O diretor de redação da Alma Preta, Pedro Borges, registrou nesta sexta-feira (6) um Boletim de Ocorrência (BO) por ser vítima de ataques racistas nas redes sociais. Usuários atacaram o jornalista depois de sua participação na bancada que entrevistou o influenciador e empresário Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo, no Roda Viva, da TV Cultura, na noite da última segunda-feira (2).
Entre os ataques direcionados ao profissional de imprensa, estão insultos ao seu cabelo black. “Ninho de cobra, ninho de rato e bombril”, dizem alguns agressores.
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O caso foi registrado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) como injúria racial, crime previsto em lei, com pena de dois a cinco anos de reclusão e multa.
O que aconteceu?
Durante a entrevista, Borges questionou Marçal sobre as acusações contra o também candidato Guilherme Boulos (PSOL) por uso de drogas, e abordou a familiaridade do influenciador com a cultura Hip-Hop, um dos pilares da cultura negra. Esta última, em particular, viralizou nas redes sociais após Marçal optar por cantar um trecho de “Diário de um Detento”, dos Racionais MC’s.
“O babaca só porque usa um cabelo ridículo tenta dar a entender que a pauta ridícula do Hip-Hop pertence a ele. Seria bom mesmo pois o barulho é ridículo, mas infelizmente muito troxa repete essa idiotice. Acho que deu pra entender”, diz uma das mensagens direcionadas a Borges nas redes sociais.
“Só eu reparei no penteado do sujeito? Mas que [emoji “cocô”] é essa? Na quinta série dizíamos que era “ninho de cobra, ninho de rato, bom bril”. Detalhe: ninguém precisava de terapia, ninguém se matava, só precisava de um barbeiro. É o que o perguntador precisa”, alega outro internauta. “Esquerdista noiado, só passa vergonha, vai cortar essa juba seu esquerdista noiado…”, escreveu outro perfil.
Os ataques também aconteceram de forma direta no Instagram. “O lixo de repórter de peruca está passando vergonha até agora!!! Seu esquerdista comprado, vagabundo lixooooo”, proferiu um usuário nas mensagens privadas.
Pedro Borges lamenta os ataques racistas
Diante dos ataques, o jornalista apontou que “o debate democrático permite que as pessoas façam as suas colocações e questionem o trabalho de um jornalista, assim como o trabalho de um candidato ou entrevistador”.
“A gente faz as nossas perguntas e colocações a partir daquilo que a gente tem de informação, checada, informação pública e tudo mais. Agora, existe um limite, e o limite é quando essas ofensas vão partir para um outra esfera”, pontuou.
Pedro Borges relatou que foram encontrados diversos comentários de ordem racista, o que para o profissional é “inadmissível”. Ele também reforçou que atitudes como essa não podem ocorrer em espaços democráticos, que devem ser utilizados apenas para discussões políticas.
“É lamentável, e infelizmente está em encontro com o período, com o momento que estamos vivendo no Brasil, em que as pessoas tem se sentido muito à vontade para fazer ataques dessa ordem”, alertou o jornalista.
Procurada, a assessoria do candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal, lamentou os ataques racistas. O candidato entrou em contato com o jornalista para se solidarizar diante das ofensas.