualdades nos processos socioeconômicos e culturais que fazem parte da estruturação do país.

Na teoria, a PNSIPN ajuda no cumprimento de um dos princípios básicos do SUS, a equidade, objetivo que se perde na prática da saúde pública no Brasil. “O papel do SUS, na abordagem da população negra, está muito ruim e isso é uma violência contra a população, porque a gente não sabe atender naquele princípio básico”, conclui Akuamoa.

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