A delegacia especializada em combate ao crack foi criada em julho de 1995 pelo então governador Mário Covas, que assinou um decreto para a criação do distrito policial vinculado ao Departamento de Investigações Sobre Narcóticos (Denarc). Foi quando o termo ‘Cracolândia’ passou a ser usado para referenciar a aglomeração que se formava nos bairros da Santa Ifigênia e dos Campos Elíseos, no centro de São Paulo, para o uso de drogas.
A delegacia definiu políticas de repressão e, após quase 30 anos, a Cracolândia ainda é alvo frequente de ações policiais que têm pouco efeito em relação à redução do uso e venda de drogas.
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A reportagem da Agência Brasil, mostrou que, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, entre 2011 e 2023, o 3º Distrito Policial, dos Campos Elíseos, registrou 3.113 casos de tráfico, cerca de 259 por ano. Já a 77ª Delegacia de Polícia, da Santa Cecília, também no Centro, listou pouco mais de dois mil casos de venda de crack na região.
Operações violentas
O relatório divulgado pela Defensoria Pública de São Paulo sobre a Operação Caronte, lançada pela polícia civil em 2022 como uma ação de “inteligência” no combate ao tráfico de drogas na região da Cracolândia, mostrou que a maior parte das pessoas detidas estavam em situação de rua e algumas nem sequer portavam drogas.
A análise dos 641 registros de prisões feitas entre setembro e novembro de 2022, apontou que 638 pessoas foram enquadradas somente no Artigo 28 da Lei de Drogas, que diz respeito ao porte para consumo pessoal. Em 556, a polícia apreendeu cachimbos com resquícios de crack e cocaína e em apenas oito casos foram apreendidas drogas em alguma quantidade.
Em 2020, uma reportagem publicada pela Alma Preta mostrou que, de acordo com uma pesquisa da época feita pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 30,8% das pessoas que vivem na Cracolândia são pretas e 45,8% pardas. Mulheres e pessoas trans são 23,7% e 7,5%, respectivamente.