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Covid-19: por que o Brasil pode ter uma terceira onda da pandemia e ainda pior

Médico especialista explica o conjunto de fatores que pode fazer o Brasil ainda levar muito tempo para se ver livre da pandemia; mais vulnerável ao vírus e menos vacinada, a população negra e periférica é a mais afetada

Texto: Roberta Camargo | Edição: Nataly Simões | Imagem: Agência Brasil

Dois testes de covid-19 em uma mesa branca

1 de junho de 2021

O aumento de casos de Covid-19 em alguns estados aponta a tendência de uma terceira onda da doença no Brasil, de acordo com dados do InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz.  O cenário se estabelece com o crescimento da circulação de novas variantes do vírus, aumento da flexibilização nos estados e ritmo lento da vacinação.

O médico sanitarista Daniel Dourado explica que o momento é preocupante e uma nova onda pode ser pior que as anteriores. “Os casos estão aumentando e é possível que seja maior do que os outros picos, porque tem muitas variantes que são desconhecidas. O vírus que circula no Brasil não é o mesmo de 2020 e elas têm características diferentes”, pontua. 

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A classificação de uma terceira onda da pandemia é resultado da observação dos dados do contágio e controle realizada em outros países. “A nomenclatura é usada em relação aos países que controlaram a pandemia de fato, aqui [no Brasil] não houve um controle”, alerta Daniel, que salienta também o significado das variantes neste contexto. “Embora existam elementos em comum de que é o SarsCov2, são subtipos diferentes, então tem muita coisa que pode ser imprevisível nesse cenário”, afirma o sanitarista. 

De acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na capital paulista, negros tem 77% mais riscos relativo de morte por consequência da Covid-19. Além da desigualdade, falta de acesso à saúde, amparo financeiro, comunicação assertiva do governo e a possibilidade para o cumprimento do isolamento social são os principais fatores que sustentam os dados. O cenário é o mesmo que se estabele desde o surgimento do segundo pico da doença no Brasil.

Clima frio e falta de pesquisa

Mais perto do período mais frio do ano, o inverno, a nova onda de picos de casos e internações por consequência da Covid-19 pode ser intensificada pelo clima. Daniel explica que o vírus circula mais a partir da diminuição de temperatura. Isso potencializa o poder da disseminação e contaminação.  

“O Brasil não tem feito testagem molecular, não tem feito monitoramento genômico de variantes, o que se sabe é muito pouco”, destaca o médico, sobre os impactos da falta de pesquisa e investimento do país para reconhecer e ter meios de conter as novas variantes.

No Reino Unido, mesmo com mais de 40% da população vacinada e medidas rigorosas para manter o isolamento, houve um aumento expressivo nos casos na última semana, consequência da chegada da variante que surgiu na Índia ao país, exemplifica o médico. Tais dados só podem ser apurados quando há investimento em pesquisa. 

As soluções para conter os impactos do novo pico da doença no país estão no distanciamento e na vacinação. Na última semana, em mais de 200 cidades a população foi às ruas para pedir acesso à vacinação no Brasil, que já poderia ter um cronograma avançado, não fosse a falta de interesse e lentidão do governo Bolsonaro nas negociações com farmacêuticas realizadas em 2020. 

“A vacinação precisa tem que ir numa velocidade que seja maior que a velocidade da transmissão, e a gente faz isso acelerando a vacinação e diminuindo o contato entre as pessoas. Nenhum governo faz lockdown porque quer fazer, faz porque precisa”, conclui o médico.

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