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Homem é perseguido e agredido por funcionário do Carrefour

Funcionário do setor de prevenção de perdas vigiou homem por cerca de 15 minutos; Carrefour lamentou o caso e informou o desligamento do funcionário
Imagem mostra fachada de uma unidade do supermercado Carrefour.

Foto: Wikimedia Commons

19 de junho de 2023

Carlos*, homem de 38 anos, foi seguido e agredido por um funcionário da área de prevenção de vendas do Carrefour, no dia 15 de janeiro de 2022. O crime ocorreu em uma unidade da rede de supermercados do Butantã, zona oeste de São Paulo, e foi registrado no 89º Distrito Policial do Jardim Taboão.

“Eu fiquei me sentindo discriminado, oprimido, chateado, bravo, porque eu tinha acabado de entrar no mercado, eu não estava lá passeando, fui comprar”, conta Carlos depois de toda situação. Apesar de estar com roupas sociais e “bem vestido”, como o próprio se descreveu, o rapaz acredita que o funcionário estava com “maldade”, “procurando alguma coisa”.

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Depois da situação de violência, a vítima relata que não retornou mais ao supermercado, apesar de continuar a morar próximo do local. “Nunca mais entrei ali, nunca mais eu pisei nesse mercado. Eu penso assim: como eu posso corrigir o que eu acho errado, eu não gasto um centavo lá”, explica.

Outro motivo de chateação é o fato de ser conhecido pelos trabalhadores do local há muito tempo, por frequentar o espaço desde pequeno. “Foi isso que me deixou sem reação no momento ali, porque poxa vida, não era a primeira vez que eu estava frequentando aquele lugar, já deviam ter me visto muitas vezes”, acrescenta.

Durante a entrevista à Alma Preta, Carlos recordou já ter trabalhado como vigia em espaços como shopping centers, bancos e mercados. Nesses locais, ele exercia a função de controlador de acesso ou porteiro. “Eu sei como é que se comporta, eu sei como é que tem que ser. Você não pode deixar o seu psicológico passar do limite”, diz.

“Eu nunca tive processo algum, nunca fui transferido, nunca tive problema algum com ninguém, jamais. Da maneira que ele agiu não condiz com o que eu já fiz por muita gente, já fui xingado no shopping, nem por isso eu saí batendo em ninguém, nem por isso eu discriminei, nem por isso eu faltei com educação”, completa.

Leia também: ‘Humilhante’: Após seguranças agredirem casal, Carrefour entrega cestas básicas para vítimas

O que aconteceu?

Frequentador do Carrefour desde a infância, Carlos entrou na unidade para comprar “mistura e alguns legumes”. Como estava de mochila, perguntou aos funcionários do supermercado se poderia entrar com o item ou se precisaria guardá-lo. Ele se recorda que foi dito, de maneira educada, que estava autorizado a entrar com a mochila.

A situação mudou depois de Carlos começar a caminhar pelos corredores a procura dos produtos para o almoço. Ele logo percebeu ser seguido e encarado por um funcionário da área de prevenção de perdas da rede de supermercados. Ele não entendeu o motivo até porque “tem monitoramento, tem câmeras em todos os corredores, não é necessário ficar alguém te seguindo”, explicou.

“O mesmo rapaz que me viu entrar, o mesmo rapaz estava próximo de mim na peixaria e quando eu entrei na fila do açougue, o mesmo rapaz. Me dirigi ao setor de legumes, de frutas e verduras e reparei que tinham duas pessoas me olhando e me seguindo muito descaradamente, mas era muito descarado, como se eu fosse um bicho e eu não gostei, eu me senti mal”, detalha.

Antes de ter certeza de que era seguido, Carlos adotou uma estratégia para confirmar a situação. “Eu parei no meio do corredor, olhei pra eles e chamei um deles, ele não veio, então eu fui até ele e perguntei, onde que fica o setor de laticínios, ele totalmente seco, totalmente sem educação. Quando eu comecei a caminhar olhei pra trás só pra ver qual seria a atitude dele e foi a de começar a me seguir”.

Depois de se irritar com a situação, Carlos foi até o funcionário do Carrefour e pediu para conversar com o gerente da empresa para reclamar do comportamento do funcionário. Os dois então passaram a caminhar, trocaram ofensas, e Carlos agrediu o funcionário do Carrefour com uma cabeçada no nariz.

