Na noite de sábado (22), membros da casa Pai Omolu e Ogum Xoroquê, terreiro de umbanda localizado em Bauru, no interior de São Paulo, foram alvo de um ataque com spray de pimenta durante um culto religioso. Um boletim de ocorrência foi registrado no departamento da Polícia Civil do município no dia seguinte.
O caso ocorreu durante uma cerimônia religiosa, quando uma vizinha lançou spray de pimenta contra os frequentadores, através do muro e na porta de entrada do espaço.
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Na ocasião, cerca de 50 pessoas participavam da cerimônia, incluindo adultos, jovens e crianças, que passaram mal e precisaram sair do local. Segundo os membros do terreiro, algumas das vítimas tiveram que ser encaminhadas para o hospital.
No depoimento, uma das vítimas relatou que o ataque foi motivado por ameaças feitas pela vizinha, que se queixava do som dos tambores e do cheiro da defumação durante os cultos, alegando que o odor invadia sua casa e a incomodava, descrevendo-o como “fedido”.
Em entrevista à Alma Preta, Kauê de Oliveira, dirigente do terreiro, conta que já havia ocorrido outras ações de discriminação. O dirigente relata que a vizinha é evangélica e que o ataque se tratou de intolerância religiosa.
Filiado à Federação de Cultos Afro-Brasileiros e Magias Ocultas (Flamb), Kauê disse que possui autorização para realizar as cerimônias no local.
Lívia Almeida, frequentadora do terreiro, relatou que casos como esse são recorrentes devido ao local ser de culto a uma religião afro-brasileira. Ela ainda mencionou que há uma igreja nas proximidades, da qual ressoam sons, mas até o momento não houve nenhuma reclamação.
“Quando não é uma música que não fala sobre macumba, não incomoda. A partir do momento que fala sobre a nossa religião, já incomoda”, explicou.
Para Lívia, o ataque seria uma tentativa de intimidar os frequentadores do espaço, com o objetivo de interromper os cultos.
“Eles acham que com uma atitude dessa a gente vai ficar quieto, a gente não vai atrás. Temos que ir atrás sim de processo, de boletim e tem que incomodar. Só assim a gente consegue mostrar para eles que a nossa comunidade tem voz e precisa ser ouvida”, comentou.
Crime foi registrado como ultraje a culto
O Conselho da Comunidade Negra de Bauru acompanha o caso, que foi registrado como ultraje a culto e impedimento ou perturbação a ato a ele relativo em vez de intolerância religiosa.
Segundo Tiana Sebastiana, presidente do conselho, a denúncia será levada para a Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para reorientação. Ela reforçou a importância do combate ao racismo religioso na cidade.
“Intolerância é a evidência de que existe o racismo porque as religiões de matriz africana são de origem africana. Tudo que se lida diferente do tradicional trazido pelo colonizador europeu, é considerado errado e demonizado, isso precisa ser desfeito e combatido para dar os direitos da prática da liberdade religiosa”, declarou.