Segundo um morador, mesmo existindo um contrato firmado com uma imobiliária, há risco de as pessoas serem obrigadas a sair do espaço.
Texto: Juca Guimarães e Nataly Simões | Imagem: Juca Guimarães
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A Prefeitura de São Paulo iniciou na manhã desta sexta-feira (18) uma ação de interdição de ruas na região da Cracolândia onde usuários de entorpecentes e pessoas desabrigadas vivem. O objetivo é desocupar o espaço para dar seguimento a pedidos de demolição de imóveis que correm na justiça.
Segundo o Centro de Convivência É de Lei, cerca de 400 pessoas podem ser afetadas pela ação coordenada pela GCM (Guarda Civil Metropolitana), CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e Polícia Militar.
José Souza Junior mora na região há seis anos e administra uma espécie de moradia popular na Alameda Dino Bueno, que cobra um valor simbólico para cerca de 50 a 60 famílias. De acordo com ele, mesmo existindo um contrato firmado com uma imobiliária, há risco de as pessoas serem obrigadas a sair do espaço.
“Já foram demolidos imóveis atrás do que eu administro. A imobiliária faz pressão para sairmos, mas eu não tenho como entregar os imóveis porque temos pessoas morando aqui. Não tenho como colocá-las na rua”, conta, em entrevista à agência Alma Preta, que esteve no local nesta manhã.
Foto: Juca Guimarães/Alma Preta
De acordo com um comunicado que circula nas redes sociais, a ação de interdição de imóveis da Alameda Dino Bueno, Rua Helvétia, Alameda Barão de Piracicaba e Largo Coração de Jesus deve durar 60 dias. Somente após esse período, as demolições serão concretizadas. Ainda segundo o comunicado, o “fluxo” da Cracolândia permanecerá na Alameda Cleveland, em frente à CPTM, que é o local costumeiro.
Uma ativista independente de direitos humanos conta que a Defensoria Pública do Estado de São Paulo constatou que a Justiça autorizou as demolições após receber informações de que no local só haviam estacionamentos.
“Agora, a defensoria vai anexar no processo imagens que comprovam que no local vivem seres humanos. As pessoas já disseram que não vão sair do espaço por estarmos em uma pandemia e por saberem de seus direitos”, detalha a ativista, que por motivos de segurança não terá a identidade revelada pela reportagem.
A agência Alma Preta procurou a Secretaria Municipal de Habitação e questionou se as pessoas que devem ser retiradas das moradias receberão algum tipo de assistência e como tem sido estabelecido o diálogo com os moradores dos imóveis da região da Cracolândia. Até a publicação deste texto, a pasta não se posicionou.