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“Doar um livro para uma pessoa negra é uma ação antirracista”, afirma criadora do ‘Tinder do livro’

13 de agosto de 2019

Iniciativa foi criada para aumentar o acesso aos livros pelas pessoas negras que não têm condições de comprar as obras

 Texto / Lucas Veloso | Edição / Pedro Borges | Imagem / Josemar Afrovulto

No Brasil, o preço médio de um livro é R$38,26. Por esse valor, muitas pessoas pobres e negras não não tem condições de comprar livros.

De acordo com a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada, pelo Instituto Pró-Livro, o brasileiro lê em média 2,43 livros por ano. A pesquisa considera “leitor” aquele que leu pelo menos um livro nos últimos três meses – inteiro ou em partes.

Winnie Bueno é Iyalorixá, ativista dos movimentos sociais negro e feminista e pós graduanda em Direito Público. Em novembro do ano passado, mês da consciência negra, enquanto via pessoas brancas comentando sobre a importância da data, ela propôs que elas tomassem ações antirracistas, como a doação de livros aos negros.

O desafio foi aceito por dez pessoas, que inicialmente entraram em contato com ela para fazer doação de livros a outras sem condições de comprar. “Tinha gente querendo doar, aí postei atrás de pessoas que precisavam de algum exemplar. Os interessados deveriam enviar nome, endereço e o nome da obra”, relembra Winnie.

O projeto foi batizado de “Tinder dos livros”, em alusão ao aplicativo de relacionamentos que conecta pessoas com os mesmos interesses afetivos.

A relações públicas e escritora Gabriela Moura foi uma das primeiras beneficiadas. Na época, precisava do livro “Questão de Raça”, do escritor Cornel West. 

“É um livro que fala sobre as questões de raça ao longo da história. Era raro e eu não podia comprar. Quando recebi, entendi como um apoio à minha intelectualidade e um gesto de carinho da doadora”, define Gabriela.

“Eu fico feliz a cada beneficiado. Todo mundo faz a diferença, do doador até o beneficiado. Eu mesmo não fazia ideia se um dia eu teria acesso a obra que ganhei, pois não podia comprar”, comenta Gabriela. “O Tinder dos livros é inovador, mas acho que ainda não tem a atenção que merece”, completa.

De acordo com dados do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e Nielsen, as obras de ‘não ficção – especialista’ são os mais caros dentre os gêneros. Na média, uma obra custa cerca de R$62,97. “O preço médio de um livro dá pra comprar muito feijão. Se compra um, não se come”, exemplifica Winnie.

“Tenho usado minha visibilidade no Twitter para conectar as pessoas negras que precisam de um livro. Na prática, eu tenho mais de 25 mil seguidores e trabalho para alimentar esse fluxo de conhecimento”, pontua a acadêmica.

Nos nove meses de projeto, cerca de 700 títulos já circularam, sendo que a maioria dos pedidos são de livros de intelectuais negros e negras. Bell hooks, Angela davis, Abdias do Nascimento, Djamila Ribeiro e Sueli Carneiro são os autores mais solicitados.

Apesar dos números, Winnie costuma pedir semanalmente novos doadores para dar conta da demanda.

“O livro chega direto na casa da pessoa. É um gesto simples que impacta todos. Quem doa, se sente útil no combate ao racismo, pois o acesso a leitura ainda é limitado aos negros e essa é a oportunidade de mudar a história”, resume a criadora da ideia.

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