A Corregedoria da Polícia Militar aponta que ao menos um dos três jovens negros mortos por policiais militares na comunidade da Gamboa na madrugada da terça-feira, 1º de março, em Salvador, foi executado.
O inquérito policial foi concluído na semana passada e a Alma Preta Jornalismo teve acesso exclusivo a detalhes do processo, que segue sob sigilo e ainda será analisado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA).
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Conforme o inquérito, o laudo cadavérico de Cléverson Guimarães, uma das vítimas, aponta que ele morreu com um tiro disparado de cima para baixo. Antes do disparo, ele já tinha sido atingido por uma bala. Conforme a Corregedoria, Cléverson tinha vários registros de antecedentes criminais. A investigação também aponta o fato de Cléverson ter sido torturado por policiais um ano antes da morte, caso confirmado por meio de Boletim de Ocorrência, registrado no dia 16 de março do ano passado.
No dia do fato, Cléverson foi torturado por quase três horas e ficou em poder dos policiais até a noite do dia seguinte, quando foi apresentado em uma central de flagrantes à distância de 25 quilômetros de uma unidade policial mais próxima da região onde morava. Após um dia preso, ele foi solto.
A Corregedoria compreendeu que também “há uma série de indícios de que as mortes não foram justificadas” na operação em Gamboa.
A investigação da Corregedoria revela uma desproporcionalidade do uso da força por parte dos quatro policiais, que estavam em maior número de pessoas e de armas – e equipados com submetralhadoras e pistolas de calibre 40, em “perfeito estado de funcionamento no momento da realização das condutas investigadas”, segundo afirma o inquérito.
Além disso, duas das três armas apontadas como as que foram encontradas com as vítimas na Gamboa apresentavam dificuldade de manuseio para ser utilizada durante um confronto.
O inquérito cita que o revólver apresentava desajuste no mecanismo interno da arma e danos na parte externa, o que só possibilitaria disparos em ação simples.
A outra arma, uma pistola de calibre 40 estava com a trava do percussor inoperante e sem a mola do tirante do gatilho, “prejudicando a produção de disparo”, o que só era possível “mediante a retenção manual do tirante do gatilho”, segundo cita o inquérito. Apenas uma arma apresentava pleno funcionamento.
Com isso, a Corregedoria da PM, em conjunto com a Corregedoria Geral da Secretaria de Segurança Pública, recomendou a abertura de processo administrativo contra os quatro policiais envolvidos nas mortes de Patrick Sapucaia, de 16 anos, Cléverson Guimarães, de 22 anos e Alexandre dos Santos, de 20 anos. A reportagem não teve acesso aos nomes dos PMs envolvidos.
Em nota, o Ministério Público da Bahia informou que “tem procedimento de notícia de fato instaurado em andamento no Núcleo do Júri (NUJ) para acompanhar as investigações sobre o caso”. Disse também que “assim que o inquérito for recebido pelo MP, ele será analisado para a tomada das medidas cabíveis”.
Leia também: Capital de SP registra uma denúncia de violência racial a cada quatro dias