Empreender para ganhar a vida e promover transformações sociais. Esse é o conceito do empreendedorismo social na prática. Nos últimos anos, o modelo de negócio tem ganhado cada vez mais visibilidade.
Adriana Barbosa, idealizadora da Feira Preta, o maior festival de cultura negra da América Latina, destaca que o empreendedorismo social não é algo novo nas periferias brasileiras, mas gnhou visibilidade devido aos impactos positivos.
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“Quem mora em periferia e realiza esse trabalho na própria região encontra soluções mais assertivas para os problemas, pois já os conhece de perto”, explica.
O empreendedorismo social adotado pela Feira Preta impulsiona o trabalho desenvolvido por profissionais negros. Estes que, muitas vezes, decidem empreender como alternativa ao desemprego.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 64,6% dos desempregados no país são negros.
Adriana Barbosa acredita que quanto mais empreendedores de impacto negro o Brasil tiver, melhor serão atendidas as demandas dessa população.
“Quem melhor compreende as necessidades dos consumidores negros são esses empreendedores, pois compartilham as mesmas dores”, avalia.
Afro-empreendedorismo
A população negra representa 51% dos empreendedores do país, conforme mostra o levantamento realizado pelo Global Entrepreneurship Monitor, em 2017.
Segundo Adriana Barbosa, o trabalho desenvolvido pelo movimento negro ao longo dos anos para fortalecer a identidade negra foi fundamental para a consolidação do afro-empreendedorismo.
Um dos resultados do esforço foi o aumento do número de pessoas autodeclaradas negras no Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Entre 2012 e 2016, o número de pardos autodeclarados cresceu 6,6% e o de pretos, 14,9%, chegando a 95,9 milhões e 16,8 milhões de pessoas, respectivamente.
Na pesquisa do IBGE, a soma das pessoas que se reconhecem como pretas ou pardas compõem a população negra, ou seja, 54,9% dos brasileiros.
“À medida que a população negra se autodeclara, mais produtos e serviços ela irá buscar para atender as suas demandas de consumo”, pondera Adriana.
Feira Preta
A Feira Preta nasceu em 2002 como uma feira de produtos de empreendedores negros, cresceu e se tornou uma plataforma de criação de projetos para valorização da cultura afro-brasileira considerada referência de empreendedorismo social.
Em sua primeira edição reuniu 40 expositores e um público de 5 mil pessoas em um espaço na praça Benedito Calixto, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo.
A iniciativa possibilita o encontro de profissionais de diferentes segmentos como moda, literatura, gastronomia, música e tecnologia. Um dos objetivos é impulsionar o negócio de jovens empreendedores negros por meio do Black Money. A estratégia consiste em incentivar consumidores negros a comprarem produtos de profissionais negros para fortalecer o fluxo desse mercado e a economia dentro da comunidade afro-brasileira.
Na edição de 2018, a Feira Preta recebeu mais de 50 mil pessoas e registrou uma circulação monetária superior a R$ 700 mil. Adriana Barbosa relata que o evento abriu portas para outras iniciativas de impacto social.
“A visibilidade do festival trouxe a possibilidade de interlocução com as empresas, a fim de obtermos recursos para investir em ações que desenvolvemos ao longo do ano”, afirma.
A empresária desenvolve projetos que visam a formação de microempreendedores por meio da oferta de conhecimento e capacitação com foco em inovação e inventividade (Afrolab) e aceleram o crescimento de negócios criados por empreendedores negros com o uso da tecnologia (Afrohub).
Trajetória
Formada em Gestão de Eventos e pós-graduada em Gestão Cultural, Adriana Barbosa está entre os 51 negros mais influentes do mundo. A lista é feita pelo Most Influential People of African Descent, o MIPAD.
Seu primeiro contato com o empreendedorismo, há 18 anos, não foi diferente do da maioria dos negros brasileiros. O desemprego e a necessidade de sobrevivência a impulsionou a se reinventar.
Adriana decidiu abrir um brechó na Vila Madalena, na Zona Oeste da capital paulista. “Com a ajuda de uma amiga que estava desempregada, assim como eu, passei a vender minhas roupas e acessórios em mercados alternativos”, conta.
Na região existia uma cena negra muito forte por causa das baladas de black music. A empreendedora teve a ideia de criar a Feira Preta ao perceber que grande parte dos frequentadores e funcionários das casas noturnas, entre produtores e técnicos de som, eram negros. Já os maiores beneficiários eram homens brancos, donos dos estabelecimentos.
“A feira foi criada para aproveitar aquelas produções culturais, mas com os profissionais negros no controle dos seus lucros e sem intermediários”, lembra.
18 anos de história
Em 2019, a Feira Preta chega a sua 18ª edição. O evento deste ano deve mostrar ao público de onde vieram, onde estão e para onde vão a arte, a cultura e o empreendedorismo da comunidade negra.
A programação vai contar com feiras de produtos e serviços, palestras, workshops, diálogos, shows, exposições, entre outros. O festival se estende por todo o mês de novembro e início de dezembro, em diversos pontos da cidade de São Paulo para celebrar a trajetória do evento. O encerramento será nos dias 7 e 8 de dezembro no Anhembi, na Zona Norte.
“Esse ano vamos celebrar os 18 anos de história refletindo o passado, presente e o futuro. Virão muitas coisas boas”, promete Adriana Barbosa.
Pense Grande Sua Quebrada é um esforço coletivo do Programa Pense Grande, iniciativa da Fundação Telefônica Brasil , em parceria com o Alma Preta, Desenrola E Não Me Enrola, Historiorama, Periferia em Movimento e Agência Mural de Jornalismo das Periferias com o objetivo de democratizar a linguagem e o acesso das juventudes periféricas ao ecossistema de #EmpreendedorismoSocial.