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‘Futebol precisa debater falta de negros no comando dos clubes’, diz diretor de observatório do racismo no esporte

22 de junho de 2020

Para Marcelo Carvalho, diretor executivo do observatório, um dos desafios é engajar times de todo o país na campanha contra o genocídio da população negra

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Joana Berwanger/Sul21

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O racismo no futebol vai além das linhas brancas que demarcam o gramado. Nos últimos três anos, foram identificados 150 casos desse tipo de crime, 63 só em 2019. Os dados são do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, que existe há seis anos.

“Foi um ano com maior debate sobre o racismo no espaço esportivo. Houve adesão de alguns clubes às propostas do observatório para falar sobre racismo e com o futebol como palco abordamos a desigualdade racial no Brasil. Foi um avanço”, conta Marcelo Carvalho, diretor executivo do observatório, em entrevista ao Alma Preta.

Para Carvalho, as mudanças mais significativas vão acontecer quando os negros estiverem representados nos cargos de comando no futebol, como técnicos, dirigentes e donos de clubes. “Esse debate precisa ser feito com urgência”, diz.

Segundo o diretor executivo, há uma perspectiva de ampliação e aprofundamento das pautas raciais no futebol, apesar da falta de representatividade nos cargos de decisão. “Os clubes, anteriormente, se manifestavam sobre o racismo com menção a ídolos negros do passado ou que valorizaram a presença de negros nos times. Essa quebra de sair da exaltação dos ídolos, que pouco contribui contra o racismo, para falar sobre outros temas raciais. Quero ver se algum clube tem coragem de iniciar esse diálogo. Não apenas escrever ‘Vidas Negras Importam’, mas falar nas redes sociais sobre a violência que sempre foi praticada contra a população negra”, sustenta.

O Observatório da Discriminação Racial no Futebol já firmou parcerias de ações sobre a desigualdade racial com os times: Bahia, Corinthians, Vasco, Fluminense, Grêmio, Internacional e Santos.

Punições

Embora nos últimos três anos o número de denúncias sobre racismo no futebol tenha aumentado, o mesmo não ocorreu com as punições para quem comete esse tipo de crime. “A gente sempre faz uma provocação sobre o porquê de casos com todas as possibilidades de serem julgados na justiça esportiva e não foram. São casos que foram registrados em súmula, mas que não foram adiante. A punição é uma parte importante para que os racistas não pensem que o futebol é um lugar liberado para cometer o racismo”, avalia Carvalho.

Outro problema apontado pelo diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol é que quando as multas são aplicadas, o dinheiro arrecadado não é destinado para promoção de ações antirracistas. Em 2019, a justiça esportiva julgou 10 casos de racismo e em oito deles houve a aplicação de multas, que somou pouco mais de R$ 81 mil. Cinco, das 10 multas, tiveram valor abaixo de R$ 2 mil.

“São valores relativamente baixos para um time de futebol. Esse valor deveria ser destinado às instituições que atuam contra o racismo. As punições deveriam ser mais pesadas e usadas no combate à discriminação”, considera Carvalho.

O uso de camisetas, logos e hashtags das campanhas do observatório ajudaram a promover o debate sobre o racismo. Uma das ações aconteceu na partida entre Bahia e Fluminense, no ano passado, no Maracanã. Nos dois clubes estavam os únicos técnicos negros que atuavam na principal competição do país.

“O Marcão, do Fluminense, e o Roger Machado, do Bahia, usaram a camiseta do observatório. Teve uma repercussão da fala de mais de cinco minutos do Roger falando sobre o racismo estrutural no país. O Marcão também falou sobre a desigualdade naquele dia”, recorda o diretor executivo.

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