Na cidade de Sorocaba, interior do de São Paulo, um homem foi morto com ao menos cinco tiros disparos por agentes da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMSP). A vítima, Reginaldo Antônio Ferreira Jr, de 33 anos, estava de férias com a família quando morreu, no último domingo (5).
Em entrevista à Alma Preta, Cássia Cristina Oliveira de Rezende, mãe da vítima, conta que o filho havia saído de noite para grafitar na companhia de um amigo. África, como era conhecido entre os amigos, teria saído com o celular, documentos e chaves de um carro.
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Cássia revela que ao serem abordados pelos PMs, assustados, os amigos fugiram de carro e foram perseguidos por viaturas. Neste momento, a vítima teria mandado uma mensagem para sua esposa, avisando que seria abordado pela polícia.
“Oi vida. Eu tava no rolê com o moleque aqui e deu ruim, nois tá dando fuga, vida [SIC]”, diz Reginaldo, em meio ao som de sirenes.
A mãe afirma que em dado momento, África teria saído do carro em direção à algum lugar, mas foi atingido pelos disparos.
“Meu filho estava de carona no carro. Entraram no carro e deram fuga”, diz a mãe da vítima. “A polícia estava perseguindo e acho que chamou reforços. No que ele saiu correndo, a testemunha fala que foram segundos e já foi alvejado. Ele não teve tempo de entrar na mata”, acrescenta.
Segundo Cássia, o documento e o celular da vítima não foram encontrados após o crime. A mãe reforça que África não tinha envolvimento com atividades ilegais ou portava algo que motivasse a abordagem fatal. Além de artista urbano, a vítima era pintor, pedreiro e tinha três filhos crianças.
“Eu sei que ele saiu daqui sem arma nenhuma, eu sei que ele não tinha arma […] Ele nunca matou, nunca roubou, isso aí a polícia já viu, sabe que não tem nada disso”, diz Cássia.
Boletim de Ocorrência foi registrado com a versão dos PMS
De acordo com a mãe da vítima, o Boletim de Ocorrência foi registrado sem a participação dos familiares ou a adição dos documentos de saída da Unidade Pré-Hospitalar da Zona Norte de Sorocaba, local para onde a vítima foi encaminhada. Uma nova versão só foi realizada após a interferência da Polícia Civil, retificando as inconsistências na versão declarada pelos PMs.
“Eu só consegui fazer ele [o BO] na quarta-feira (8). Eu até tentei, porque eu queria comunicar que o registro estava errado, ele teve todos os pertences roubados. Queria saber o porquê dele estar sem identificação, do celular dele ter sumido. Ele estava com o celular na cena do crime. E foi a maior burocracia, de delegacia em delegacia, e não queriam registrar de jeito nenhum”, informa Cássia.
O BO com a versão policial, ao qual a Alma Preta teve acesso, foi iniciado no dia 5 de janeiro e finalizado no dia 8 do mesmo mês, três dias após o ocorrido. O registro alega que o homem não estava com documentos de identificação no momento da abordagem. A corporação acusa a vítima de ter disparado previamente contra os agentes, fato contestado pelos familiares.
No BO, consta a apreensão de uma pistola Taurus 380mm, de numeração suprimida, com sete munições, das quais apenas uma teria sido disparada (descrita no documento como “picotada”). Além da arma, o boletim também aponta para a apreensão de uma lata de tinta vazia, uma garrafa pet com tinta, um corante, uma lata de spray e dois pincéis.
O documento de evolução hospitalar emitido pela Unidade Pré-Hospitalar da Zona Norte do Município, local para onde a vítima foi encaminhada, consta que África morreu com perfurações na testa, do lado direito; na parte frontal do pescoço, no lado esquerdo da nádega direita, parte superior da coxa esquerda e nas costas, perto da omoplata.
A reportagem questionou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) sobre a motivação da abordagem policial e a situação dos PMs Alessandro Ferreira, Rafael Cheles e Giuliano Tomazini, envolvidos na atuação, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.