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Conheça as quatro mulheres negras revolucionárias e vencedoras do Prêmio Nobel

Notáveis em suas áreas de atuação, Toni Morrison, Wangari Maathai, Elen Johnson e Leymah Gbowee são exemplos da importância histórica das mulheres de origem africana

31 de março de 2020

Nos 118 anos de existência do Prêmio Nobel, reconhecimento mundial organizado pela fundação homônima e entregue anualmente a pessoas ou organizações que realizam ações benéficas à humanidade, quatro mulheres negras foram reverenciadas.

Para encerrar o mês de março, em que se celebra internacionalmente o Dia da Mulher, o Alma Preta conta a história de Toni Morrison, Wangari Maathai, Elen Johnson e Leymah Gbowee, figuras notáveis em suas áreas de atuação e exemplos da importância histórica das mulheres de origem africana.

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Toni Morrison (1931-2019)

Nascida em Ohio, nos Estados Unidos, em 18 de fevereiro de 1931, Chloe Anthony Wofford foi a primeira mulher negra a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1993. Filha de trabalhadores negros migrantes do Sul para o Norte dos EUA por conta da segregação racial, a escritora, mais conhecida como Toni Morrison, trabalhou como empregada doméstica na adolescência e aos 18 anos se mudou para Washington para cursar Letras na Universidade de Howard.

Após se formar, Morrison seguiu para a Universidade de Cornell, onde se tornou mestra com sua tese sobre o suicídio nos romances do escritor estadunidense William Faulkner e da inglesa Virginia Woolf. Toni Morrison lecionou língua inglesa em universidades como a Texas Southern, em Houston, onde permaneceu até 1957. O nome Morrison foi adotado de seu esposo, o arquiteto jamaicano Harold Morrison, com que se casou em 1958 e teve dois filhos.

Embora tenha demonstrado afinidade com a literatura desde a infância, a carreira como escritora teve êxito somente após sua mudança para Nova York, em 1964. No estado, Toni Morrison começou a trabalhar na editora Random House, onde foi a primeira afro-americana a ocupar o cargo de editora-chefe.

Ao todo, 11 livros de sua autoria foram publicado e suas obras são consideradas pela crítica como registros históricos e sociopolíticos da comunidade negra dos EUA. Dentre seus livros mais conhecidos, se destacam “Sula” (1974), romance onde a escritora expressa sua preocupação com a situação de vulnerabilidade das mulheres negras do país, e “Tar Baby” (1981), que narra um naufrágio envolvendo pessoas negras às margens de uma ilha caribenha, onde os milionários vivem pacificamente entre seus servos. O mais aclamado, contudo, foi “Amada” (1987), baseado na vida da afro-americana Margaret Garner, que em 1856 fugiu do estado escravista de Kentucky para Ohio, onde a escravidão havia sido abolida.

Além do Nobel de Literatura, Toni Morrison ganhou o Prêmio Pulitzer, em 1988, e inspirou o filme “Bem Amada”, lançado em 1998. Morreu aos 88 anos, em 5 de agosto de 2019, em Nova York. A causa da morte não foi revelada pela família e suas obras seguem como um importante legado para a comunidade negra.

Wangari Maathai (1944-2011)

Um dos maiores nomes da conservação ambiental do mundo, Wangari Maathai foi a primeira mulher do continente africano a receber o Prêmio Nobel da Paz, em 2004. Nascida em 1º de abril de 1940, na província de Nyeri, Quênia, a ambientalista era de uma família de camponeses da etnia kikuyu, a maior do país.

Durante sua adolescência, o Quênia vivia a Revolta dos Mau-Mau, onde os camponeses eram contra o domínio colonial da Inglaterra. Wangari Maathai estudava em um internado e ficou resguardada dos conflitos, mas seus familiares sofreram com a repressão britânica que durou pelo menos uma década, de 1950 a 1960.

Ao concluir a escola, Wangari ganhou uma bolsa de estudos para estudar nos Estados Unidos, onde se formou em Biologia em uma universidade no Kansas. Logo em seguida, ingressou no mestrado na Pensilvânia, onde teve seu primeiro contato com a ideia de reflorestamento ambiental.

De volta ao Quênia, em 1969 se casou com o ativista político Nwangi Mathai, com quem viveu um relacionamento abusivo. Em 1971, a ambientalista concluiu o doutorado em anatomia veterinária pela Universidade de Nairóbi, na capital queniana. Na mesma instituição de ensino superior, Wangari ascendeu em sua carreira como docente, onde se tornou chefe do Departamento de Anatomia Veterinária, em 1976. O trabalho da ambientalista no setor a levou às áreas mais pobres do Quênia, onde observou como a degradação ambiental afetava principalmente as mulheres.

