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Evaldo dos Santos: O silêncio e a conivência institucional no assassinato

16 de abril de 2019

Embora tenha comovido o país, o assassinato de um homem negro, na frente da família, parece não ter surtido o mesmo efeito entre os representantes políticos do país

Texto / Simone Freire e Pedro Borges
Imagem / Reprodução

“O Exército não matou ninguém não”, disse o presidente da República Jair Bolsonaro. ‘Incidente lamentável’, disse o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. “Isso não é uma atitude do Exército normal. Aconteceu”, disse o general da reserva do Exército Augusto Heleno, ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Todas as declarações foram feitas em relação à atuação do Exército, que metralhou com 80 tiros um carro familiar em Guadalupe, no Rio de Janeiro (RJ), no dia 7 de abril. Evaldo dos Santos, de 51 anos, foi executado na hora.

Embora tenha comovido o país, o assassinato de um homem negro, na frente da família, parece não ter surtido o mesmo efeito entre os representantes políticos do país.

Para falar sobre isso, o Alma Preta conversou com Suzane Jardim, pesquisadora em dinâmicas raciais e criminologia, e com Dina Alves, advogada e pesquisadora.

Para Suzane Jardim, o silêncio e a conivência institucional são frutos do espaço que as pautas de segurança pública tiveram para as vitórias de candidaturas nas últimas eleições e a construção comum da “família tradicional brasileira”.

“Com o assassinato do Evaldo se tem um colapso institucional, uma situação-potência para que os modelos de segurança postos em prática no país sejam questionados. A resposta [das autoridades] ao caso só poderia vir como tentativa de legitimar instituições e modelos falidos de segurança. Entretanto, essas respostas legitimadoras e que aparentam diminuir a tragédia só funcionam porque existe um modelo muito bem consolidado sobre quem são os bons cidadãos e quem são aqueles que fazem parte da “guerra” onde inevitavelmente se derrama sangue”, diz.

A única simbologia que se constrói institucionalmente, diz ela, é a de que no meio de uma guerra, no meio da busca por um bem maior, erros acontecem. Mas o erros tem alvo e endereço. Segundo a pesquisadora, o território e a cor de pele da família de Evaldo são iguais as cores e territórios sob os quais foi criada a figura do inimigo identificável e não as que inconscientemente identificam a “família brasileira modelo”, que é branca e está longe da periferia.

“As declarações públicas sobre o tema precisam apenas reforçar e preservar a crença geral nas instituições, sem necessariamente preservar a humanidade dos envolvidos ou reconhecer a tragédia do episódio, afinal, dentro da atual lógica discursiva, não há tragédia, há apenas efeitos colaterais dos remédios que foram prometidos para a cura dos problemas de segurança pública de cidadãos cuja cor e territórios estão acima de qualquer suspeita”, disse.

A advogada Dina Alves reforça este ponto de vista. Segundo ela, o Exército brasileiro toma cada vez mais um lugar no cenário de segurança pública, tomando um protagonismo em ações de segurança pública e que, infelizmente, a sociedade vai legitimar. “Toda esta indústria bélica, toda esta aparência de que é uma segurança para a sociedade, a sociedade compra esta narrativa e acha realmente que está segura. Mas é, na verdade, uma necropolítica que é de extermínio e que só atua nas comunidades, nas periferias”, diz.

A advogada reforça que olhar para este trágico episódio requer analisar os processos de políticas voltadas para a segurança pública ao longos dos últimos anos e as movimentações atuais que visam interferir futuramente como o pacote de medidas do ministro Sergio Moro enviado ao Congresso neste ano.

Segundo ela, o que está acontecendo agora, não só no caso do Evaldo, mas de outros que aconteceram recentemente como o próprio caso da ex-vereadora própria Marielle Franco, assassinada em 2018, que são mortes que acontecem em um contexto de intervenção militar do Rio de Janeiro, são consequências do pacote de Moro em ação antes mesmo de passar pelas casas legislativas.

“A política de Jair Bolsonaro e Sergio Moro é combustível para impulsionar uma máquina genocida que mata desproporcionalmente. Sempre matou, mas eu acho que é um combustível a mais para matar mais”, diz.

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