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‘Favelas do Rio de Janeiro vivem uma política de extermínio’, afirma morador do Complexo do Alemão

Ativistas e moradores do Complexo do Alemão avaliam que o assassinato de Ágatha Felix, de apenas oito anos, evidencia a política de morte no Rio de Janeiro

23 de setembro de 2019

Em clima de revolta e grande comoção, o corpo de Ágatha Felix, de oito anos, foi enterrado no domingo, 22 de setembro, no cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A menina morreu após ser baleada por um policial da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), na comunidade do Fazendinha, no Complexo do Alemão.

Ela foi a 16ª criança vítima da violência armada neste ano no estado e a quinta que não resistiu aos ferimentos. Os números foram levantados pela plataforma Fogo Cruzado.

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Ativistas e moradores do Complexo do Alemão consideram que a morte de Ágatha é uma das consequências da política de segurança pública do governo de Wilson Witzel.

Thamyra Thâmara, moradora e criadora de projetos sociais no Complexo do Alemão, destaca que a violência nas operações policiais se intensificaram na atual gestão.

“Assim como em vários segmentos da sociedade, o racismo sempre esteve presente nas forças policiais. O que acontece hoje é um discurso assumido do governador Witzel de que as pessoas que moram na favela não valem nada e por isso a polícia pode atirar a vontade”, afirma.

Segundo dados do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, a polícia nunca matou tanto como em 2019. De janeiro a agosto, foram registrados 1.249 casos. A média é de cinco mortes por dia.

Thainã de Medeiros, integrante do coletivo Papo Reto (formado por jovens moradores do Complexo do Alemão e da Penha), avalia que as favelas do Rio de Janeiro vivem uma política de extermínio.

“É uma política onde a polícia atira primeiro e depois pergunta se a pessoa baleada era inocente ou não. Temos a polícia que mais mata no Brasil e as estatísticas comprovam essa fatalidade”, defende.

O assassinato

Ágatha Felix morreu na noite de sexta-feira, 20 de setembro, após ser baleada nas costas quando estava dentro de uma kombi, acompanhada da mãe e do avô na comunidade do Fazendinha. Ela chegou a ser levada para a UPA do Complexo do Alemão e transferida para o Hospital Getúlio Vargas, mas não resistiu aos ferimentos.

De acordo com moradores, o autor do disparo seria um policial militar da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O PM teria suspeitado de um motociclista que passava no local e o tiro acertou a criança.

Em comunicado, a Polícia Militar informou que equipes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foram atacadas de várias localidades da comunidade do Fazendinha de forma simultânea. Os policiais teriam revidado aos ataques, gerando um confronto que vitimou Ágatha. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) abriu um inquérito para apurar todas as circunstâncias da ação.

A Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, vinculada à Secretaria de Polícia Civil, ouviu os familiares da vítima no sábado, 21 de setembro, e informou que novas testemunhas vão prestar depoimento na segunda-feira, dia 23. As armas dos policiais militares envolvidos no crime e o projétil extraído do corpo da criança foram enviados para perícia.
Repercussão

Ainda no sábado, 21 de setembro, a hashtag #ACulpaÉDoWitzel se tornou um dos assuntos mais comentados do Brasil no Twitter. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) divulgou uma nota onde critica a política de segurança pública do governo de Wilson Witzel.

Para a OAB-RJ, a política adotada por Witzel “afronta os parâmetros básicos de civilidade”. “A morte de Ágatha evidencia mais uma vez que as principais causas dessa política de segurança pública, sem inteligência e com precisão no confronto, são pessoas negras, pobres e mais desassistidas pelo Poder Público”, diz o comunicado.

No domingo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, usou sua conta no Twitter para lamentar a morte da menina. “Qualquer pai e mãe consegue se imaginar no lugar da família da Ágatha e sabe o tamanho dessa dor”, escreveu.

O parlamentar ainda defendeu “uma avaliação muito cuidadosa e criteriosa sobre o excludente de ilicitude”, medida do pacote anticrime proposto pelo Ministro da Justiça, Sérgio Moro. O item, do pacote em tramitação na Câmara, propõe que agentes policiais, que cometam homicídios, não sejam punidos se alegarem legítima defesa.

Protestos

Moradores do Complexo do Alemão foram às ruas no sábado, 21 de setembro, para protestar contra a morte de Ágatha Felix e pelo fim das operações policiais na região, que na última semana resultaram em seis mortes.

Nesta segunda-feira, 23 de setembro, ocorre outra manifestação em memória da menina e contra a violência que atinge as favelas do Rio de Janeiro. O ato será na Alerj, a partir das 17h.

Em São Paulo, o movimento negro fará um ato na sexta-feira, 27 de setembro, na Avenida Paulista. Neste dia, a morte de Ágatha completa sete dias. Os manifestantes sustentam que ações realizadas pela polícia nas favelas corroboram com o genocídio da população negra e pobre.

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  • Nataly Simões

    Jornalista de formação e editora na Alma Preta. Atua há seis anos na cobertura das temáticas de Diversidade, Raça, Gênero e Direitos Humanos. Em 2023, como editora da Alma Preta, foi eleita uma das 50 jornalistas negras mais admiradas da imprensa brasileira.

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