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Criada por quatro negros, Vale do Dendê busca incluir periferia de Salvador na rota tecnológica do país

29 de agosto de 2019

A iniciativa pretende ligar projetos das periferias com financiadores. A preferência é para o público negro

 Texto / Luca Veloso | Edição / Pedro Borges | Imagem / Divulgação

O Vale do Silício, nos Estados Unidos, abriga milhares de start-ups e empresas globais de tecnologia. O Facebook, a Apple, e o Google são alguns exemplos. Em Salvador, existe a Vale do Dendê, que, seguindo o exemplo americano, pretende tornar a cidade baiana um polo reconhecido internacionalmente.

A ideia foi criada pelo publicitário Paulo Rogério, a produtora cultural Ítala Herta, o consultor em diversidade, Helio Santos e o jornalista Rosenildo Ferreira. O grupo tinha a angústia de não ver a cidade reconhecida como espaço de tecnologia e inovação.

A empresa é um escritório social, com o objetivo de fomentar projetos na cidade de Salvador. “Quando criamos, o nosso objetivo era posicionar Salvador como a capital mais criativa do país”, afirma Ítala Herta, uma das fundadoras do negócio.

Hoje, a Vale trabalha em três pilares. A Escola oferta cursos, treinamentos, workshops e formações. Na Aceleradora, desenvolvem produtos e soluções tecnológicas de impacto socioeconômico a baixo custo. Já a Consultoria pensa de maneira estratégica em como criar projetos de inovação e criatividade, a partir de áreas da cidade com potencial econômico.

“Nós oferecemos aos jovens e mulheres de Salvador o protagonismo em seu negócios, espaço nem sempre encontrado por essas pessoas”, comenta Ítala. “Queremos mostrar que somos a capital mais criativa do país. Aqui, além de ser um grande celeiro de música, literatura e moda, temos tecnologia”, completa.

Nos dados internos do escritório, desde 2016, mais de trinta mil pessoas acessaram o espaço físico da Vale, foram mais 90 parceiros envolvidos nas ideias e 107 candidatos já foram avaliados no programa de Aceleração.

Segundo dados da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Salvador é a cidade do Norte-Nordeste com maior número de startups em atuação. No país, está na oitava posição. De acordo com números da Receita Federal, de 2015, o estado possui mais de 352 mil microempreendedores individuais (MEI) cadastrados. A partir do levantamento, a Bahia ganha destaque no cenário nordestino com o maior número de registros.

Produzido pela Endeavor Brasil, e lançado em 2016, a terceira edição do Índice das Cidades Empreendedoras (ICE) apontou a cidade de Salvador como a 25ª cidade mais empreendedora no Brasil, entre as 32 avaliadas.

Para Ítala, os números mostram o potencial da cidade em alcançar visibilidade no cenário nacional como referência inovadora, levando em conta que a diversidade é algo diferencial na região.

“A gente olha pra cidade e vê a cultura africana, a diversidade como algo inovador e diferente das demais. Acreditamos que podemos ser uma rota global de inspiração e criação dos projetos bem sucedidos na indústria criativa”, aposta. “Buscamos incorporar essa narrativa e sair da invisibilidade nacional”, emenda.

Negros na tecnologia

Ítala acredita que mesmo com a contribuição histórica dos negros na tecnologia e inovação, falta espaço para colocar em prática suas ideias e serem reconhecidos enquanto produtores de conhecimento à humanidade.

“A presença dos negros na inovação é milenar. Nós somos descendentes de criativos e inovadores. Se for pensar em matemática, a física e as ciências, a gente parte do grande berço, que é a Àfrica, um ecossistema de invenções, mas somos invisibilizados. É cruel”, lamenta.

“As pessoas que estão nas margens são a grande potência. Na periferia há muita potência e tecnologia, mas é escondida por conta do racismo. Sendo assim, não recebe os investimentos necessários para serem realizadas”, aponta. “Não somos referenciados como um berço de tecnologia e inovação”, acrescenta.

Um levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em 2016, constatou uma divisão racial do trabalho no país. Na área de engenharia de equipamento em computação, 92% dos trabalhadores são brancos. 90% dos engenheiros mecânicos automotivos são brancos, como 88,4% dos engenheiros aeronáuticos.

Por outro lado, as atividades que demandam maior trabalho braçal ou uma formação menos complexa, os negros são maioria, como os trabalhadores da cultura do dendê – 92,7% e os cultivadores de trepadeiras frutíferas – 84,3%.

O Monitor Global de Empreendedorismo, levantamento conduzido pelo Sebrae e pela Fundação Nacional de Qualidade, 16,8% dos empreendedores negros têm renda de até um salário mínimo. Entre os brancos, o número é de 6,4%.

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