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Conceição Evaristo: “A juventude me potencializa”

16 de novembro de 2018

Escritora conversou com o Alma Preta durante a Festa Literária das Periferias (FLUP) e falou sobre o reconhecimento das suas obras e o impacto da juventude negra na sua carreira

Texto / Pedro Borges
Imagem / Walter Craveiro

Um dos nomes mais reconhecidos pela literatura nacional na atualidade, Conceição Evaristo é autora de obras como “Olhos d’água” (2014) e “Insubmissas lágrimas de mulheres” (2011).

A autora, de 71 anos de idade e nascida em 1946 em Belo Horizonte-MG, hoje tem sido exaltada, principalmente a partir da movimentação da comunidade negra, como uma referência dentro da literatura nacional.

Ela agradece as homenagens e se mostra satisfeita com as recordações feitas ao seu trabalho em vida.

“Quem quiser me homenagear, me homenageie agora, para eu poder viver esse momento”, disse ao Alma Preta.

O livro de contos “Insubmissas lágrimas de mulheres” apresenta o universo feminino no Brasil, em contexto marcado pelo racismo e pelo sexismo. A obra “Olhos D’água”, livro vencedor do Prêmio Jabuti na categoria “Contos e Crônicas”, retrata a violência sofrida pela comunidade negra, em especial as mulheres, nas periferias dos grandes centros urbanos.

Conceição Evaristo passou recentemente pelo processo de entrada para a Academia Brasileira de Letras. Ela poderia se tornar a primeira mulher negra a ocupar uma das cadeiras, que tem a presença de um único negro, Machado de Assis, fundador da casa. Os jurados decidiram por Cacá Diegues, autor dos filmes “Bye Bye Brazil” e “Xica da Silva”. Na disputa, o vencedor teve 22 votos, o segundo colocado, Pedro Corrêa do Lago, 11, e Conceição Evaristo, 1.

Apesar de não compor a ABL, a autora viu uma grande mobilização da juventude negra, em especial nas redes sociais. A #ConceicaoEvaristoNaABL chegou a estar entre os temas mais comentados no Twitter no Rio de Janeiro, no dia da votação.

Conceição conta que é essa juventude quem tem a legitimado e dado a ela um valioso reconhecimento como escritora.

“Eu tenho dito que o que potencializa, o que me dá força, o que tem me dado sentido de reconhecer de que estou no caminho certo é justamente essa recepção. Eu acho que essa recepção me incentiva a continuar o trabalho”.

A admiração parece ser recíproca entre Conceição Evaristo e a juventude negra, como diz a própria escritora.

“Essa juventude tem uma deferência comigo, mas que eu digo que os jovens têm me potencializado muito. Eu me sinto quite com essa juventude”.

Negritude e resistência

Parte significativa da escrita desenvolvida por Conceição Evaristo se deu ao longo das participações da autora nas edições dos Cadernos Negros. Ela estreou na coletânea na 13° edição, em 1990, e de lá para cá publicou 31 poemas e 7 contos.

Ela acredita que experiências como os Cadernos Negros, bem como iniciativas que abordem a temática racial e a presença negra na literatura são fundamentais, principalmente enquanto o país continuar a segregar a partir de uma perspectiva de raça.

“E hoje é mais do que nunca. Enquanto a temática racial não estiver resolvida, ela deve aparecer sempre”.

Um dos exemplos de que a questão racial ainda é uma problemática grande para a sociedade brasileira é a violência cometida contra jovens negros nas periferias do Brasil. De acordo com dados do Atlas da Violência 2018, houve 62.517 homicídios em 2016, o equivalente a 30,3 mortes a cada 100 mil habitantes. Desse total, 71% das vítimas eram negras.

Conceição Evaristo acredita, porém, que essa mesma juventude que hoje é executada pelo Estado, é aquela que tem produzido manifestações políticas e culturais potentes para a mudança social do país.

“Enquanto nós temos jovens que estão sendo mortos, vítimas e algozes da própria situação, nós temos jovens em outros caminhos. Ao mesmo tempo que a gente lamenta uma juventude que é morta, a gente enaltece essa que está ai buscando, encontrando outros caminhos. Essa juventude é o símbolo da renovação de vida”.

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