Dados do Vacinômetro mostram que 18.424.402 doses de vacinas contra a Covid-19 já foram aplicadas no município de São Paulo e, com isso, o Carnaval 2022 tem grande probabilidade de acontecer. Diante dessa possibilidae, as escolas de samba de São Paulo estão retornando os ensaios de baterias em suas quadras, de forma presencial e com obrigatoriedade do comprovante de vacinação contra Covid-19.
Todas as 14 agremiações do Grupo Especial já definiram seus sambas-enredos para o Carnaval, que já teve autorização do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para iniciar os preparativos dos desfiles na avenida. Apesar disso, a realização final do evento ainda depende de autorização dos órgãos municipais de saúde e de que, pelo menos, 70% dos paulistanos já estejam vacinados completamente. Ainda sem data definida, a previsão é que os desfiles ocorram entre 25 de fevereiro e 5 de março.
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A escritora Carolina Maria de Jesus é a protagonista do samba-enredo da Colorado do Brás. Com o nome ‘Carolina — A Cinderela Negra do Canindé’. Segundo a diretora de comunicação da escola, Juliana Cardoso, “é importante exaltar a cultura brasileira, e resgatar a memória da escritora como mulher preta, pobre, favelada, algo que não é de conhecimento geral”, comenta.
O fim do racismo é a temática escolhida pela Gaviões da Fiel para o Carnaval 2022. O samba-enredo ‘Basta!’, que fala ainda sobre opressão e violência, foi escolhido como o melhor do grupo especial pela Sociedade Amantes do Samba Paulista (SASP).
A atual campeã do Carnaval, a Águia de Ouro, terá como enredo ‘Afoxé de Oxalá – No Cortejo de Babá’. A temática foi inspirada ‘No Cortejo de Babá/Afoxé de Oxalá’, ijexá composto pelo historiador e professor Luiz Antônio Simas.
Por sua vez, a Mocidade Alegre, que voltou aos ensaios em meados de setembro e exige o passaporte da vacina de seus integrantes, levará o samba ‘Quelémentina, Cadê Você?’ para o próximo carnaval, em homenagem à Clementina de Jesus. A sambista carioca só pode começar sua carreira profissional como cantora aos 63 anos.
Já a escola Acadêmicos do Tucuruvi abordará o enredo ‘Carnavais…De lá pra cá o que mudou? Daqui pra lá o que será?’. “O samba não acabou nem vai acabar, sou resistência e você tem que respeitar”, diz um trecho da letra.
‘O Pequeno Príncipe no Sertão’ é o enredo da Tom Maior. Os compositores adaptaram a obra de Antoine de Saint-Exupéry para uma versão em cordel, que será levada para a avenida.
A Unidos de Vila Maria traz o samba-enredo composto por Dudu Nobre, Zé Paulo Sierra e Diego Nicolau. O tema escolhido é ‘O mundo precisa de cada um de nós. A Vila é porta-voz’. E Adoniran Barbosa, por sua vez, será o protagonista do samba-enredo da Dragões da Real.
A maior campeã do carnaval paulistano com 15 títulos, a Vai-Vai, levará o enredo ‘Sankofa’, uma ave sagrada africana que simboliza o ensinamento da mitologia Axante de que “nunca é tarde para voltar atrás e buscar o que ficou perdido”.
Para o próximo desfile, a Barroca escolheu o enredo ‘A Evolução vem da sua Fé… Saravá Seu Zé!’, que vai contar a história e as particularidades de Zé Pilintra, uma das mais importantes entidades em religiões de matriz africana. Já a Acadêmicos do Tatuapé, homenageará a figura do Preto Velho no enredo ‘Preto Velho conta a saga do Café num Canto de Fé’.
‘Planeta Água’ é a temática escolhida pela Mancha Verde. O enredo é inspirado na música homônima de Guilherme Arantes. “Falar sobre a água é, mais uma vez, mostrar a importância de um enredo dentro da sociedade atual, e a água é fundamental em nossas vidas”, explica o carnavalesco Jorge Freitas.
E a Rosas de Ouro, que iniciou os ensaios da bateria no final de setembro seguindo protocolos de segurança, pretende levar para a avenida o enredo ‘Sanitatem’, (cura, em latim) por causa da pandemia do coronavírus.
Por fim, a escola Império de Casa Verde abordará a comunicação através dos tempos e ainda fará uma homenagem ao humorista e influenciador Carlinhos Maia em ‘O Poder da Comunicação – Império, o Mensageiro das Emoções’. Entre os compositores estão Samir Trindade, André Diniz, Cláudio Russo, Diego Nicolau, Darlan Alves, Fabiano Sorriso e Marcelo Casa Nossa.
Grupo de acesso
No grupo de acesso do Carnaval de São Paulo, outras temáticas valorizam a história de negros e indígenas. A X-9 Paulistana vem para o Anhembi com o samba-enredo ‘Arapua-Tupi: a Reconquista de uma Terra sem Dono’. Segundo Júlio Poloni, co-autor do enredo, a escola busca “a cultura e a valorização da visão de mundo indígena”, comenta.
Júlio ainda destaca que o tema é relevante para trazer à tona as pautas indígenas, o que segundo ele, não recebem a devida importância no governo de Jair Bolsonaro (sem partido). “É importante lembrar da cultura indígena, dos direitos desses povos e da legitimidade desse povo existir. É a cultura mãe do nosso país”, afirma.
As ‘Rezadeiras’, da Camisa Verde e Branco, foi escolhida a melhor temática do grupo de acesso em 2022, segundo a SASP. Para o carnavalesco Renan Ribeiro, o samba-enredo busca resgatar a ancestralidade das rezas na oralidade.
“As rezadeiras, curandeiras e benzedeiras são culturas que vêm se perdendo. Então, a ideia é fazer o resgate e exaltar essas mulheres, que são detentoras desse tipo de conhecimento”, explica.
Já a Pérola Negra escolheu a temática ‘Um Mergulho nos Rios Sagrados, em Busca da Cura para o Corpo e a Alma’; e a Independente traz para a avenida o enredo ‘Brava Gente é Hora de Acordar’. A escola Estrela do Terceiro Milênio, comandada pelo carnavalesco Murilo Lobo, utiliza da temática ‘Ô abre Alas que Elas vão passar’.
‘No Ecoar dos Tambores e no Feitiço da Leandro – De Dahomé as Terras de Encantaria – O Cortejo da Rainha Jeje e os Segredos de Xelegbtá’ é o samba-enredo escolhido pela Leandro de Itaquera. A Mocidade Unida da Mooca, por sua vez, traz o enredo ‘Aruanda, o Eterno Retorno’, comandada pelo carnavalesco André Rodrigues.
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