Texto: Pedro Borges / Fotos: Pedro Borges e Thales de Lima
Para estudantes de medicina, a resposta é simples: a Casa Grande não se conforma em dividir o mesmo espaço com negras e negros
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No dia 9 de junho, quinta-feira, no Hospital Universitário Pedro Ernesto, o evento “A Casa Grande surta quando a Senzala vira médica?” pintou de preto nas mais diferentes tonalidades o anfiteatro Ney Palmeiro. A programação coloriu a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), como em poucos momentos na história da instituição.
A atividade, organizada pelo Coletivo Negrex e a Frente pela Democracia da Faculdade de Medicina, colocou em pauta o racismo dentro da formação médica e na atuação do profissional de saúde.
O Negrex é uma organização nacional de estudantes negros de medicina que recebe denúncias de discriminação racial dentro das universidades e promove eventos para enfrentar o racismo dentro das faculdades médicas.
O evento
Às 9h, as movimentações tiveram início com apresentação musical da sambista Julia Rocha. As canções, com referências negras sobre o combate ao racismo, foram o aquecimento para a primeira mesa: “Racismo de Estado na Sociedade Brasileira e Estratégias de Resistência: as cotas raciais em questão”.
Thaise Matos, formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ) e professora da UERJ, foi a mediadora da conversa. Foi ela a responsável por apresentar os dois convidados, Vantuil Pereira e Tarcilia do Nascimento. Thaise é também uma das poucas professoras negras de medicina no Brasil, fator muito representativo para todas e todos presentes.
Vantuil Pereira, professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destacou o racismo enquanto problema estrutural da sociedade brasileira e enfatizou o perigo do momento político atual do país. O avanço da agenda conservadora e a postura de Michel Temer são alertas, inclusive, à possibilidade de revogação das cotas.
Tarcilia do Nascimento, mestre em ciências sociais pela UERJ, tem uma pesquisa detalhada sobre a política de cotas dentro da universidade, a primeira a adotar o sistema no país, no ano de 2003. Tarcilia apresentou o perfil deste estudante, assim como o seu desempenho quando comparado àqueles e àquelas não cotistas. Os resultados são nítidos. Alunos cotistas evadem menos e têm resultados acadêmicos iguais e, às vezes, superiores aos não cotistas.
Depois da pausa para o almoço, nova intervenção cultural serviu de anúncio ao segundo debate. Jovens rappers do grupo UR Gueto envolveram o auditório com as suas músicas, experiências pessoais e reflexões acerca do racismo.
O fim da apresentação culminou com o início da segunda roda de conversa. Denise Herdy, professora de medicina da UERJ e coordenadora há 20 anos do Grupo Com Vida, especializado em lidar com pessoas com HIV, mediou a apresentação de Jurema Werneck. Formada em medicina pela UFF-RJ, Jurema representou o movimento negro no Conselho Nacional de Medicina (2007-2012) e é integrante do grupo da Sociedade Civil da ONU Mulheres Brasil.