O estudante Felipe Monteiro apresentou o “Minimanual do Jornalismo Humanizado – Parte VIII: Orixás na Umbanda” como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Texto / Bibiana Garrido, do Jornal Dois
Imagem / Reprodução
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Está no ar mais um minimanual do Jornalismo Humanizado, e desta vez não lançado por comunicadores das capitais. Um morador e estudante bauruense tomou a iniciativa em defesa do respeito na comunicação com as religiões afro-brasileiras. Felipe Monteiro é umbandista de nascença e por observar coberturas midiáticas que tratam essas manifestações como “charlatanismo”, além do preconceito, intolerância e discursos de ódio que culminam em ataques a terreiros e religiosos, ele resolveu investir na pesquisa para consolidar o trabalho.
“Ao longo do século XX, a Umbanda se desenvolveu e passou de uma situação de extrema marginalização, para integrar um movimento de inclusão que permitiu o início de uma frágil aceitação social”, escreve Felipe. “Sua história é permeada por um passado de opressão e de resistência por parte de um povo composto por negros, migrantes e imigrantes pertencentes à classe trabalhadora, que encontra na religião um meio de amparo para as labutas diárias”.
O minimanual é um documento que tem como objetivo orientar a redação jornalística sobre determinado assunto. Notícias envolvendo terreiros de umbanda e candomblé podem, por exemplo, se referir ao culto religioso como “macumba”, palavra equivocada para falar da louvação aos orixás. Macumba é uma espécie de árvore africana e também um instrumento musical.
Da expressão “chuta que é macumba”, ela surge da violência com oferendas preparadas por umbandistas e candomblecistas. Segundo as especificidades de cada religião e cada terreiro, fiéis podem acender velas, levar flores e objetos como forma de agradecimento e pedido de proteção, nos “pontos de força” de cada orixá: a rua, o rio, o mar, a floresta, entre outros.
E nem só no jornalismo perduram as referências estereotipadas das religiões de matriz afro. Recentemente, a novela “Segundo Sol” da Globo mostrava a personagem Laureta, vilã interpretada por Adriana Esteves, que conseguia fazer suas maldades por oferecer agrados às entidades espirituais. Praticantes se revoltaram nas redes sociais e se colocaram contra o “desserviço” da emissora.
“Atribuindo-lhe caráteres de banalidades e seculares, desconsiderando o sagrado da religião, depreciando a cultura dos Orixás e das comunidades umbandistas”, coloca Felipe, “é possível identificar diversos veículos midiáticos construindo notícias com elementos da Umbanda em caráter de esoterismo”.
Para construir o livro, Felipe conversou com frequentadores e membros de terreiros da cidade. O estudante irá apresentar, no mês que vem, o “Minimanual do Jornalismo Humanizado – Parte VIII: Orixás na Umbanda” como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na Unesp, câmpus de Bauru. O PDF já está disponível para download no link destacado.
“Exu é o começo, atravessa o avesso. Exu é o travesso que traça o final”, diz a letra de Serena Assumpção no álbum Ascensão, dedicado aos orixás (Foto: Bibiana Garrido/Jornal Dois)
O trabalho é destinado a qualquer pessoa que queira se comunicar livre de preconceitos e estigmas contra as religiões de culto afro e afro-brasileiro. “Com a ascensão ao poder de grupos racistas e intolerantes”, comenta o autor, “um novo cenário de lutas e resistência surge, e com ele, necessidades de criação, fomento e manutenção de meios que propaguem a cultura afro-brasileira, seus símbolos, cultos e a defesa dos direitos humanos”.
A publicação é a oitava de seu tipo: as sete anteriores foram criadas pelo grupo Think Olga, que inspirou Felipe a dar continuidade à série de minimanuais. Em 2016, para evitar erros jornalísticos em reportagens sobre violência contra a mulher, foi lançado o primeiro “Minimanual do Jornalismo Humanizado – Parte I: Violência Contra a Mulher”. Todas as edições estão disponíveis para consulta e download aqui.