Perguntei para mulheres de diversas idades e profissões “quais vezes em que ser mulher negra te deixou feliz?” As respostas oscilaram entre a dúvida, a pausa e a sensação de pertencimento
Texto / Thalyta Martina
Ilustração / Jéssica Paulino
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Em conversas com o editor do Alma Preta, surgiu a ideia de escrever sobre mulheres negras. “É sobre você”, ele disse.
Eu acrescentei que é sobre minha mãe, minhas duas irmãs negras, minhas três tias negras também, sobre minha avó Florência, sobre minhas amigas, sobre minhas vizinhas, sobre mulheres que eu vejo no ônibus e temos instantaneamente aquele reconhecimento.
Na sociedade em que vivemos, o último lugar é o nosso de acordo com os racistas. A última a ser escolhida, a primeira a ser descartada, a subjugada, hipersexualizada e muito pouco entendida nos seus contextos sociais. Isso só se reforçou quando diante da pergunta que eu fiz a amigas e família negras “quais vezes em que ser mulher negra te deixou feliz?” veio um breve silêncio e alguns vácuos. Também tiveram reações de “nossa!” ou então “eu preciso pensar”. Em mim, essa última esteve mais presente.
Tendo em vista todo o explicado, decidi criar uma lista para você, mulher negra, fortalecer-se e empoderar-se, entendendo que existem, sim, bônus por ser assim, da minha, da sua cor.
1. Essa resposta é minha. Eu me sinto feliz quando vejo mulheres negras fazendo história, superando todas as baixas expectativas postas sobre nós. Apesar de todas as dificuldades, apesar dos “é muito para você”, consegue se formar, consegue abrir sua própria empresa, consegue uma boa colocação.
2. Reforçando o que a gente literalmente sente na pele, a Najara Costa, companheira de trabalho disse: “Ser feliz por ser mulher negra é bem complicado já que a estrutura social te põe na base da pirâmide social.” Ela explica que cresceu em família branca (algo recorrente na sociedade brasileira por conta dos processos de embranquecimento e miscigenação) e, por isso, não se via positivamente. Ela sentiu-se feliz quando se viu representada “ainda que esta valorização esteja presente em espaços bem pontuais”, ressalta.
3. Camila Guimarães, mulher negra de pele clara, diz que se sentiu feliz em ser mulher negra quando estava em uma palestra sobre feminismo e uma moça negra de pele escura falou sobre feminismo em relação à raça. A moça olhou pra ela e disse: “porque nós, mulheres negras…” “Daí fiquei tão feliz de pertencer a algo, porque não estava mais nesse limbo por minha mãe ser branca e meu pai negro”, explica. Ela disse que entende que quando se trata de racismo, a cor vem primeiro, mas, pra ela, foi importante se dar conta que faz parte de algo.
4. Pati Carvalho, mulher negra formada em História, fala que se sentiu feliz sendo mulher negra quando percebeu que seu cabelo era lindo em sua singularidade e seus traços também. “Comecei a me olhar no espelho com outro olhar. Foi aí que me senti muito feliz por ser quem sou.”
5. Uma mulher que está em um abrigo sigiloso para pessoas que sofreram violência falou que, para ela, ser uma mulher negra de força a faz feliz. Ela disse ainda que sente alegria quando chega em um evento e vê mulheres empoderadas, “cara, ganhei o mundo, sabe?”.
Para mais obras da artista Jessica Paulino acesse: http://www.jessicapaulino.com/.