Pink Money é a expressão que se refere ao consumo de itens ligados à comunidade LGBTQIA+ através da criação de produtos e serviços específicos para este grupo. É um mercado importante e que, segundo o economista e doutor em política Marcos Henrique, se estabelece desde a última década e meia, quando o governo investiu em diversas políticas de combate ao preconceito – em várias esferas – com reflexo também na comunidade LGBTQIA+.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o poder aquisitivo de casais homoafetivos é até 30% maior, com foco em itens de moda, design e viagens. Para além do discurso sobre diversidade, um dos fatores que estrutura o Pink Money é justamente esse poder de compra, explica o economista. “É um movimento que tem crescido nos últimos anos e com um impacto na economia para a geração de emprego, de renda”, classifica.
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Em 2020, as vendas resultadas deste tipo de consumo ideológico movimentaram mais de R$ 450 milhões no país. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual (IBDSEX), a comunidade LGBTQIA+ no Brasil retém mais recursos financeiros, sendo que quase 10% tem renda mensal superior a cinco salários mínimos.
Além das marcas que investem na geração do Pink Money, eventos voltados para o público LGBTQIA+ exemplificam os números trazidos por especialistas e comprovados nas pesquisas. Em 2019, a Parada LGBT de São Paulo movimentou R$408 milhões – impacto gerado através da movimentação no turismo e em itens como transporte e alimentação. O evento reuniu mais de três milhões de pessoas na Avenida Paulista e registrou crescimento de 78% em relação à Parada de 2017.
Além da perspectiva econômica
“Enquanto profissional e, acima de tudo, gay, vejo que algumas marcas atuam com sinceridade e transparência, trazem à tona o real motivo de estampar nossas cores em suas logomarcas”, explica o publicitário Fabio Cruz. Para ele, é importante levar em consideração que poucas empresas agem de forma honesta quando o assunto é Pink Money. Há empresas que, por exemplo, só levantam essa bandeira no mês de junho.
Miranda Luz, fashion multitask e primeira mulher trans a assinar o styling de um desfile do São Paulo Fashion Week (SPFW), considera que ao longo do Mês do Orgulho, a discussão sobre Pink Money se mostra ainda mais importante. “As marcas querem se associar ao meu corpo, o corpo de uma mulher trans e preta. Se isso acontecesse de forma constante e natural, eu poderia enxergar como isso é uma mudança na mentalidade do mercado”, desabafa.
Na intersecção entre as discussões raciais e de LGBTQIA+fobia, Fabio analisa a geração de dinheiro sem mudanças estruturais como desonesta. “É a forma mais descarada de dizer que o trabalho e a bandeira de um povo é menor e, por isso, facilmente usada quando convém aos grandes. Quando grandes empresas pensam nisso, elas reduzem aqueles que se abrigam dentro desses grupos”, considera.
O Brasil é o país que mais mata a população LGBTQIA+ no mundo há 12 anos e a falta de inclusão da comunidade no mercado de trabalho é um das fatores que contribui para isso. “Do ponto de vista social, a inclusão dessas pessoas e o combate à violência ainda é um longo processo que temos pela frente, mas do ponto de vista econômico a tendência é crescer cada vez mais. A turma que saiu do armário não volta mais, assim como o combate ao racismo não vai retroagir, então são movimentos que se mantém ativos e crescendo e isso é muito interessante”, conclui o economista Marcos Henrique.