Nos mais de 40 anos do apartheid, regime segregacionista que oprimia as pessoas não brancas na África do Sul, as mulheres negras lideraram movimentos importantes de oposição ao governo sul-africano e mobilizaram a sociedade na luta por liberdade.
A Alma Preta selecionou quatro ativistas negras que se destacaram no combate ao apartheid. Confira:
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1. Sophia Williams-De Bruyn
Aos 81 anos, Sophia Williams-De Bruyn é a última líder viva da Marcha das Mulheres, que em 9 de agosto de 1956 reuniu 20 mil mulheres de diferentes etnias contra um dos principais instrumentos de opressão do apartheid.
Conhecida como “Lei do Passe”, a medida obrigava as pessoas não brancas a usarem uma caderneta que ditava onde elas podiam ou não ir. A manifestação liderada por Sophia permanece como um marco importante para relembrar o passado de luta e enaltecer a força da população feminina sul-africana.
A ativista também foi responsável pela fundação do Congresso dos Sindicatos da África do Sul, em 1955, na defesa dos direitos trabalhistas. Sophia foi a primeira a receber o Prêmio das Mulheres por sua atuação excepcional no país e, em 2016, se juntou a uma grande multidão na comemoração dos 60 anos da Marcha das Mulheres.
Atualmente, ela é legisladora na província de Gauteng pelo Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder da África do Sul pós-apartheid desde a eleição de Nelson Mandela, em 1994.
2. Adelaide Tambo
A introdução de Adelaide Tambo ao ativismo anti-apartheid foi brutal, como ela mesma costumava descrever. Aos 10 anos, a sul-africana testemunhou seu avô de 82 anos ser chicoteado em uma praça da cidade de Vereeningig, no sul de Joanesburgo. O tratamento humilhante sofrido por seu avô pelas mãos da polícia foi decisivo para que ela passasse a se dedicar à luta contra a segregação racial.
Adelaide também participou da Marcha das Mulheres de 1956 e atuava no Congresso Nacional Africano (ANC). Após o massacre de Sharpeville, em 21 de março de 1960, quando 69 pessoas foram mortas à tiros pela polícia em um protesto, Adelaide e seu esposo Oliver Tampo, também ativista, se exilaram em Londres, onde permaneceram por 30 anos, mas sem abandonar o movimento anti-apartheid.
Mesmo longe de seu país natal, a ativista tinha uma forte presença física e uma personalidade capaz de obter resultados de aliados, pois era respeitada pelo corpo diplomático de embaixadores africanos e asiáticos. Em um evento em 1990, Nelson Mandela agradeceu Adelaide por sua contribuição à luta contra o apartheid.
3. Lillian Masediba Ngoyi
Presidente da Liga das Mulheres no Congresso Nacional Africano (ANC), Lilian Masediba Ngoyi era conhecida por sua facilidade de falar com o público. Durante sua vida, ela liderou reuniões contra o apartheid e atuou na ampliação da organização feminina na África do Sul, dando origem a Federação de Mulheres, em 1954.
A federação chegou a mobilizar cerca de 230 mil mulheres com o objetivo de lutar para que todas as pessoas tivessem acesso aos mesmos direitos e para as mulheres serem livres para se organizar politicamente, independente da condição racial.
Na marcha de 1956, Lilian Masediba Ngoyi bateu a porta do primeiro-ministro Strijdom com milhares de petições contra a “Lei do Passe” em mãos. Para ela, a medida deixaria as mulheres negras ainda mais expostas à violência policial.
4. Albertina Sisulu
O ativismo político de Albertina Sisulu a levou a se tornar uma das líderes mais importantes da resistência ao apartheid. Conhecida como “Mãe da Nação”, ela também esteve à frente da Federação das Mulheres.
Ao lado de Lilian Masediba Ngoyi, Albertina organizou um boicote contra o aumento da tarifa do transporte público em cidades como Sophiatown e Lady Shelburne, onde transportavam 25 mil pessoas, em sua maioria negra.
A grande mobilização social provocada pelo ativismo de mulheres como Albertina Sisulu resultou em uma resposta do governo com ataques da polícia, prisões e descontinuidade do serviço de transporte público. Os protestos, no entanto, continuaram e o governo decidiu reduzir o preço da passagem.
Para a ativista, as mulheres eram fundamentais no combate à segregação racial. O objetivo principal de Albertina Sisulu era destruir o sistema que elaborava as políticas segregacionistas, por isso seu ativismo a colocava frequentemente em luta contra o regime vigente.