O município de Alcântara, no Maranhão, é a cidade com a maior população quilombola do Brasil e 100% está vacinada – com a primeira dose – contra a Covid-19. Ao todo, cerca de 200 comunidades foram imunizadas. Ativistas pelos direitos de povos tradicionais atribuem a conquista à luta da própria população.
A notícia foi dada pelo governador Flávio Dino (PSB) via redes sociais na quarta-feira (16). O governante publicou foto em comemoração à celeridade da imunização na cidade. “Alcântara cidade 100% vacinada. Esperança vencendo as trevas e a tristeza”, declarou o gestor.
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A agente comunitária de saúde Neta Serejo é uma das lideranças das comunidades quilombolas de Alcântara. Ela comemora a imunização de toda a população e espera que mais municípios cumpram a vacinação dos povos tradicionais.
“Ver a população quilombola vacinada nos gera uma grande esperança de que dias melhores estejam bem próximos. Infelizmente, ainda contamos com a tristeza por tantas perdas de pessoas que não conseguiram esperar pela vacina. Esperamos que em outros municípios a vacina para as comunidades quilombolas sejam, de fato e o quanto antes, aplicadas”, afirma Neta, em entrevista à Alma Preta Jornalismo.
Para o Movimento dos Atingidos pela Base Espacial (MABE) de Alcântara – projeto que luta desde 1999 pela permanência das comunidades na cidade – a marca de 100% de vacinados é fruto da luta dos quilombolas de Alcântara pelo território e da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), que precisou acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para obrigar o Estado brasileiro a incluir os quilombolas no grupo prioritário para a imunização.
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Segundo dados do Ministério da Saúde, 13 mil pessoas tomaram a primeira dose na cidade. O Governo do Maranhão afirma que a cidade recebeu mutirões de vacinação e ajuda do estado com equipes especializadas para aplicar os imunizantes. Entre os profissionais estão enfermeiros, aplicadores e digitadores, que atuaram em conjunto com os profissionais municipais para o avanço da vacinação.
Em nota, o MABE afirma reconhecer os esforços dos poderes públicos estadual e municipal em administrar a aplicação das doses destinadas pelo Plano Nacional de Imunização ao município. Em contrapartida, ativistas da entidade denunciam que a Prefeitura de Alcântara e a Secretaria Estadual de Saúde, até o momento, não responderam ofícios com várias reivindicações, entre elas, a de que fosse constituído um mecanismo legal com assento e participação das instituições representativas das comunidades para planejar, acompanhar e monitorar a aplicação do plano municipal de vacinação.