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Em 10 anos, mais de 25 mil militares tentaram entrar na política

21 de outubro de 2020

Nas eleições de 2020, representantes das forças de segurança somam 6.382 candidaturas no país; a maioria é branca e de partidos da direita ou centro-direita

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Rafael Carvalho

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Policiais militares, bombeiros e outros agentes das forças de segurança registraram para as eleições municipais de 2020 o total de 6.382 candidaturas, segundo informações levantadas pelo 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

De 2010 a 2020, foram 25.452 candidaturas de policiais e membros das Forças Armadas, com um total de 1.860 eleitos até as últimas eleições, em 2018, segundo o levantamento coordenado pelo pesquisador Renato Sérgio de Lima. Na disputa de 2020, 87,6% dos candidatos policiais se lançaram por legenda de direita ou de centro-direita. Em 2018, eram 90%, e em 2010, eram 76,2%.

A partir de 2014, a Justiça Eleitoral passou a registrar a cor dos candidatos. Entre os policiais e militares que disputaram aquela eleição, 45,6% eram brancos, 42,4% eram pardos e 10,8% eram pretos. Já considerando os candidatos policiais que foram eleitos, entre 2014 e 2018, foram 54,2% de brancos, 37,9% de pardos e 7,1% de negros.

O Anuário fez a relação entre cor da pele e êxito na eleição dos candidatos militares ou policiais. Para cada policial branco eleito, outros 14,5 tentaram se eleger. Por outro lado, para cada policial preto eleito, 26,1 candidatos policiais pretos tentaram se eleger.

Na maioria dos casos, os policiais candidatos fazem um apelo conservador como base de sustentação da campanha. Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, o efeito Bolsonaro estimulou ainda mais os PMs a se tornarem candidatos.

“O lema ‘bandido bom é bandido morto’ tem muitos adeptos na sociedade brasileira. Alguns PMs candidatos iludem a população fazendo propaganda de que irão promover segurança pública quando eleitos. Dizem que vão apresentar projetos para aumento de penas, mais prisões, redução da maioridade penal, pena de morte e que terão ações para aumentar o policiamento em alguns locais, mesmo não sendo atribuições deles, como no caso dos vereadores”, explica Alves.

De acordo com o advogado, a atuação dos policiais na política tensionam os direitos democráticos, principalmente com o apoio da mídia classificada por ele como sensacionalista. “Muitos PMs têm páginas em redes sociais com milhares de seguidores, onde exaltam e exibem suas ações no policiamento e defendem a violência policial. Outros contam com o apoio dos programas sensacionalistas de final de tarde nas suas estratégias eleitoreiras. Outra estratégia é incitar ou fazer apologia da violência em redes sociais. Infelizmente, essas práticas geram votos e prestígio no Brasil. Essa participação política partidária, principalmente de PMs, deveria ser restringida. Eles acabam usando seus cargos com intuitos eleitorais”, considera.

Racismo estrutural

Para o cientista político e professor João Trajano de Lima Sento-Sé, da UERJ ( Universidade do Estado do Rio de Janeiro), o racismo estrutural é reforçado por conta das pautas defendidas nas campanhas eleitorais de militares em partidos de direita e centro-direita, com linha ideológica conservadora.

“Numa sociedade racista, temos uma polícia que expressa esse racismo de forma muito violenta, além de inconstitucionalidades contra minorias. Não chega a ser surpreendente então que os profissionais de polícia, ao entrarem na política partidária, o façam por legendas conservadoras ou reacionárias. A identidade profissional deles, na maioria, é dada por instituições que são extremamente reacionárias. Eles se sentem motivados pela proliferação dos discursos de extrema-direita”, avalia Sento-Sé, que também é especialista em Segurança Pública, Violência e Nacionalismo.

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