As internações por doença falciforme, ou anemia falciforme, cresceram 47% no Brasil entre 2012 e 2023, atingindo um recorde histórico no último ano, com 14.946 internações. Desses casos, 74,7% são de pessoas negras, que são as mais afetadas pela condição.
A anemia falciforme é uma condição genética hereditária causada por uma mutação no gene da hemoglobina (HbA), resultando na formação da hemoglobina S (HbS), que é recessiva. A doença pode afetar quase todos os órgãos e sistemas, com sintomas aparecendo a partir do primeiro ano de vida e persistindo ao longo da vida.
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O estudo foi realizado por pesquisadores da Cátedra Çarê-IEPS, uma parceria entre o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e o Instituto Çarê, que visa pesquisar e abordar as desigualdades raciais na saúde da população negra
Para Manuel Mahoche, um dos autores da pesquisa, o aumento das internações por essa condição revela a importância de ações de vigilância que focalizam o cuidado em saúde da população negra.
“O aumento das internações pode revelar falhas críticas no sistema de saúde, como a falta de diagnóstico precoce e de atenção especializada. Por isso, é imperativo que as ações de vigilância e políticas de saúde sejam direcionadas de forma eficaz para a população, de modo a prevenir complicações graves e reduzir a necessidade de hospitalizações”, afirma o pesquisador da Cátedra Çarê-IEPS.
Internações de pessoas negras é quase 3 vezes maior
Em números absolutos, a média mensal de internações da população negra é quase três vezes maior do que a da população branca, com 571 e 193 internações, respectivamente. Segundo o boletim, a diferença é, de certa forma, esperada, pois é amplamente conhecido que a condição genética da doença afeta mais a população negra.
O boletim também destaca que a média mensal de mortes da população negra por doença falciforme é 4,8 vezes maior. Enquanto a população negra possui uma média de 30,4 óbitos por mil habitantes, a da população branca é de 6,28 óbitos.
A pesquisa ainda revela que aproximadamente 50% das internações por doença falciforme no Brasil são de crianças e adolescentes de até 14 anos. Destes, 21,6% são entre crianças de 0 a 4 anos, 15,2% entre 5 e 9 anos e 12,2% entre 10 e 14.
Diante do resultado, os especialistas afirmam que os resultados de internações e mortalidade por doença falciforme reforçam a necessidade de políticas para reduzir as desigualdades raciais e ampliar o acesso aos cuidados de saúde tanto para tratamento, quanto para monitoramento e vigilância da doença.
Altair Lira, coordenador da área científica saúde da população negra da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN) e um dos autores do boletim, reforça a importância da pesquisa neste cenário.
“Este boletim foi elaborado em um momento significativo, quando o Ministério da Saúde regulamenta a notificação compulsória para a doença falciforme e quando o foco na atenção integral às pessoas com a doença estabelece-se como ponto crucial no enfrentamento do racismo na saúde. É um passo que coloca a pessoa com a doença como centro do cuidado”, explicou.
Confira o estudo completo no site do Instituto de Estudo para Políticas de Saúde (IEPS)