A Escola Lumiar Vila Olímpia se tornou alvo de críticas após divulgar um programa de bolsas de estudos com a exclusão de alunos com necessidades especiais. A iniciativa, segundo a instituição, tem como objetivo minimizar as “barreiras financeiras e sociais para o acesso a uma educação significativa e transformadora” e promover uma “comunidade escolar étnico-racial e socialmente diversa”.
Para participar do programa, a escola definiu como pré-requisito, preferencialmente, alunos afrodescendentes, negros e indígenas; estudantes que não apresentem necessidades educacionais especiais; advindos de escolas estaduais ou municipais e que não tenham condições financeiras de estar matriculado em escola particular.
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Já na aba dos requisitos financeiro, a escola diz que destina as bolsas para famílias que tenham renda total de até quatro salários mínimos; que tenham condições de arcar com os custos de alimentação e material pedagógico; que morem ou trabalhem na região da Vila Olímpia; e, por fim, cita que os pais/responsáveis devem, “obrigatoriamente, estar empregados (as) ou possuir fonte de renda fixa”. Após a repercussão do caso, a aba dos pré-requisitos foi excluída no site do programa.
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Intitulada como “uma das escolas mais inovadoras do mundo” pela Unesco, a Lumiar possui unidades em São Paulo (Campinas, Santos, Morumbi, Pinheiros, Santos), em Santa Catarina (Criciúma) e em Porto Alegre (Rio Grande do Sul). A previsão é que a unidade da Vila Olímpia, em São Paulo, seja inaugurada em 2023.
Nas redes sociais, o caso foi divulgado pelo fotógrafo Thiago Ribeiro através da denúncia de uma mãe que buscava por programas de bolsas escolares para o filho PCD. Fundador do Instituto “InvisibiliDOWN”, que promove ações de visibilidade para pessoas negras com síndrome de Down e garantia de direitos para pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade social, Thiago critica o discurso de diversidade e inclusão promovido pela instituição e a exclusão de crianças com necessidades especiais do programa.
“Diversidade e inclusão para quem? Vamos falar sobre essa escola que, segundo eles, é a mais moderna, inovadora, diversa e plural do mundo e que, pasmem, possui, entre seus sócios, pessoas com filhos com deficiência”, escreveu o ativista, que é pai de Noah, uma criança com síndrome de Down.
À Alma Preta Jornalismo, Ribeiro aponta que o programa, além de vetar pessoas com deficiência, também exclui pessoas negras, já que um dos requisitos é que o aluno destinatário do programa resida na região da Vila Olímpia, bairro nobre de São Paulo.
“Quando a escola menciona que quer pessoas negras mas que moram no entorno, ela está deixando claro de que ela não quer pessoas negras. Essa já é a primeira camada de problemática em relação à questão racial”, pontua o fundador do “InvisibiliDOWN”.
O ativista também pontua a falta de representatividade dentro das organizações que atuam com a pauta da diversidade e inclusão, que, segundo ele, tem a maioria da gestão ocupada por pessoas brancas, ricas e privilegiadas.
“As organizações, institutos, escolas que atuam pela inclusão e às pessoas com deficiência normalmente não tem a mínima ideia do que acontece na população real, ou seja, são pessoas em nível de privilégio que estão acima das pessoas que precisam desse tipo de acesso”, comenta Thiago.
“É muito importante que a gente consiga evidenciar isso e o InvisibiliDOWN está cumprindo esse papel, de ter representatividade nesses espaços com o lugar de fala que é qualificado, sério e responsável. A gente não traz mais do mesmo. A gente traz a realidade dessas pessoas, a necessidade real e a importância de conscientizar os nossos pares, enquanto organizações, de introduzir esse tipo de discurso em suas narrativas e ações”, finaliza.
Posicionamento
Segundo Thiago Ribeiro, a direção da Lumiar entrou em contato com ele e informou que houve um “equívoco” na publicação do programa e propôs um diálogo entre a escola e o Instituto InvisibiliDOWN.
Em nota, a Escola Lumiar afirma acreditar “na construção de uma sociedade que promova oportunidades igualitárias para a eliminação das barreiras que o meio impõe, especialmente, às pessoas com deficiência”.
A instituição alega que, “por um sério equívoco de comunicação, houve critérios excludentes em relação aos estudantes com deficiência, falha corrigida imediatamente após a publicação do documento”.
Também reforça que “respeita o direito de todos os estudantes” e não compactua “com qualquer prática que deixe alguém para trás”. Além de ressaltar que “discriminar por deficiência, além de crime previsto em Lei, não está de acordo com o que acreditamos”.
Ao final, a Lumiar afirma “que o primeiro passo para a mudança é reconhecer os equívocos e trabalhar para uma escola que seja verdadeiramente inclusiva”.
*O texto foi atualizado às 19h23, para inclusão da resposta da Escola Lumiar.
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