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Conheça Joãozinho da Gomeia, liderança do candomblé homenageada pela Grande Rio

Negro e LGBT, um dos mais conhecidos líderes da religião de matriz africana no país era considerado polêmico e ousado para o seu tempo

27 de fevereiro de 2020

João Alves de Torres Filho, mais conhecido como Joãozinho da Gomeia, foi uma das lideranças do candomblé mais conhecidas do país e homenageada pela Acadêmicos do Grande Rio, vice-campeã do Carnaval de 2020 do Rio de Janeiro.

Com o enredo “Tata Londirá: o canto do caboclo do Quilombo de Caxias”, a escola de samba trouxe para seu desfile a história do pai de santo como ponto de partida para abordar o racismo, a homofobia e a intolerância religiosa no país, após 26 anos sem um enredo negro.

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A agremiação contou detalhadamente a trajetória de João da Gomeia. Um dos pontos fortes do desfile foi a comissão de frente ilustrando a infância do líder religioso e o momento em que o babalorixá entrou em contato pela primeira vez com o Orixá que o guiou por toda sua vida.

As alas também representaram períodos conturbados da vida do babalorixá. Uma delas retratou a busca de Joãozinho por atendimento médico depois de sofrer fortes dores de cabeça. O terreiro da Gomeia foi retratado no terceiro carro e o desfile terminou com uma crítica ao fato de o local estar abandonado.

A escritora Conceição Evaristo e o babalaô Ivanir dos Santos, entre outras personalidades negras, vieram no último carro da escola, com alegorias luxuosas e fantasias bem acabadas.

O ‘rei do candomblé’

Negro e homossexual, Joãozinho da Gomeia nasceu em Inhambupe, na Bahia, e iniciou sua trajetória religiosa quando tinha 16 anos, em 1931, na cidade de Salvador.

O babalorixá era considerado uma figura polêmica e ousada para o seu tempo por ter levado a dança dos orixás para os palcos de teatro e, entre outras coisas, pela vez que se vestiu de mulher no carnaval de 1956. O episódio teve repercussão negativa na própria comunidade da religião de matriz africana e o fez ser manchete de diversos jornais e revistas da época.

Sua notoriedade, no entanto, veio com a consolidação do seu terreiro em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, onde atendeu personalidades artísticas e políticas, como os ex-presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

Pesquisadores de sua trajetória destacam que a mudança de Joãozinho da Gomeia da Bahia para o Rio de Janeiro fez parte de um movimento estratégico no qual diversos babalorixás esbarravam na resistência das mães de santo e dos terreiros tradicionais. Esse movimento, inclusive, é apontado como fundamental para a consolidação do candomblé no Sudeste, especialmente no eixo Rio-São Paulo.

Filho de Iansã e Oxóssi, o líder religioso morreu aos 56 anos vítima de um tumor no cérebro e de complicações cardíacas. Sua despedida é lembrada por seus admiradores em tom lendário na Baixada Fluminense. Relatos dão conta de que após o enterro os raios de Iansã cortaram o céu e uma tempestade repentina fez o dia virar noite na capital paulistana.

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