No Brasil há cinco anos, Matuka David representa o sonho de milhares de refugiados que deixam seus países por causa de conflitos armados, crises econômicas ou perseguições raciais em busca de melhores condições de vida. Apaixonado por futebol, ele é o goleiro do time da República Democrática do Congo na sexta edição da Copa dos Refugiados.
O torneio é organizado pela ONG África do Coração com o apoio da Agência da ONU para Refugiados (Acnur) e da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Seis capitais participam da edição de 2019, que envolve aproximadamente 1.120 atletas de 39 nacionalidades.
Matuka David deve defender o Congo na etapa nacional do campeonato no Rio de Janeiro, ainda este ano. No domingo (20), o time congolês garantiu a participação no nacional após vencer o Niger por 2 x 0, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo.
“Eu estou muito feliz por ter chegado aqui. A preparação foi difícil, mas a gente sabia que não podia perder. Nós viemos para ganhar”, conta o goleiro.
A vitória do Congo na etapa regional, em São Paulo, foi a primeira na liderança do técnico Sérgio Pereira. O profissional vive no Brasil desde 2017. A última vez que o time congolês havia sido campeão foi em 2016.
“Foi minha primeira vitória no time e conseguimos fazer um trabalho maravilhoso. O campeonato é uma oportunidade de mostrarmos aos brasileiros o nosso talento. Temos muito a oferecer”, comentou o técnico.
Na etapa nacional, também participam os times da Angola, vencedor no Rio de Janeiro; Cabo Verde, vencedor em Recife; Colômbia, vencedor em Curitiba; Guiné-Conacri, vencedor em Brasília; e Líbano, vencedor em Porto Alegre.
Segundo Braima Mané, natural da Guiné-Bissau e coordenador geral da fase regional do evento, a competição traz aos atletas a oportunidade de se tornarem jogadores profissionais.
“Existem olheiros que buscam nossos atletas para participar de times profissionais. É uma felicidade para todos quando isso acontece”, afirma.
Futebol, a linguagem universal
Apesar de a Copa dos Refugiados dar visibilidade aos atletas imigrantes, o objetivo principal do evento não é a consagração esportiva.
O vice-presidente da ONG África do Coração, o sírio Abdulbaset Jarour, explica que o torneio foi criado para ser uma ferramenta de união entre refugiados de diferentes países por meio do futebol.
“É um projeto onde usamos o futebol como uma linguagem universal para unir as pessoas no combate ao racismo e a xenofobia. O que menos importa é o resultado, pois não vale dinheiro e sim o reconhecimento da humanidade e a conscientização sobre as pessoas em situação de refúgio no Brasil e no mundo”, sustenta.
Para Prudencia Kalambayi, ativista de direitos humanos, o evento proporciona, de fato, a integração entre pessoas de nacionalidades diferentes.
“Essa união é uma forma de quebrar todos os preconceitos. Eu, por exemplo, sou uma mulher que veio do Congo e conheci através do evento imigrantes do Iraque”, relata.
A ativista vive no Brasil há 11 anos e era uma das torcedoras mais animadas do Congo na partida contra o Niger, no Estádio do Pacaembu. “O campeonato faz os sonhos dos jogadores refugiados se tornar realidade. É lindo de ver”, conclui.