RedeTV!, a emissora com mais diversidade, tem apenas 9% de negros entre os apresentadores
Texto / Anna Laura Moura
Imagem / nappy.co
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O racismo estrutural está presente em todos os locais e âmbitos da sociedade. A ausência do corpo negro é muito mais ampliada do que imaginamos e é tão naturalizada que passa despercebida. Não é diferente no esporte.
Muito se tem falado sobre a Copa do Mundo, tanto dos próprios jogos, quanto nas problemáticas dentro do torneio. De youtubers racistas a assédio sexual com jornalistas e torcedoras, o campeonato tem entretido os apaixonados por futebol, mas também gerado debates sobre questões importantes.
Durante todas as partidas que ocorreram até agora no mundial, assim como nos campeonatos nacionais, quantos narradores negros você se recorda de ter visto? Poucos? É natural que você não se lembre, pois segundo dados levantados pela revista Vaidapé, apenas 3,7% dos apresentadores de televisão são negros. Na prática, a proporção é de 10 negros para 261 brancos. A emissora RedeTV! é considerada a mais diversa, alcançando 9%. Os últimos lugares do ranking são ocupados por SBT e Record.
Por um lado, é bom ver que ainda há nomes conhecidos no ramo jornalístico, como os comentaristas Abel Neto (Fox Sports) e Paulo César Vasconcelos (SporTV). Todavia, os dados são estrondosos e deixam nítida a falta de representatividade negra em mais um ambiente: o esportivo. Com poucos técnicos de seleções mesmo nos times africanos, a ausência de corpos negros não está só no campo, mas também na cabine de narração.
Representatividade feminina e a ausência da mulher negra
A historiadora Aira Bonfim afirma que o futebol é mais um exemplo de exclusão. “Palco de todos esses ‘ismos’ sociais que vivemos, o machismo e o racismo são grandes fatores. Esses espaços de atuação e visibilidade têm grande restrição a minorias”, explica.
Um caso que tem tomado proporção é o exemplo da jornalista Isabelly Morais, que em 15 de junho estreou como a primeira narradora da Copa do Mundo na televisão brasileira, pela Fox Sports. Junto dela, as jornalistas Renata Silveira e Manuela Avena também foram escolhidas pelo canal através do concurso “Narra Quem Sabe”, criado pela repórter Vanessa Riche.
“Sabemos que aqui no Brasil esses preconceitos estão inerentes a quaisquer grupos”, disse Aira, que afirma que no futebol esses pontos são ainda mais acentuados, pois está associado à virilidade e à masculinidade. No caso das mulheres, como na maioria das modalidades de esportes, foram organizadas e criadas para homens, sem espaço para as mesmas. Estar neles, portanto, é um ato de resistência.
“Dentro dessa intersecção, a mulher negra é de fato alguém que fica na base dessa pirâmide de acesso e participação dentro desse ambiente”, explica Aira.
A partir dessa ideia, é de extrema importância ressaltar a contínua opressão que a mulher negra sofre: mesmo com o (pouco) crescimento feminino nos ambientes, a presença é majoritariamente de pessoas brancas. Isso é refletido também nos espaços esportivos, onde a presença do corpo feminino negro é praticamente nula.
As inclusões de Renata, Manuela e Isabelly podem ser consideradas, de fato, como avanços, visto que o esporte é um local ocupado por homens, mas ainda há muitos retrocessos em termos de raça.
Logo, é possível levar em consideração que eventos do porte da Copa do Mundo podem ser usados como oportunidades para haver debate significativo sobre o espaço que grupos historicamente oprimidos, como pessoas negras, ainda têm negligenciados.
“Aos poucos vamos desmistificando esse ponto e falando sobre, pois a Copa do Mundo é um evento midiático. Devemos aproveitar o ‘gancho’ para discutir esses agravantes”, conclui Aira.