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Em Altamira, moradores apontam usina pelo aumento da violência na região

ATM

11 de outubro de 2019

Em 2015, o município foi classificado como o mais violento do país

Texto / Lucas Veloso | Edição / Pedro Borges | Imagem / Acervo MXVPS 

Daniela Soares, 26, não esquece a morte de seu irmão pelas mãos da polícia. Ela mora em Altamira, sudoeste do Pará, uma das cidades mais violentas segundo estudos de violência urbana. “Quando eu fui na delegacia, o policial civil disse que ele estava na hora errada e no lugar errado”, lembra.

Com cerca de 160 mil km² – maior que Portugal -, Altamira é o maior município em extensão territorial do país. No início dos anos 2000, a cidade tinha taxa de 11,3 homicídios a cada 100 mil habitantes. Nas últimas décadas, os números mudaram. Em 2017, o número foi de 135,5.

Em 2015, o Atlas da Violência, estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), classificou a cidade como a mais violenta do Brasil. Segundo a Polícia Civil do Pará, o conflito entre facções seria o principal motivo dos homicídios.

Daniela acredita que o avanço da violência na cidade está relacionada à transformação causada pela usina hidrelétrica Belo Monte, na bacia do Rio Xingu. Ela defende que a população cresceu sem que os serviços públicos, entre eles a segurança, acompanhasse a mudança.

“A gente não tinha toda essa violência. Isso chegou depois da hidrelétrica, em 2017, quando a cidade foi uma eleita uma das mais violentas do país. Perdi meu irmão.”, explica. “Porque isso acontece? Quando chega um grande empreendimento, é esfacelado todas as relações sociais que existem, e aconteceu conosco”, completa.

Ela também faz parte do Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS) e acredita que a violência na cidade tem recorte racial e atinge a população negra na maior parcela.

“Dificilmente você tem notícia de que um jovem branco foi morto. A maioria são jovens negros. Eles tem horário para andar, são questionados nas ruas”, exemplifica.

A 13ª edição do Anuário da Violência apontou que a maioria das ocorrências policiais terminadas em morte ocorreram no período da madrugada, cerca de 40%. De acordo com os números, além da madrugada, se as ocorrências da noite forem consideradas também, 64,9% das mortes provocadas pelas polícias brasileiras acontecem entre às 18h e 05h59min

“A polícia chega a cortar o cabelo de meninos. Existe uma seletividade da violência policial”, denuncia a militante. “Os meninos que tem cabelo ‘mais black’, a polícia acha que é bandido, e corta”.

Em junho deste ano, diversas organizações, como a Comissão Pastoral da Terra do Pará e a Pastoral da Juventude do Xingu, escreveram carta denunciando a violência na cidade. “Viemos a público repudiar os atos de barbárie e violência que vem acontecendo de maneira recorrente em Altamira, especialmente depois que a usina hidrelétrica de Belo Monte se instalou na região”, pontuaram.

“É perceptível que o perfil das vítimas é bem semelhante. Não raras vezes estão interligadas a esses crimes hediondos variáveis como classe social (pessoas em condição pobreza ou pobreza extrema), faixa etária (muito jovens), escolaridade (ensino fundamental incompleto), raça (quase sempre negros e negras)”, definiram.

O documento ainda exigia eficiência do Estado para coibir as mortes juvenis. Uma das demandas era a responsabilização dos assassinos a fim de prevenir novas ocorrências.

Usina de Belo Monte

Hoje, Belo Monte é a terceira maior usina hidrelétrica do mundo, atrás apenas de Três Gargantas, na China, e da binacional Itaipu.

Durante sua construção houve polêmica sobre as questões ambientais. De um lado, as populações tradicionais, indígenas e ambientalistas discutiram os impactos da obra na região. Já o governo e outros ativistas defendiam a usina por conta do aumento em produção de energia no país e o fim dos riscos de uma eventual crise energética.

Para Daniela, o modelo de desenvolvimento proposto por Belo Monte não contempla as necessidades da população. “Esse sistema não considera outras formas. As pessoas do local não podem participar do debate sobre o que acontece ali”, acusa.

“Se for perguntar para o ribeirinho extrativista o que é importante para fortalecer o trabalho deles na cooperativa, ele vai saber dizer, bem como o agricultor, e os indígenas. Os povos devem ser envolvidos nas mudanças, caso contrário, o modelo se torna destrutivo com as pessoas”, finaliza.

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