A Alma Preta separou nomes de personalidades negras da internet que, nos últimos dez anos, conseguiram usar da criatividade para pluralizar narrativas
Texto: Victor Lacerda I Edição: Lenne Ferreira I Imagens: Reprodução/Internet
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Alterando o cenário de criação de conteúdo nacional e seus formatos de divulgação, as redes sociais tornaram-se vitrines para quem não se sente representado na mídia tradicional. Com o alcance que a internet proporciona, muitos são os nomes que despontam como influenciadores de uma geração que dorme e acorda com o celular na mão. Realezas da audiência de todo o Brasil criam narrativas que vão de encontro ao senso comum e promovem debates importantes nas telas dos dispositivos digitais.
Até outubro de 2019, uma pesquisa realizada pela empresa GlobalWebIndex, especializada em estudos sobre o consumo de informações via internet, apresentou o dado de que o Brasil é o 2º país do mundo que mais usa redes sociais. Este número expressivo de adesão a plataformas como Instagram e YouTube, possibilitou a democratização da informação e gerou mais representatividade.
O nicho de influenciadores rompeu com a lógica do universo da internet, espaço que era majoritariamente branco, e potencializou a visibilização de grupos historicamente marginalizados. Esses líderes de audiência na web têm assumido um papel importante para gerar engajamento sobre debates que antes eram restritos a círculos específicos como as pautas LGBTs, de igualdade racial e gênero.
Mas não é só de ativismo que vive os algoritmos. Hoje, os influenciadores usam as redes para abordar uma variedade de temáticas, que vão desde problemáticas voltadas ao preconceito racial até vídeos de humor, estudos sobre óleos essenciais, dicas de organização financeira, coreografias, beleza e comportamento e tantos outros assuntos.
Neste cenário tão diverso, a Alma Preta listou 10 influenciadores negros do país que fizeram a diferença na internet na última década e que usam da criatividade para alcançarem novos públicos com narrativas que desconstroem o senso comum e pluralizam as redes. A gente sabe que a lista é extensa, mas segue um ranking com alguns dos nomes mais expressivos. Confira:
O estilo de vida próprio de Nátaly Nery conquistou públicos em diferentes redes. A paulista, de 25 anos, deu início ao seu canal no YouTube em 2015, o “Afros e Afins”, quando ainda cursava a faculdade de Ciências Sociais. Desde a estética pensada para os vídeos, até a cronologia de suas falas, as produções de Nátaly colocam em discussão a necessidade de uma autonomia intelectual, mental e de consumo. Com pautas voltadas para sustentabilidade, em seus vídeos, já falou sobre reutilização de roupas, óleo essenciais, veganismo, além de temáticas relacionadas a raça e gênero. Seu canal, atualmente, bate 32.236.318 visualizações. Números que possibilitaram o projeto de direção de um documentário para Internet, o “Negritudes Brasileiras”, promovido pelo programa “Creators For Change”, em português, “Criadores pela Mudança”, do YouTube.
Camilla de Lucas deu início a criação de conteúdo ainda em 2017, no YouTube, falando sobre moda, estilo e beleza, com um diferencial de ter um perfil bem-humorado e, hoje, totaliza 87.552.511 visualizações. A influenciadora, atualmente agenciada pela cantora Preta Gil, também é um dos grandes nomes da plataforma de vídeos virais, o TikTok, e reúne 2 milhões de seguidores e 23.1 milhões de curtidas na rede. Com apenas 25 anos, com a criação de conteúdo durante a pandemia, Camilla faturou o montante de R$1 milhão de reais em publicidades em redes como o Instagram e o Twitter. Seus vídeos representando tipos de diferentes pessoas em determinadas situações são os de maior sucesso nas mídias.
Konrad Dantas, ou mesmo “Kondzilla”, é o nome do produtor e empresário do maior canal de vídeos de funk do mundo no YouTube. Reunindo clipes das músicas mais executadas nas rádios e plataformas de streaming, o canal funciona como referência do ritmo e da representatividade dos cantores e MCs das favelas do eixo Rio-São Paulo. Konrad ainda recebe o título de primeiro produtor de conteúdo do país a alcançar um bilhão de visualizações em um único vídeo publicado. Seu canal, atualmente, totaliza 33.219.686.184 visualizações. Ainda em 2016, integrou a lista dos jovens que mais fazem a diferença no Brasil antes dos 30 anos pela revista Forbes.
