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Entrevista: Angela Davis e a atualidade

29 de outubro de 2016

Entrevista: Pedro Borges / Edição de Imagem: Vinicius de Almeida

1 – Qual a atualidade do pensamento de Angela Davis? Quais as potencialidades e limitações do pensamento da intelectual e ativista norte-americana na realidade brasileira?

{payplans plan_id=15 SHOW}É importante começar dizendo que a Angela Davis têm cinco décadas de produção acadêmica. Durante todo o período em que ela produziu, ela sempre esteve muito preocupada em focar na realidade e em possibilitar que a filosofia pudesse ajuda-la, ou melhor, pudesse nos ajudar a descortinar o cotidiano na sua complexidade. Então, seu pensamento e seus escritos são fundamentais para analisarmos o mundo de maneira assertiva.

O método de analise que ela utiliza em seus textos, tendo a escravidão como ponto de partida, pode nos ajudar a compreender qualitativamente os processos de formação dos indivíduos negros no Brasil, ou seja, o quanto a escravidão e seu legado oculto (oculto por que a burguesia branca no Brasil relativiza ou torna invisível a herança da escravidão em nossa cultura) marcou e marca a nossa forma de ser e estar na sociedade brasileira (tanto para negros quanto para brancos). Seu método de analise possibilita que tenhamos instrumentos de observação da realidade, partindo da filosofia para olharmos para nossa historia e trajetória.

2 – O Brasil passa por um momento de fortalecimento da agenda política conservadora e Angela Davis é uma notória referência no mundo sobre o encarceramento. Como a visão dela sobre a indústria da pena pode ajudar a entender a política de aprisionamento no Brasil e o que esperar do encarceramento nos próximos anos?

A tendência ao encarceramento no Brasil, nos países em desenvolvimento e de terceiro mundo aumenta exponencialmente por dois motivos essenciais: primeiro, o encarceramento é a melhor forma de controle e contenção de minorias políticas, pois delimita e indica o espaço social e histórico reservado para esse grupo populacional, inclusive incidindo sobre o controle político desses grupos, uma vez que a maior faixa etária nas cadeias é de jovens (a idade mais produtiva dentro do sistema capitalista). Portanto, ao encarcerar massivamente a juventude dos grupos sociais mais vulneráveis, cria-se condições objetivas para fragilizar a luta e emancipação desses grupos, pois historicamente, a juventude sempre foi um dos principais personagens políticos dos processos revolucionários, os jovens e as mulheres.

Segundo, a crise econômica que vem desde 2008 se espalhando pelo mundo. Quanto maior a crise, maior o índice de criminalidade, sobretudo de crimes contra o patrimônio. Na periferia, o aumento de roubos, sequestros, furtos e na elite acirramento da corrupção. Claro que sabemos que a conta é paga pela periferia e na periferia. Incidirá sobre ela a política industrial do sistema prisional, que também beneficiará a elite, pois a super faturação de obras são as principais estratégias para a corrupção, no mundo todo.

AngelaDavisNova3 – Quais eram as relações de Angela Davis com o Partido Comunista dos EUA e com os Panteras Negras?

Angela Davis foi filiada ao Partido Comunista até meados de 1990. Durante dois anos, entre 1967 e 1969, ela atuou junto aos Panteras Pretas, contribuindo com a formação política dos militantes. No entanto, por pautar junto às militantes o machismo no interior dos Panteras Pretas, foi “convidada” pela direção a se afastar definitivamente da organização.

4 – O que a atuação política dos Panteras Negras tem a ensinar para pretas e pretos no Brasil?

A auto organização dos pretos e das pretas, dentro de uma perspectiva política e centrada num programa revolucionário, de forma organizada e sistematizada, é fundamental para que de fato tenhamos avanços reais em nossa luta cotidiana pela libertação e emancipação dos pretos, e de toda a classe trabalhadora.

5 – Qual a sua leitura sobre o movimento negro brasileiro? O que há para você de mais moderno na luta política contra o racismo no país?

O Movimento Negro no Brasil constituiu um campo importantíssimo para os debates raciais que acontecem no Brasil desde a escravidão. Hoje, há muitas tendências em seu interior e uma diversidade de correntes teórico-políticas, o que não configura um problema em si. Mas ao mesmo tempo, em dados debates, parece que há um entrave das ideias, não permitindo que esse debate saia do campo das ideias e caminhe para uma intervenção prática e real no cotidiano. Por exemplo, a pauta do fim do genocídio da juventude preta é uma pauta comum a todos os grupos e tendências no interior do movimento negro, mas nenhum grupo conseguiu articular uma ação assertiva de combate a essa questão. O governo (do PT inclusive) sequer reconhece a política genocida promovida por ele mesmo.{/payplans}

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