Um policial militar branco, aposentado, fez ofensas racistas e ameaçou duas mulheres que estavam em um açougue, na zona Leste de São Paulo, em 14 de janeiro, por volta das 19h. O ex-1º sargento José Gonçalves Canhoto entrou no estabelecimento Penhita, no bairro da Vila Esperança, e foi em direção à uma empresária e a sua irmã, ambas negras.
Canhoto foi grosseiro com as mulheres e afirmou que elas tinham estacionado o carro de forma errada. Elas estranharam a abordagem de baixo nível e o homem começou a ofendê-las, fazer gestos obscenos e ofensas racistas, enquanto era ignorado pelas duas mulheres diante de funcionários e clientes do estabelecimento.
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De acordo com a empresária, o ex-policial se aproximou dela na fila de atendimento e disse que queria dar um tiro na testa dela.
“O racismo e machismo estabelecem diferenças graves entre os indivíduos, pois restringe o direito de ir e vir numa evidente ofensa aos princípios e garantias individuais consagrados em nossa Constituição, ocasionando a perda do respeito pela pessoa humana”, afirma a advogada Zaira Castro, que defende as irmãs, junto com Rodrigo Cordeiro e Valmir Venâncio.
A irmã da empresária decidiu gravar um vídeo no seu celular para registrar a atitude do homem que também se identificou como policial militar. Ele, então, tomou o aparelho da moça à força, apagou as imagens e deixou cair no chão. Para tentar se defender do homem e reaver o seu celular, a moça arranhou os pulsos de José Gonçalves.
O ex-policial disse na frente das pessoas que iria até o carro para pegar a arma. Ele foi contido pela esposa e por funcionários do açougue, que presenciaram a cena. O policial deu uma cotovelada nas costas da moça.
As irmãs foram até o 24º DP acompanhadas da advogada para registrar a queixa. O ex-policial disse que a empresária era “uma merda” e “macaca” e que aquilo não daria em nada porque ele era da polícia. O boletim de ocorrências foi aberto com as indicações de crimes consumados de lesão corporal (artigo 129), ameaça (artigo 147) e injúria racial (artigo 140, parágrafo 3º).
“O fato está sendo investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), e que, além da possível representação criminal, é possível que se requeira à reparação civil por danos materiais e morais”, diz a advogada.
Na semana passada, as duas vítimas foram prestar depoimento no 2º Batalhão da Polícia Militar, acompanhadas novamente pela advogada Zaira Castro. O ex-policial também fez um depoimento, no dia 22 de fevereiro, onde negou que tenha feito declarações racistas e que tinha dito apenas que a mulher era “mal educada”. Ele, que é loiro e de olhos claros, também afirmou que as irmãs tinham parado o carro de modo a ocupar duas vagas.
As imagens gravadas pela irmã da empresária não puderam ser acessadas porque o celular quebrou a tela e apagou depois que ela foi agredida pelo policial.
A polícia deve ouvir agora outras testemunhas que presenciaram a agressão e as ofensas do ex-policial contra as duas mulheres. O açougue tem um circuito interno de gravação de imagens. No vídeo abaixo, que não tem áudio, é possível notar o gestual corporal do ex-policial – homem de camisa preta – de afronta diante das irmãs enquanto fazia ameaças e tentava tirar o celular de uma delas.
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