Os deslocamentos forçados podem ser motivados por conflitos, episódios crescentes de violência e violações de direitos, mas nos últimos anos a crise climática se configurou também como um dos fatores que causam esse tipo de migração, tendo ocasionado 220 milhões de deslocamentos internos em uma década.
As informações são do relatório “Sem escapatória: na linha de frente das mudanças climáticas, conflito e deslocamento forçado”, divulgado nesta terça-feira (12) pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) durante a Conferência do Clima (COP29), em Baku, no Azerbaijão.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
De acordo com o levantamento, das mais de 120 milhões de pessoas forçadas a se deslocar ao redor do globo, três quartos vivem em países fortemente impactados pelas mudanças climáticas, como Etiópia, Síria e Mianmar. A divisão representa o número de, aproximadamente, 90 milhões de imigrantes.
No Sudão, a guerra foi uma das causas que motivou a migração interna de 700 mil pessoas, que cruzaram para o país de Chade, na África Central. No entanto, a região é constantemente exposta aos eventos extremos de mudanças climáticas. Aqueles que permaneceram nas cidades sudanesas também enfrentaram novos deslocamentos, pelo aumento de enchentes severas.
Ao longo dos dez anos observados, a pesquisa estima o número de 60 mil casos de deslocamentos internos diários associados ao clima. Em 2023, mais de um quarto do total diário ocorreu em contexto que também somavam conflitos.
“Para as pessoas em situação de maior vulnerabilidade do mundo, as mudanças climáticas são uma realidade dura que afeta profundamente suas vidas. A crise climática está impulsionando o deslocamento em regiões que já abrigam muitas pessoas deslocadas, agravando sua situação e deixando-as sem um local seguro”, declara Filippo Grandi, alto-comissário da Acnur, em nota.
O relatório ainda estima que, até 2040, o número de países enfrentando “perigos climáticos extremos” deve aumentar de três para 65, sendo a grande maioria localidades que já hospedam populações deslocadas. “O calor extremo também aumentará significativamente, com a maioria dos assentamentos e campos de refugiados projetada para experimentar o dobro de dias com calor perigoso até 2050″, diz trecho do documento.
Por fim, a organização recorda que os países classificados como extremamente frágeis recebem um financiamento de apenas U$ 2,10 anual per capita para realizar as adaptações necessárias, comparados com U$ 161 recebidos pelos países em estado não frágeis. “Mesmo dentro dos estados, o financiamento climático não alcança as populações mais vulneráveis”, destaca o documento.