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‘Democratizar o turismo aos negros é lutar contra o racismo’, diz empresária

4 de novembro de 2019

O Brasil não registra a porcentagem racial dos viajantes, mas especialistas acreditam que a porcentagem é menor que dos brancos  

 Texto / Lucas Veloso | Edição / Pedro Borges | Imagem / Divulgação

“Queremos trazer as pessoas pretas para viajar e entrarem em contato com a sua própria história e com novas perspectivas de futuro para si e para os seus”. Esse é o desejo de Beatriz Santos de Souza, criadora da Brafrika Viagens.

A empresa se define como uma agência de turismo online afrocentrada, que oferece pacotes individuais e em grupos para viagens nacionais e internacionais em lugares com forte história ancestral sobre a população negra.

Em 2018, o número de embarques de passageiros atingiu a marca de 6,5 milhões, alta de 17% em relação a 2017 – 5,5 milhões. Os números são do Anuário Braztoa 2019, da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo.

Do total de passageiros embarcados, 5 milhões foram para destinos dentro do Brasil, 77,1%. Já a porcentagem de turistas para destinos internacionais foi de 22,9%. Ou seja, 1,5 milhões de brasileiros viajaram para fora do país no ano passado.

Dentro deste universo, o Ministério do Turismo não consegue precisar qual a porcentagem de pessoas negras como viajantes. “As agências reguladoras de turismo no Brasil não exigem o registro de raça do viajante, por conta disso os números são imprecisos e praticamente não há levantamentos estatísticos sobre o tema”, pontua Beatriz.

Por outro lado, ela acredita que com a política de massificação do turismo, nos últimos anos mais negros viajaram dentro do Brasil e para o exterior.

Para Beatriz, iniciativas de pessoas negras em prol do turismo colaboram na resistência ao racismo estrutural. “O Brasil, como um país racista, apaga ativamente os rastros e marcos históricos dos povos pretos que constituíram o nosso país, e mostra uma possibilidade perversa e alarmante de futuro a essa população”

Neste sentido, a empresária atesta que o mercado de turismo reflete internamente o apagamento. “Nossos roteiros tiram esse ‘véu que nos cega’, e valoriza, resgata através dos serviços. É uma nova perspectiva de futuro criada e revigorada através de histórias de sucesso e resistência do povo preto”, resume.

‘Lugares apagados’

Há décadas no mercado de turismo, a consultora de turismo internacional Tânia Neres relembra que até pouco tempo atrás não conhecia nenhuma empresa de turismo que fazia serviços destinados às pessoas negras “O chamado turismo étnico voltado a negros é algo muito recente no Brasil”, confirma.

Ela, que vive em Salvador, na Bahia, aponta que os destinos turísticos importantes à população negra ainda não são expressivos. “Aqui na cidade só existe um tour para conhecer uma Casa de Candomblé para desmistificar o lado negativo criado sobre a religiosidade de matriz africana”, exemplifica. “Enxergo como algo provocado pelos nossos colonizadores, e vejo muito pouco produto no mercado baiano voltado aos negros”, analisa. .

Tãnia ainda lembra que na cidade existem dezenas de quilombos e espaços que poderiam ser valorizados pelo turismo, mas são ignorados pelo mercado turístico. “O Pelourinho tem suas histórias de muito sofrimento e também de manifestações negras, mas os pacotes históricos não focam em nenhum herói negro na Bahia. E olha que tem uma estátua de Zumbi logo ao iniciar a caminhada pelo local. Se conta mais a história branca dos colonizadores”, critica.

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