Em 1977, Wangari fundou a organização Green Belt Movement, Movimento Cinturão Verde, na tradução para o português. O ato simples uniu quase um milhão de pessoas e mais de 50 milhões de árvores foram plantadas até hoje por intermédio da organização.

O governo do presidente Daniel Arap Moi reprimiu a atuação da ambientalista, que criticava ações como o plano de construir arranha-céus em um parque de Nairóbi. Wangari Maathai morreu aos 71 anos, vítima de um câncer, no dia 25 de setembro de 2011 na capital queniana.

Ellen Johnson Sirleaf (1938)

Ex-presidente da Libéria (2006-2018), Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher do país a receber o Prêmio Nobel da Paz, ao lado de Leymah Gbowee, em 2011. De origem pobre, Ellen nasceu na capital Monróvia, em 29 de outubro de 1938. Estudou contabilidade no Colégio da África Ocidental e se especializou na área financeira na Universidade de Colorado, nos Estados Unidos, e também em Harvard, se formando em Economia e Administração Pública.

Retornou à Libéria em 1971 para assumir a liderança do Ministério das Finanças no governo do presidente William Tolbert, onde permaneceu até 1973, ano em que o governo sofreu um golpe militar de Samuel Doe.

Ellen Johnson Sirleaf conseguiu exílio no Quênia e trabalhou como diretora do banco Citibank na capital Nairóbi de 1983 a 1985. Regressou ao país de origem quando Doe se declarou presidente para fazer oposição contra seu governo. O militar a condenou a dez anos de prisão em domicílio, mas a pena foi reduzida após Ellen aceitar uma oferta para retornar ao exílio.

Já na década de 1990, ela se mudou para Washington, nos Estados Unidos e atuou como diretora do desenvolvimento do escritório regional africano da Organização das Nações Unidas (ONU). Retornou à Libéria no fim da década em meio aos conflitos que resultaram no assassinato do então presidente Doe.

Em 2005, Ellen venceu às eleições presidenciais do país e buscou apoio dos Estados Unidos para transformar a Libéria no que chamou de “modelo brilhante e exemplo para África e para o mundo daquilo que pode alcançar a liberdade”. Atualmente, é membro do Conselho de Mulheres Líderes Mundiais, rede internacional de presidentes e ex-presidentes com o objetivo de mobilizar mulheres dirigentes a nível mundial para a ação coletiva sobre questões importantes para o desenvolvimento de uma sociedade mais equitativa.

Leymah Gbowee (1972)

Nascida na Libéria em 1º de fevereiro de 1972, Leymah Gbowee é a mulher negra mais jovem a receber o Nobel da Paz, em 2011 junto à então presidente Ellen Johnson Sirleaf. Seu ativismo em defesa das vítimas da guerra civil liberiana eclodida em 1989 a levou a um treinamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para a reabilitação de crianças traumatizadas pela guerra.

Com esse trabalho, Leymah se deu conta da importância das mães na mudança da sociedade. Em 2000, ingressou na organização Women in Peacebuilding Network, onde iniciou sua militância pelas mulheres. Na liderança da instituição, organizou sua primeira mobilização que incluiu mulheres cristãs e muçulmanas de todas etnias. O objetivo da união feminina era rezar pelo fim dos conflitos e compartilhar ideias de conscientização dos direitos das mulheres.

Outras mobilizações encabeçadas por Leymah ganharam visibilidade mundial, a exemplo de ações como greve de sexo, onde as mulheres liberianas anunciaram publicamente que não fariam sexo com seus respectivos companheiros até que a guerra acabasse. A frente da Women in Peacebuilding Network, Leymah também ganhou notoriedade ao fazer o então presidente da Nigéria e mediador de acordos de paz na Libéria, o general Abubakar, a presenciar manifestantes nuas. A ativista destacou que no continente africano um homem ver uma mulher casada ou idosa sem roupa é considerada uma maldição.

A repercussão midiática de suas ações levaram à pressão internacional para o fim do regime autoritário de Charles Taylor, que se viu obrigado a reconhecer as reivindicações das mulheres liberianas. Taylor encerrou os conflitos no país e a saída de seu governo abriu o caminho para as eleições que resultaram na vitória de Ellen Johnson Sirleaf, companheira de ativismo de Leymah até hoje.

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  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Atua há seis anos na cobertura das temáticas de Diversidade, Raça, Gênero e Direitos Humanos. Em 2023, como editora da Alma Preta, foi eleita uma das 50 jornalistas negras mais admiradas da imprensa brasileira.

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