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Escola Winnie Mandela realiza formação educacional de jovens negros em Salvador

O trabalho inovador ganhou visibilidade de estudantes e professores universitários de outros países; ativistas e profissionais da instituição alegam serem alvos de violência do Estado baiano

18 de setembro de 2019

Na periferia de Salvador, Bahia, iniciativas do movimento negro transformam o cotidiano da população em situação de vulnerabilidade social. Uma delas é a Escola Winnie Mandela, centro de formação quilombista pan-africanista, que realiza a capacitação e qualificação educacional de crianças e adolescentes negros.

A instituição, que carrega o nome de uma das mais importantes figuras da luta contra o apartheid na África do Sul, foi fundada em 2016. A iniciativa faz parte do núcleo de educação da organização política “Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto”.

O trabalho desenvolvido pela escola oferece aulas de reforço nas disciplinas regulares do sistema educacional, aulas preparatórias para o Enem e para o ingresso em escolas técnicas, cursos de artes e de idiomas, encontros sobre higiene e cuidados pessoais e debates políticos.

Visibilidade internacional

De acordo com a médica e fundadora da instituição, Andreia Beatriz dos Santos, as atividades desenvolvidas junto à comunidade trouxeram visibilidade internacional para a Escola Winnie Mandela.

“Alguns cursos intensivos de inglês oferecidos por meio de um intercâmbio trouxeram estudantes e professores universitários dos Estados Unidos, da Europa e da África para conhecer e trabalhar conosco”, conta.

Andreia também se dedica à educação na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), onde é professora de medicina. A educadora acredita que a Escola Winnie Mandela representa a possibilidade de melhora das condições de vida da população negra diante das dificuldades no acesso ao ensino público.

“É uma instituição de resistência negra diante de escolas públicas defasadas, onde o racismo se perpetua e os estudantes negros não são respeitados”, avalia.

Violência do Estado

Apesar de ter ganho visibilidade internacionalmente, os ativistas e profissionais que atuam na Escola Winnie Mandela alegam terem sido alvos de violência do Estado.

Segundo comunicado emitido pela organização política “Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto”, no dia 12 de julho pessoas que atuam na escola foram ameaçadas pela Polícia Militar do estado baiano.

A nota afirma que quatro viaturas da polícia do Pelotão de Emprego Tático Operacional (PETO) e uma viatura da polícia civil entraram na ladeira de Nanã, na comunidade do Engenho Velho de Brotas, atirando para cumprir um mandado de busca e prisão.

Os moradores da região tiveram suas casas revistadas e assustados se abrigaram na escola. Após prender um suposto criminoso, os policiais teriam intimidado o ativista e escritor Hamilton Borges.

“Dois policiais civis vieram diretamente ao militante e fizeram afirmações do tipo: ‘Eu te conheço!’, ‘Você é da Reaja, né!’, ‘Você faz atividade na cadeia, né!?’, ‘Sua mulher é médica, né!?’, ‘Eu te conheço da faculdade!’.”, descreve o comunicado.

O comunicado relata que ainda no dia 12 de julho o apartamento onde a coordenadora da escola, Matheuzza Xavier, mora em Salvador foi arrombado pela polícia. “Eles reviraram apenas o material que tinha relação com a Reaja (CDs, Camisas, e folhetos)”, acrescenta o documento.

Andreia Beatriz dos Santos lembra que os ataques aos ativistas e profissionais da Escola Winnie Mandela são comuns. “Sofremos muitos ataques políticos de diferentes pessoas que não conhecem nossos princípios, mas superamos com o compromisso assumido pela militância da organização política administradora da escola e o seu incansável papel de fortalecer a prática negra de luta e resistência diária”, finaliza.

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia para perguntar quais medidas de investigação serão tomadas em relação ao caso, quais orientações são passadas para os agentes policiais e se ameaças fazem parte da conduta da Polícia Militar. Até o fechamento deste texto, o órgão não se manifestou.

  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Passagens por UOL, Estadão, Automotive Business, Educação e Território, entre outras mídias.

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