“Eu errei de ter agredido primeiro. Só que daí pra frente eu senti muito medo, eu senti que eu fui totalmente oprimido, às vezes eu tento colocar as palavras, não consigo, eu fui discriminado, eu fui oprimido, fui agredido”.

Carlos então pegou o celular e começou a gravar tudo. Depois das desavenças com o funcionário do setor de prevenção de perdas, uma série de outros funcionários do Carrefour passaram a rodeá-lo.

A confusão foi separada por outros trabalhadores da rede de supermercados e Carlos saiu da unidade sem fazer a compra. Quando estava fora da unidade, de costas para a saída do Carrefour, ele foi agredido com um chute pelo funcionário da empresa. Carlos então caiu no chão e deixou cair o celular.

“Quando eu passei do caixa, o mesmo rapaz que eu agredi primeiro me agrediu, mas aí ele já tinha tirado o uniforme e todos os os seguranças que estavam à minha volta ainda eram do Carrefour”, recorda.

carrefourcasocarloscorpoCliente do Carrefour há anos, homem filmou violência e teve os dados do celular apagados por gerente do supermercado | Foto: Pedro Borges

De acordo com Carlos, depois da agressão o celular dele caiu no chão e foi pego pelos funcionários da empresa. Ele conta que se levantou rapidamente para se proteger e temeu que fosse agredido pelos demais agentes de prevenção de perdas. “Com certeza eles iam me agredir, já vieram na intenção de me segurar, me imobilizar e sabe-se Deus o que iam fazer comigo”.

Ele conta que o celular ficou na mão do gerente do supermercado e o aparelho celular só foi entregue depois na delegacia, com as configurações resetadas.

Os funcionários do Carrefour impossibilitaram Carlos de chegar até o gerente, que foi isolado, e os agentes de prevenção de perdas então anunciaram que haviam ligado para a polícia. “Eu fiquei com medo, a polícia vai chegar, vão falar que eu bati e estava roubando”.

Carlos estava sem documento e o fato de não ter o RG o fez voltar para casa, para depois ir para a delegacia. “E se esse pessoal me mata, me joga num buraco, pronto, acabou”, afirma.

O vigia então foi para casa, pegou o documento, e foi para a delegacia mais próxima, o 34º DP. Lá, ele diz que quando pediu para registrar um Boletim de Ocorrência foi informado de que deveria comparecer ao 89º DP, para onde foi levado de viatura.

“No 89º DP, quando eu cheguei, o rapaz que me agrediu já estava lá, mas o meu celular não, só estava exatamente eu e ele, mais ninguém”, conta. O B.O então foi registrado pelo funcionário do Carrefour, que agrediu Carlos pelas costas. O caso foi registrado como lesão corporal.

O que diz o Carrefour

O Carrefour, em nota, lamentou o ocorrido e reforçou que “não toleramos nenhum tipo de agressão, violência ou intimidação, por isso, rapidamente agimos, acionando a polícia, além de desligar o colaborador. Ressaltamos ainda que, estamos constantemente atuando para aprimorar nossos processos operacionais. Recentemente a companhia ampliou a exigência das bodycams (câmeras corporais) para os fiscais internos de todas as bandeiras e seguranças terceirizados das áreas externas.”

A rede de supermercados recorda que “o caso relatado é de janeiro de 2022, quando, infelizmente, houve um desentendimento entre cliente e colaborador. O colaborador foi agredido, se exaltou, e revidou. Reforçamos que não toleramos nenhum tipo de agressão, violência ou intimidação, por isso, rapidamente agimos, acionando a polícia, além de desligar o colaborador”.

A empresa de segurança privada responsável pela unidade é a CTS. Questionada sobre os motivos dos profissionais da companhia não terem apartado a confusão, a empresa informou que “cabe esclarecer que o desentendimento entre o cliente e o colaborador ocorreu na área interna da loja e rapidamente houve atuação da gestão do estabelecimento. A nossa atuação (Grupo CTS) se restringi a área externa da loja”. Carlos foi agredido na área externa da loja.

* Carlos é um nome fictício e foi utilizado para preservar a identidade da vítima.

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  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

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