Quando uma pessoa lgbt preta, nordestina e afeminada conseguiria consolidar seu espaço em uma mídia tradicional? Contrariando todas as probabilidades, o baiano Spartakus usa de seu canal do Youtube para combater preconceitos raciais e de gênero, além de desconstruir conteúdos voltados à cultura pop nacional e internacional. Formado em Publicidade, Spartakus é bem visto nas redes sociais pelo seu estilo didático de repassar informações, tendo como portfólio criação de séries sobre um mesmo conteúdo apresentadas, também, em seu perfil do Instagram. Um de seus vídeos de maior alcance é o “O Que É Apropriação Cultural?”, com 335 mil acessos. Na plataforma, o criador de conteúdo já totaliza 6.459.536 visualizações.
Com apenas 21 anos, Nathalia Rodrigues ou “Nath Finanças”, conseguiu seu espaço na internet por ajudar, em tuítes e publicações de vídeos em seu canal do YouTube, pessoas de baixa renda a se organizarem financeiramente e saírem do vermelho. Formada em Administração, a influencer, em menos de dois anos, já conta com 2.365.702 visualizações em seus conteúdos e, em janeiro passado, publicou seu primeiro livro, “Orçamento sem falhas”, onde aborda as relações com cartão de crédito, taxa de juros, lista de compras, planejamento, metas e a diferença entre desejo e necessidade. Criando conteúdo leve e didático, Nath Finanças conseguiu reinventar a forma de falar sobre dinheiro.
Objetiva e conhecida por dar um papo reto em suas redes sociais, Maíra Azevedo ou “Tia Má”, como é chamada, ficou conhecida por abordar temáticas raciais e de gênero em vídeos amadores dentro de casa ou do transporte. Formada em Jornalismo e integrante do time de humoristas de stand-up comedy baiano, Tia Má consegue trazer as suas vivências enquanto mulher preta, nordestina e de candomblé, e relacionar com fatos da atualidade, conquistando popularidade não só com o público negro. Seu perfil no Instagram, já bate o número de 908 mil seguidores. Um de seus vídeos de maior sucesso na rede social é o “Será que nem de moto preto pode andar?”.
A dançarina e influenciadora digital Ramana Borba começou a produzir conteúdo para internet ainda em 2015, quando falava sobre cuidados com cabelos afros e produzia coreografias para publicar em seu canal do Youtube. Foi a dança que mais impulsionou a criadora de conteúdo. Seus vídeos de instrução de passos já batem uma média de mais de um milhão de visualizações por publicação. Com apenas 19 anos, Ramana é sucesso também no Instagram, com 687 mil seguidores, e na nova plataforma de vídeos, o TikTok, com 2.3 milhões de seguidores e mais de 22 milhões de curtidas.
Empresária de moda afro, pelo ‘Ateliê Xongani’, desde 2009, Ana Paula Xongani viu, na internet, um espaço para falar sobre estética e belezas negras. A criadora de conteúdo deu início ao seu canal em 2012 e, desde lá, ampliou as temáticas abordadas nas suas produções, trazendo conteúdos que retratam a autoestima da mulher negra, o empreendedorismo negro e feminino no Brasil e as relações etnicorraciais. Suas publicações em vídeo já renderam 2.241.759 visualizações e um total de 204 mil seguidores no Instagram. No ano passado, recebeu o título de primeira brasileira de dreads a estrelar uma campanha publicitária de beleza.
Questões raciais e estilo de vida são os conteúdos mais trabalhados pela comunicadora social, Gabriela Oliveira ou “Gabi DePretas”. Tendo seu canal no YouTube criado em 2015, a carioca produz uma média de um dois vídeos por semana e já reúne o montante de 22.627.991 visualizações. Entre seus vídeos mais acessados estão o “Preto ou Negro?” e o “Tour Pelo Meu Rosto”, ambos com mais de 1 milhão de visualizações. Integrante da militância negra na internet, também tem como pauta a luta contra a desinformação e já palestrou no ‘Brazil Conference’ na Universidade de Harvard, reiterando a importância do ativismo digital.
Irreverência é a palavra para a construção de conteúdo do escritor, fotógrafo e influenciador digital Roger Cipó. Em sua conta no Instagram, que já soma 110 mil seguidores, Cipó divide conteúdos em pequenos quadros que são disponibilizados no feed, em live ou no IGTV. Nomes como “Tindó”, referente ao aplicativo de relacionamento somado ao sobrenome do criador, em que ele ajuda a formar casais, “Hidrata e Troca Ideia”, quando hidrata o cabelo e a pele enquanto troca ideia sobre temas da semana com os seguidores, são alguns dos formatos de sucesso do influenciador nas redes. Recentemente, Roger realizou uma campanha para aumentar o número de seguidores de outros colegas produtores de conteúdo.