A repercussão da morte de 25 pessoas na Chacina do Jacarezinho, favela localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro, levanta mais uma vez a dúvida sobre a eficiência das ações policiais, que há anos ocorrem sob a justificativa de combate às drogas.
“A polícia do Rio não responde a ninguém. Vive na sua autonomia e de acordo com os seus interesses. No Jacarezinho e no complexo do Roseiral, em Belford Roxo, onde morreram mais de 20 pessoas desde janeiro, as operações da polícia são contra uma facção específica que é o Comando Vermelho”, diz o sociólogo José Cláudio Souza Alves, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
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Segundo o professor, os ataques aos territórios do Comando Vermelho, que são marcados por muitas mortes de pessoas negras e pobres, sem ligação com o crime, têm um interesse que não é o combate ao tráfico de drogas.
“O objetivo é afetar o Comando Vermelho para instalação de novos projetos do crime organizado nessas áreas. Tanto no Jacarezinho como no Roseiral, o interesse é implantar a milícia, que é um grupo criminoso vinculado, diretamente, com a estrutura do Estado, organizado por servidores, que tem mais de 57% dos territórios do Rio sob controle armado. Jacarezinho é um novo território deles”, explica Alves, que destaca ainda o interesse no controle eleitoral da população como na expansão de novos negócios.
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Aliança com milicianos
Especificamente sobre a chacina do Jacarezinho, o sociólogo acredita que pode haver uma tomada de poder do Terceiro Comando Puro, que é uma facção que também opera o tráfico de drogas, mas faz alianças com milicianos. “Em todos os territórios onde a milícia entra, o Terceiro Comando faz a negociação para vender drogas, pagando o ‘arrego’ para os milicianos. Coisa que o Comando Vermelho não se subordina”, analisa Alves.
O advogado Joel Costa, do IDPN (Instituto de Defesa da População Negra), esteve no Jacarezinho para acompanhar os desdobramentos da chacina, ocorrida na manhã da quinta-feira (6). “Houve execuções e invasões de casa. Um menino morreu sentado no sofá. Ele não estava trocando tiros com ninguém. Será que depois dessas 25 mortes vai acabar com o tráfico de drogas nas vielas do Jacarezinho? Eu acho que não”, avalia.
Também presente na vistoria, o advogado Djefferson Amadeus, do IDPN, conversou com moradores que estavam no Jacarezinho durante a operação da polícia. “Há pessoas que dormiram com uma granada prestes a explodir no telhado. Segundo relatos, granada jogada do helicóptero. Helicóptero que foi proibido de ser utilizado como plataforma de tiro em operações policiais na ADPF das Favelas”, lembra.
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