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Filtros de Instagram podem ser prejudiciais para autoestima de mulheres negras

Com modificações na cor da pele, estrutura do nariz e outros traços negróides, a ferramenta causa insatisfação com a própria imagem, segundo estudos

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nataly Simões | Imagem: Reprodução/Freepik

Imagem mostra uma mulher negra com o celular na mão, demonstrando insatisfação com o que vê no celular

15 de outubro de 2021

Os filtros de Instagram são comumente utilizados em fotografias, stories, reels e outros materiais audiovisuais da rede social. A questão é o que a utilização dessas ferramentas causa na autoestima das mulheres, em especial, negras. Um grupo britânico, chamado Girlguiding, apontou que um terço das mulheres jovens não publica fotos nas redes sociais se as imagens estiverem sem a edição dos filtros, modificando sua verdadeira aparência.

A pesquisa ainda mostra que das 1.473 mulheres entrevistadas, 39% se diziam infelizes por não serem parecidas na vida real com o que publicaram utilizando os filtros. Além disso, no Brasil, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica afirmou que, nos últimos dez anos, houve um aumento de 141% no número de procedimentos estéticos feitos por jovens de 13 a 18 anos. A motivação para tais intervenções é conquistar a beleza que os filtros proporcionam, a fim de sair bem nas selfies.

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Nas mulheres negras, os filtros do Instagram modificam muito sua aparência. Os principais aspectos são: clareamento da pele, mudança na estrutura dos lábios e do nariz, olhos claros, e rosto mais estreito, ou seja, o que remete ao padrão de beleza branco europeu. Segundo a digital influencer e fundadora do Clube da Preta, Débora Luz, que conta com mais de 140 mil seguidores no Instagram, os filtros afetam a autoestima de todas as pessoas, em especial, das mulheres negras.

“Quando você utiliza filtros, eles ‘tiram’ tudo que a sociedade diz não ser bonito. Manchas de melasma, espinhas, características de um rosto negroide. Tudo que é caracteristicamente normal uma pele ter, ele vai tirar. Os filtros tentam trazer uma perfeição segundo padrões da sociedade. Os nossos traços negros são os mais modificados”, salienta Débora.

A digital influencer ressalta também que, pelo excesso de filtros nas fotos, algumas pessoas negras próximas à ela passaram a desejar e a planejar procedimentos estéticos, a fim de afinar o nariz, principalmente. “A pessoa se via tanto com filtros que não se achava mais bonita, com suas características naturais, como o nariz. Muitas pessoas também já me falaram que desejavam afinar o rosto”, comenta.

O limite do que é saudável

Um estudo realizado por cientistas britânicos — e publicado em um artigo da Universidade Federal de Viçosa (MG) — abordou os impactos negativos decorrentes da relação entre Instagram e saúde mental de jovens entre 14 e 24 anos de idade. Os problemas mais apontados na rede foram o bullying, a solidão e a distorção da imagem corporal.

“Nada contra quem realiza procedimentos estéticos, como harmonização facial, até porque eu tenho micropigmentação nas sobrancelhas, preenchimento labial. Mas eu me pergunto: até que ponto é saudável usar filtros e não se achar bonita naturalmente? A questão é essa, querer ser ‘a pessoa’ do seu filtro favorito”, destaca Débora Luz.

A digital influencer e fundadora do Clube das Pretas, Débora Luz, utilizando diferentes filtros do Instagram | Créditos: Acervo PessoalA digital influencer e fundadora do Clube da Preta, Débora Luz, utilizando diferentes filtros do Instagram | Créditos: Acervo Pessoal

A fim de testar se o algoritmo do Instagram é racista, Débora conta que uma vez postou uma foto de uma pessoa branca, com a mesma curvatura de cabelo que uma pessoa negra, mesmo estilo de roupas e afins. Para sua surpresa, o alcance da fotografia foi mais de 700% a mais do que a mesma imagem com uma pessoa negra. Segundo ela, tal qual o algoritmo da rede social, os filtros também têm essa preferência, o que acaba por não valorizar a beleza negra.

“Eu percebi que a rede social tem um algoritmo extremamente racista, e eu acredito que os filtros seguem a mesma linha: estão ali para padronizar a beleza que a sociedade diz que é mais bela. Nariz fino, rosto marcado, pele sem manchas. O filtro é apenas o reflexo que as próprias redes exemplificam”, ressalta.

A digital influencer avalia que a autenticidade dos influenciadores pode contribuir para que as pessoas passem a se aceitar mais como são. Mesmo que o influencer conte com poucos seguidores, Débora salienta que é de suma importância influenciar com a verdade, não mascarando a própria realidade, como os próprios filtros de Instagram fazem.

“Acho que para você ter um conteúdo transparente, que não soe como algo artificial, é necessária a autenticidade, pois isso agrega valor. Querer ser o que não é apenas para agradar consumidores de internet não acho tão válido. O conteúdo e a essência do digital influencer vai se perdendo quando ele quer imitar alguém ou ser algo que não é”, pondera. “Trazer a proximidade com o seguidor, mostrando que nada e ninguém é perfeito, é o meu objetivo”, finaliza.

Leia também: ‘Marca cria modelo de óculos adequado aos traços faciais negros’

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