Um mês após o ocorrido, faculdade se divide entre estudantes que desejam a punição do professor e os que o apoiam. Os alunos envolvidos no caso participam de sindicância
Texto / Beatriz Mazzei
Imagem / Divulgação
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O clima entre os alunos da Faculdade Zumbi dos Palmares após o afastamento do professor de direito, Marcos Paraíso da Silva, está polarizado. De um lado estão alunos que repudiam a ação do docente e buscam medidas preventivas para cessar esse tipo de conduta; do outro, alunos que se unem contra as drogas e em apoio a Paraíso.
O professor, que é segundo-tenente aposentado da Polícia Militar, foi afastado da instituição de ensino após apontar uma arma para o aluno Kaique Vidal Castanhar, do curso de Publicidade e Propaganda. Segundo testemunha, o professor também teria empurrado uma estudante que quis questionar Paraíso.
O fato aconteceu em 6 de junho, durante o intervalo de aulas do período noturno da instituição. A ação de Paraíso aconteceu após ele ter visto o aluno fumando maconha.
O caso
De acordo com um aluno que presenciou o acontecido, cerca de 12 alunos de publicidade e propaganda estavam reunidos em um espaço localizado fora da faculdade, no Centro Esportivo Tietê, fumando o cigarro, quando o professor abordou Kaique com a arma na mão em “uma abordagem totalmente fora do padrão, segurando-o pelo braço”.
Segundo a testemunha, o professor não se identificou em nenhum momento ou explicou sua ação – ele dizia que o aluno serviria de “exemplo” para os demais. Além disso, o estudante adiciona que ao conduzir Kaique para a diretoria, uma aluna quis questionar o que estava acontecendo e foi empurrada pelo professor, que a forçou a sair da sala.
Consequências e providências
O DCE (Diretório Central dos Estudantes) Dandara dos Palmares divulgou nota na qual informa que “se solidariza com as(os) acadêmicas(os) do curso de publicidade e propaganda/comunicação social e com todas(os) as(os) acadêmicas(os) dessa instituição.” No mesmo pronunciamento, os integrantes do DCE afirmam que não poderão tolerar “que tais ações traumáticas de abuso de poder e machismo invadam um espaço acadêmico de respeito.”
Em nota, o DCE ressalta também a importância de medidas preventivas e reparativas para garantir a proteção dos direitos humanos, sociais e a segurança dos alunos, além de levantarem a necessidade de avaliação do quadro de professores da instituição.
Sobre o ocorrido, o reitor José Vicente disse que os alunos foram abordados porque faziam uso de substâncias ilícitas e que o professor utilizou a arma para cessar a conduta e defender-se, uma vez que se sentiu ameaçado. Ainda na nota, adiciona: “Ressaltamos que a Instituição tem por missão ‘a inclusão e formação qualificada de profissionais comprometidos com os valores da ética, dignidade da pessoa humana e diversidade étnico racial.’”
Ato na Faculdade Zumbi dos Palmares
Em 8 de junho, após a realização de ato de alunos contra a ação de Paraíso, o reitor José Vicente comunicou, em nota, que afastou o professor temporariamente a pedido dele próprio, “para evitar mais desconforto e garantir a integridade física e moral dos envolvidos.”
Durante a manifestação, alunos gritavam palavras de ordem como: “A PM mata preto todo dia”, enquanto outros alunos rebatiam o ato, gritando o nome de Paraíso.
A mobilização dos estudantes contra o professor foi vista como irregular pela faculdade e por parte dos alunos. Em nota, o reitor aponta que os alunos envolvidos seriam repreendidos, “considerando que o referido grupo não respeitou as orientações institucionais, invadindo o prédio da Faculdade, infringindo ordem legal, causando a perturbação da ordem, impedindo o andamento normal das aulas e provocando os demais alunos.”, uma vez que eles foram “devidamente orientados quanto à proibição de manifestações dentro do campus, bem como a entrada de não alunos no interior do prédio para qualquer ato”.
A polarização de ideias e opiniões sobre o caso invade as redes sociais, espaço que os estudantes usam para continuar o debate. Em apoio ao professor, alunos de direito criaram a tag #SomosTodosParaíso e confeccionaram camisetas com a frase.
Em “defesa da justiça”, a testemunha que preferiu não se identificar por conta de ameaças dos próprios estudantes, cita uma frase de ordem, em solidariedade ao colega que foi coagido: “Por menos que conte a história, não te esqueço meu povo. Se Palmares não vive mais, faremos Palmares de novo.”
Em 5 de julho, cerca de um mês depois do ocorrido, os alunos que estavam envolvidos no episódio participaram de sindicância para dar andamento ao caso.