Marcos Vinícius de Souza Santos, jovem de 19 anos, ficou mais de uma hora na 3ª delegacia de polícia de Diadema, na manhã de segunda-feira (16), com a sua mãe e sua advogada, para atender à convocação de esclarecimento feita por dois delegados.
O rapaz afirma ter sido torturado na delegacia, no mês de fevereiro, para confessar um crime que não cometeu. Ontem, ele chegou a passar mal por estar novamente no local, segundo sua advogada Michele Magarotto.
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“Na verdade, eles não queriam fazer um esclarecimento do caso. Eles queriam fazer um reconhecimento presencial, porque na época do crime, o Marcos Vinícius foi reconhecido apenas por fotografia. No entanto, a polícia não conseguiu localizar a vítima. Ficamos lá das 10h às 11h”, diz a advogada.
O reconhecimento presencial deve ser remarcado para outra data pela Polícia Civil, porém a advogada pretende entrar com um pedido judicial para que não sejam mais necessária nenhuma apuração ou ida à delegacia.
O jovem, que sofre de deficiência intelectual e tem idade mental que pode ser equiparada a de uma criança de oito anos, passa mal sempre que lembra da sessão de tortura pela qual foi submetido. Para não ter convulsões epilépticas, Marcos Vinícius precisa tomar uma medicação específica a cada 12 horas.
A acusação de receptação de um celular roubado junto com um aliança e R$20 fez com que ele passasse 21 dias na prisão. O celular que estava com o rapaz no dia da prisão foi comprado pela família dele que, inclusive, tem a nota fiscal. Segundo sua advogada, uma verificação de reconhecimento presencial na delegacia não faz sentido depois de tanto tempo.
“Fiz uma manifestação à Justiça para evitar este tipo de transtorno. O Vinícius tem problemas neurológicos e não tem essa memória de tanto tempo atrás. Queremos que qualquer medida a ser tomada, que seja em juízo e não na delegacia, até porque ele tem trauma. Foi lá que ele foi torturado e agredido. Só de estar lá na porta, ele não estava bem”, pontua Michele.
Além de ficar preso na delegacia, o jovem também ficou preso no Centro de Detenção Provisória do Belém, na zona Leste de São Paulo, sem poder ver os parentes. Ele foi solto, para aguardar o julgamento em liberdade, no dia 24 de fevereiro.
“Poucos dias depois do crime, a vítima foi até o Ministério Público e refez o depoimento dizendo que não tinha como reconhecer ninguém porque ficou nervoso na hora e houve uso de arma. Então como é que agora, seis meses depois, ele vai poder reconhecer alguém?”, indaga a advogada.
Em nota à Alma Preta Jornalismo, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que “O 3° DP de Diadema instaurou inquérito policial para apurar a procedência de um aparelho celular apreendido na ocasião”. Por isso, de acordo com a nota da SSP, “todas as partes citadas na ocorrência serão ouvidas novamente”.