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Caso Marielle Franco é alvo de interferências externas e vazamentos de informações

Ministério Público do Rio de Janeiro e Polícia Civil tiveram mudanças recentes nos comandos das investigações; viúva de miliciano pode ter revelado nomes de envolvidos no duplo assassinato ocorrido em 2018

Texto: Juca Guimarães I Edição:  Nadine Nascimento e Nataly Simões I Imagem: Reprodução/Redes sociais

Familiares de Marielle Franco em frente ao Ministério Público do Rio de Janeiro

22 de julho de 2021

Vazamentos de informações e as constantes trocas no comando da investigação têm preocupado familiares da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, assassinados em abril de 2018, no centro do Rio de Janeiro. Em março, foi criada uma força-tarefa sob chefia da promotora Simone Sibilio, do Ministério Público do Rio de Janeiro. Ela deixou o caso na segunda semana de julho, junto com a promotora Letícia Emile, por insatisfação com interferências externas em um momento em que a investigação se concentra em descobrir quem foi o mandante do crime e qual o motivo.

“O assassinato da Marielle é o mais expressivo atentado político do Brasil deste século. As informações sobre as interferências que as promotoras sofreram e que circularam pela mídia são bem graves. O que garantiria que o próximo promotor não sofreria o mesmo se, de fato, for à fundo nessa investigação?”, questiona Mônica Benicio, viúva de Marielle, em entrevista à Alma Preta Jornalismo.

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O processo do caso tem 40 volumes e a saída das promotoras é preocupante. “Que promotor, chegando 3 anos depois, conseguiria dar conta de um processo que tem 40 volumes e se preparar adequadamente para um pleno judicial? Falta pouco pro Tribunal do Júri ser convocado para julgar os acusados de executarem a Marielle. As promotoras vinham se preparando para esse momento”, lembra Mônica.

Segundo a irmã da ex-vereadora, Anielle Franco,  a família não tem como comentar as informações recentes que circulam sobre o caso, mas acredita que haverá avanços nas investigações sobre o mandante do assassinato. “A gente vai seguir pressionando sim, todos os dias. Infelizmente não temos como comentar sobre essa questão pelo fato de que nossos advogados não têm acesso aos autos das investigações e portanto não temos como afirmar nada sobre as últimas denúncias”, comenta Anielle, também em entrevista à reportagem.

O comitê ‘Justiça por Marielle e Anderson’, criado para acompanhar as investigações, divulgou uma nota em que reforça a necessidade de mais transparência. “Seguiremos pressionando para saber quem quer interferir nas investigações, quem mandou matar Marielle e porquê”, diz o comunicado.

Vazamento de informações

Na Polícia Civil, a polêmica é em torno da denúncia feita contra o delegado Maurício Demétrio por conta de vazamentos de informações sobre o caso Marielle. Demétrio teria recebido um documento do delegado Moysés Santana, no final de junho. Moysés era o delegado responsável pela investigação do caso Marielle até o início de julho, quando foi substituído pelo alto comando da Polícia Civil, após a denúncia de vazamento de informações feita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.

No dia 14 de julho, o procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, teve uma reunião com a mãe de Marielle (Marinete Silva), a irmã (Anielle Franco), a filha (Luyara Santos) e a viúva (Mônica Benicio).

Segundo o MP-RJ, o objetivo da reunião foi tranquilizar a família sobre a continuidade das investigações acerca dos mandantes dos crimes, cujos executores, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, já se encontram presos. “Estamos absolutamente abertos ao diálogo com os familiares e instituições de acompanhamento, para prestarmos informações relevantes e possíveis, resguardando apenas o sigilo do que for essencial para o não comprometimento do trabalho de investigação”, pontuou Mattos, segundo texto publicada no site do MP-RJ, no dia da audiência com os familiares.

Uma reportagem da Veja revelou que está em curso uma negociação de delação premiada para Julia Lotufo, viúva do ex-capitão do Bope, equipe da elite da PM, Adriano Magalhães de Nóbrega, assassinado na Bahia em fevereiro de 2020, quando era procurado pela Justiça por susposto envolvimento com a execução de Marielle e Anderson, o que não foi confirmado nas investigações e o que Julia também nega.

Ainda segundo a Veja, Nóbrega teria envolvimento com milicianos e participado de diversos assassinatos encomendados por milicianos e acobertados por agentes públicos. Ele comandava o grupo de extermínio chamado Escritório do Crime.

De acordo com a reportagem da revista, Júlia teria revelado quem foram os mandantes da execução de Marielle e Anderson. Mônica Benício tem ressalvas a respeito dessa linha de investigação. “Sobre a delação negociada da viúva de Adriano da Nóbrega, que traria informações sobre o assassinato de Marielle, o que soubemos é que foi articulada sem a participação das promotoras que conduziam a investigação, o que é absolutamente sem sentido”, avalia a viúva de Marielle.

Em nota, o MP-RJ informou que o promotor Bruno Gangoni foi designado temporariamente, no dia 19, para atuar no acompanhamento dos processos judiciais e procedimentos extrajudiciais criminais até que sejam anunciados os novos nomes para a força-tarefa.

A Alma Preta Jornalismo entrou em contato com a Polícia Civil do Rio de Janeiro e questionou sobre o vazamento de informações sobre o caso Marielle, mas não teve resposta. Se a Polícia Civil responder, o texto será atualizado.

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