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‘Estrutura social do país foi permeada pelo racismo em 2021’, avalia professor

Mesmo com a pandemia, o Brasil reforçou a lógica do racismo estrutural e da perseguição ao povo negro no último ano

 

Mestre prego, de Tiradentes (MG), segura imagem de Anastácia contra o racismo

Foto: Imagem I André Frade

22 de dezembro de 2021

O ano de 2021 no Brasil foi marcado por violações de direitos agravadas pelo racismo e pela impunidade em relação a esses crimes. Mesmo diante do fortalecimento da luta antirracista e das ações do movimento negro organizado, sobretudo, na arrecadação e distribuição de alimentos para o combate à fome, é evidente a falta de iniciativas do governo para garantir melhor qualidade de vida para a população. negra.

A naturalidade com que a sociedade aceita os privilégios brancos, constituídos pelo racismo estrutural, dão margem para que casos de racismo se repliquem em diversos cantos do Brasil. A Alma Preta Jornalismo relembra alguns casos emblemáticos que exemplificam isso e que aconteceram este ano.

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“O que se observa, na maioria desses casos, é o incômodo dos brancos com a presença de negros em espaços que o racismo estrutural não permite. São manifestações explícitas do desejo que os negros voltem para a senzala. O racismo se organiza, no Brasil, sobre o conceito que o professor Darcy Ribeiro chama de ‘tolerância opressiva’. Ou seja, você tolera o outro desde que possa reinar sobre o seu corpo e a sua mente, e também define quais são os lugares que as pessoas negras podem ficar”, pontua o professor jornalismo e pesquisador Dennis de Oliveira, da USP (Universidade de São Paulo), autor do livro “Racismo Estrutural, uma perspectiva histórico-crítica”, pela editora Dandara.

Escolas

Alunos do Colégio VER, escola particular com orientação cristã do bairro Nossa Senhora de Fatima, em Belo Horizonte (MG), escreveram em um grupo de WhatsApp que tinham “saudade do tempo em que negro era só escravo e apenas trabalhavam” e “ainda bem que o neguinho não está. Não aguentava mais preto naquele grupo”. O pai do aluno negro, de 14 anos, atacado pelos colegas de escola fez um boletim de ocorrências. Os ataques aconteceram agora em dezembro. O grupo tinha sido criado para que os alunos conversem sobre as provas online do colégio.

Já em Gurupi, no Tocantins, alunos brancos de uma escola adventista pintaram o rosto de preto e colocaram perucas ‘black power’ para realizar uma atividade do dia 20 de novembro. A escola chegou a postar fotos das crianças nas redes sociais. Após a repercussão negativa, o colégio apagou o post e fez uma nota se desculpando.

professor da escola do ABC com túnica da Klan

Professor de uma escola pública de Santo André usou uma túnica da Ku Klux Klan I Imagem: Reprodução vídeo

Mais recentemente, no dia 8 de dezembro, outro caso aconteceu em Santo André, no ABC paulista, quando um professor concursado da rede pública, que dá aulas de História, circulou pelo pátio usando uma roupa da Ku Klux Klan – organização supremacista dos EUA que persegue e mata negros.

“O racismo à brasileira se conecta ao passado escravocrata. As senzalas contemporâneas são as periferias e as posições subalternas de trabalho. Com as ações afirmativas, como a política de cotas, e a luta do movimento negro, este tipo de definição de espaço, criado pelo racismo estrutural, foi sendo questionado”, afirma o professor Dennis de Oliveira.

Varejo e poder

Denúncias de racismo em comércios não são novidades e ganharam bastante destaque em 2021. A rede Zara de roupas, por exemplo, foi exposta por conta de uma investigação da polícia do Ceará, no mês de outubro, que descobriu que a loja de Fortaleza usava um código sonoro que dizia ‘zerou zara’ para indicar a presença de pessoas suspeitas de cometer furtos – em sua maioria, negros com roupas simples.

Outro exemplo aconteceu em Santa Catarina, quando um grupo de turistas cariocas voltavam de uma viagem ao Uruguai no final de novembro, quando funcionários de uma churrascaria não permitiram a entrada dos visitantes negros, com a alegação de que tinha acabado a comida, porém, as pessoas brancas que estavam no mesmo ônibus puderam entrar e se servir.

Também no sul do país, em Porto Alegre (RS), no mês de outubro, uma manifestante branca invadiu o plenário da Câmara dos Vereadores e gritou que a vereadora negra Bruna Rodrigues (PCdoB) era ‘empregada’ dela. Na mesma sessão, que discutia a obrigatoriedade da apresentação do comprovante da vacina contra a Covid-19, um outro manifestante branco trouxe um cartaz com uma suástica desenhada.

“Quando as pessoas negras começaram a ocupar espaços mais próximos do poder, isso gerou muito incômodo na branquitude. A estrutura social brasileira é permeada pelo racismo”, explica o professor Dennis.

Religião e fé

A perseguição racista está presente também nos casos de ataques a manifestações culturais e religiosas de origem afro-brasileira. Em Minas Gerais, a direção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na cidade de Tiradentes, não permitiu que tradicional congado de Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia fizesse sua homenagem à santa, no dia 31 de outubro, porque havia uma bandeira da escravizada Anastácia.

“O problema do padre é a gente carregar a imagem da escrava Anastácia conosco. A justificativa dele é que nós estamos falando que ela é santa, mas não é verdade. Para nós, a escrava Anastácia é um símbolo de luta e resistência. E ele está sendo racista com ela”, relatou o líder do congado, Mestre Claudinei Matias, conhecido como Prego.

Em São José dos Campos, no interior de São Paulo, um grupo de candomblecistas foi ameaçado e perseguido porque estavam recolhendo um punhado de terra do lado de fora de um cemitério particular, no final do mês de agosto. O segurança do cemitério chegou a disparar tiros contra o carro onde estavam os religiosos.

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