Os entregadores de aplicativos do estado de São Paulo realizam paralisações em diversas cidades do interior para organizar a categoria na luta por mais direitos e transparência na relação com os aplicativos de comida e encomendas.
Neste momento, a troca dos protestos nacionais por paralisações pontuais, com forte divulgação nas redes sociais, é uma estratégia para aumentar a união entre os entregadores nas suas cidades e o fortalecimento de uma agenda de lutas – segundo o movimento dos Entregadores Antifascistas, um dos diversos grupos que apoiam a greve dos entregadores.
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Guilherme Amaral tem 34 anos e nasceu na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, e trabalha há dois anos como entregador de aplicativo. Ele avalia que as regras impostas pelas empresas, que não têm nenhuma margem de negociação, estão bem longe de representar um modelo de parceria, principalmente, como aconteceu no período mais agudo da pandemia do Covid-19.
“Se isso for parceria, eu cresci com o conceito errado até hoje. Quando se usa da situação econômica do país, da dificuldade e dependência financeira em massa para pagar valores muito abaixo do que seria justo, eu só consigo entender como exploração”, diz o entregador.
O sentimento de exploração foi o estopim para as greves que estouraram em Jundiaí, Paulínia e São Carlos, desde o feriado prolongado de 12 de outubro. Em Bauru, a paralisação começou em 15 de outubro. Uma das reivindicações dos trabalhadores é que seja criada uma agência reguladora do setor para controlar as políticas de precificação dos serviços e os repasses para os entregadores.
“Na prática, o que acontece é o seguinte: as taxas são manipuladas de acordo com interesses do aplicativo. Principalmente, quando enviam dois ou mais entregas para os mesmos serviços, por exemplo, a entrega de uma pizza em um condomínio. Eles nunca pagam o valor cheio das duas rotas. Mesmo quando colocam algum tipo de promoção adicional, também manipulam o valor das taxas, ou seja, as empresas de aplicativos não são transparentes. Até quando há um aumento da taxa mínima, elas continuam manipulando as taxas”, pontua Guilherme.
A Amobitec, associação que representa grandes aplicativos de entrega de comida e bens, fundada em 2018, foi procurada pela Alma Preta Jornalismo para comentar a insatisfação dos entregadores com a política de precificação das taxas e as regras de parceria, mas até a conclusão da reportagem não respondeu. Também foi questionada qual seria a opinião da associação sobre a criação de uma agência reguladora para as empresas de aplicativos. A Amoitec tem entre seus participantes associados a Ifood, a Uber Eats, o Zé Delivery, a 99 Food, entre outras marcas.
Uma estratégia de fortalecimento da luta de resistência dos entregadores é a campanha para ampliar a avaliação negativa das empresas de aplicativos nas redes sociais e sites.
Um entregador de Paulínia, que pediu para não ser identificado na reportagem, disse que antes da pandemia fazia uma jornada de até oito horas em diferentes aplicativos. Nos últimos meses, tem trabalhado mais de 12 horas e não consegue, mesmo assim, atingir a renda que tinha antes.
“O desemprego é um projeto político arquitetado para empurrar a gente, a classe trabalhadora, cada vez mais para essa condição de exploração”, comenta.
O movimento dos Entregadores Antifascistas criou um abaixo-assinado, que já tem mais de 375 mil assinaturas, reivindicando que as empresas se responsabilizem pela garantia de condições de higiene, segurança e alimentação dos entregadores.